Klatu: soando como um disco dos anos 1960 ou 1970
Resenha - Em Busca do Rock Infinito - Klatu
Por Pedro Zambarda de Araújo
Postado em 20 de fevereiro de 2009
Muitos jovens, desde quando a música pop mudou com o nascimento do rock´n´roll, ficaram presos a estilos, determinadas sonoridades e atitudes em palco de seus ídolos. Os anos 1990 trouxeram uma avalanche de bandas independentes que, indo contra a corrente, misturou influências diversas e tendências já consolidadas.
Uma dupla de músicos paulistanos, o contrabaixista Leco Peres e a vocalista Carol Arantes, pode ser rotulada como "músicos independentes", assim como a onda que persiste no cenário atual da indústria. No entanto, sua proposta com a banda Klatu e seu álbum de estréia, "Em Busca do Rock Infinito", não é simplesmente ir contra as grandes gravadoras. O grande propósito da "festa de amigos", conforme o próprio Leco explica no encarte do CD, é mostrar a diversidade e a integração das diversas vertentes do rock. Esse objetivo é muito mais nobre do que simplesmente transpor barreiras comerciais.
Klatu consegue captar o "rock infinito", sem nenhum limite em sua expressão? Isso depende da interpretação que cada pessoa pode dar para suas nove faixas no material de estréia. No entanto, algumas pistas estão nítidas nos próprios artistas envolvidos com o projeto, vindos de inúmeras vertentes e conjuntos musicais. Rodrigo Hid, da banda Pedra e ex-Patrulha do Espaço, dá conta de todos os sintetizadores, teclados, pianos, vilões e até as guitarras-base das músicas, com uma participação cuidadosa e esforçada no CD. Junior Muelas, da banda Estação da Luz, e Fernando Minchillo dividem a bateria em músicas diferentes, enquanto Roby Pontes complementa com a sua percussão. Já as guitarras, além de Hid, os vários solos foram gravados por músicos como Marcião Soul, do Mizzytrio, Xande, do famoso grupo Baranga, e Vicente Carrari. Nos vocais de apoio, Lu Vitaliano, do Made in Brazil, Pati Nascimento, do Grupo Virtude, e o próprio Leco Peres cooperam com Carol Arantes. Há a participação até do saxofonista Guilherme Magalhães, do Bloody Bastards. Ufa, é realmente uma diversidade abundante no material.
E as músicas? "Teoria e Prática do Rock Infinito" sintetiza as idéias da banda idealizadas por Leco e o vocal contagiante de Carol. "Ouça o som que estamos fazendo" abre a letra já convidando aqueles que não possuem familiaridade com a banda Klatu. O solo de guitarra é feito na pausa certa, lembrando muito o Pink Floyd e seus bends "atmosféricos". A segunda música, "Nunca é Tarde", é idêntica aos grandes hits da banda Mutantes em seus primeiros CDs, dando ênfase aos vocais de Carol Arantes e um violão que faz um acompanhamento cativante.
Com uma intenção diferente das outras composições, mas ainda no contexto do CD, a terceira faixa, "Mais 8 e 80", parece fazer uma crítica ao comércio musical que se ampliou nos anos 1980. As letras refletem o contexto da juventude dos integrantes da banda, Leco e Carol, proclamando que o período foi uma "década perdida". Já a quarta música, "Kuarta Dimensão", dá um tom de fuga ao som da banda, com um groove envolvente em todo o instrumental.
"Opus 67 in J bemol paranoium", cantada por Leco Peres, traduz o mal-estar do brasileiro e do mundo contemporâneo com as tensões produzidas pela mídia e pela depressão das pessoas. Foi inspirada, em muitos trechos da letra, na faixa "Para-Nóia" de Raul Seixas. Essa temática sócio-econômica é interrompida na sexta faixa, "Zé Eurico". Nela, Klatu traduz a desconstrução da música, falando sobre um homem que fica "mudo" no refrão de suas músicas, deixando livre a criação do público sobre a música.
A última música do CD, "Vai Acabar", retoma às críticas do "Opus 67" e leva a temática do aquecimento global e dos abusos da vida urbanizada com o planeta. É indiscutível que, independente do gosto da pessoa que for ouvir essa faixa, o quanto ela é direta em sua crítica: "A rotina, o desperdício, não se pára pra pensar / Os recursos em extinção, só destruição / Não é justo comigo! / Começou e eu nem tinha nascido...". A faixa é tão rica que, nos extras, ela é regravada, com um instrumental mais caótico de fundo.
O último bônus do CD é uma música da banda anterior de Carol Arantes e Leco Peres, Molho Inglês, repleto de groove, funk e rock mais cru. Demo de 2001, a música foi inteiramente remixada para ser colocada no álbum.
O saldo final da audição do primeiro material de Klatu é que a banda realmente é ousada em propor um rock que, muito além de não possuir rótulo, busca a essência mais ampla dessa música. A riqueza do repertório dos músicos na execução das faixas facilmente encaixa o grupo no rótulo de progressivo, mas a intenção deles não é meramente exibir conhecimento e sim fazer uma união diversa em composições que façam o ouvinte refletir.
Para os internautas, Klatu disponibilizou seu material em seu canal do Myspace.
No entanto, esse "rock infinito", assim como é interminável, é imensurável. Carol e Leco devem, para chegar mais próximos dessa eternidade, criar mais trabalhos diversos com músicos ainda mais distintos. "Em Busca do Rock Infinito" ainda soa como um disco dos anos 1960 ou 1970 (lembrando muito Mutantes) com algumas letras exclusivas da atualidade. Klatu deve, e pode, inclusive, aproveitar essa brecha para lançar um material com influencias de outros rótulos e vertentes. O que interessa é que a mistura nunca acabe.
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