Scorpions: retrospectiva de toda a carreira em DVD
Resenha - Live At Wacken Open Air 2006 - Scorpions
Por Ricardo Seelig
Postado em 06 de abril de 2008
Nota: 10
Grupos veteranos como o Scorpions não têm vida fácil. Além de precisar compor e lançar álbuns inéditos de tempos em tempos, em uma prova constante de que ainda estão vivos artisticamente, precisam encarar a concorrência de centenas de novos grupos, bandas essas muito mais próximas do público jovem atual do que os alemães. O que fazer para conquistar novos fãs então? Uma boa resposta é lançar DVDs como esse "Live At Wacken Open Air 2006 – A Night To Remember, A Journey Through Time".
Gravado em casa, no tradicional festival alemão, o DVD cumpre o que o seu subtítulo promete: uma viagem pelo tempo, pelas diversas fases da carreira do grupo, com direito a participações mais que especiais dos lendários guitarristas Uli Jon Roth e Michael Schenker, além do baterista Herman Rarebell.
Com o público na mão desde o início do show, Klaus Meine, Rudolph Schenker, Mathias Jabs e companhia esbanjam experiência e competência. Amparados por um set list muito bem montado, o grupo já entra de forma bombástica com "Coming Home", antecedida por uma espetacular introdução. E daí é só clássico atrás de clássico. "Bad Boys Running Wild" não envelheceu com o tempo. "The Zoo" mantém seu carisma mesmo passados mais de vinte anos desde o seu lançamento. Aliás, nessa música ocorre o primeiro grande momento do show, com um solo antológico de Jabs. Quem viveu os anos oitenta sentirá arrepios até nos já não tão presentes cabelos…
Uli Jon Roth é chamado ao palco para executar três canções com a banda, "Pictured Life" do álbum "Virgin Killer" de 1976, "Speedy´s Coming" de "Fly To The Rainbow" de 1974 e "We´ll Burn The Sky" de "Taken By Force" de 1977. O guitarrista é aclamado pelo público, como esperado, mas o que chama a atenção é a absoluta reverência com que os integrantes do Scorpions se comportam ao seu lado, reconhecendo sua genialidade e admitindo que ele está alguns degraus acima de todos eles. E é só Roth começar a tocar os primeiros acordes de "Pictured Life" para ficar claro o porque dessa atitude. Com uma postura totalmente zen, Uli executa trechos intricadíssimos como se estivesse fazendo a coisa mais natural do mundo, e, mais importante, com uma imensa expressão de satisfação no rosto. Assisti-lo é algo que beira o transcedental, e tal expressão não é um exagero. Dentre as três músicas executadas, "We´ll Burn The Sky" se destaca, com Roth comandando o Scorpions em uma performance primorosa.
Os alemães voltam com sua formação atual e executam três composições, "Love´em or Leave´em", "Don´t Believe Her" e "Tease Me Please Me", para logo chamarem o outro convidado especial para o palco. Assistir Michael Schenker tocando ao lado de seu irmão Rudolph emociona. O temperamental guitarrista, que virou mito do instrumento durante sua passagem pelo UFO na década de 70, surge sorridente mandando ver a instrumental "Coast To Coast", uma das mais emblemáticas faixas dos alemães. Com uma postura contida, Michael comporta-se de forma tímida no palco, tocando com a técnica habitual, mas parecendo querer fugir dos holofotes.
Um momento emocionante é a execução da bela "Holyday", do álbum "Lovedrive" de 1978, com os irmãos Schenker se complementando nas passagens acústicas da canção. Michael Schenker ainda executa "Lovedrive" e "Another Piece Of Meat" com o Scorpions, antes de sair do palco devidamente ovacionado.
Após um breve solo de bateria de James Kottak, o vetereno Herman Rarebell, baterista da fase áurea da banda durante os anos 80, dá início a "Blackout". Dos três convidados especiais é aquele onde a passagem do tempo está mais marcante. Com um visual que lembra aquele seu simpático tio que é alegria dos almoços familiares de domingo, Rarebell toca ainda "No One Like You" com o grupo, e fica evidente que, apesar de não comprometer em nenhum momento, Kottak é muito mais baterista que o veterano Herman, imprimindo muito mais energia e técnica à música do grupo alemão.
A parte final do show é marcada pelos clássicos "Big City Nights", "Can´t Ger Enough" e pela inevitável "Still Loving You". Mas ainda faltava uma surpresa, e ela vem com Uli Jon Roth e Michael Schenker retornando ao palco para tocar a mais do que clássica "In Trance". Putz, que música! Com Uli comandando o grupo musicalmente, as quatro guitarras soam impecáveis, com Roth, Jabs, Rudolph e Michael esbanjando feeling e experiência. O solo de Uli Jon Roth é um destaque à parte, assim como a dobradinha que faz com Mathias Jabs em determinado momento da música.
Encerrando as participações especiais, Roth puxa uma versão do "Bolero" de Ravel, onde fica evidente o seu talento acima da média. Essa música conta também com a participação do jovem Tyson Schenker na guitarra (não sei se ele é filho do Rudolph ou do Michael, então me ajudem), mostrando que a dinastia dos Schenker ainda nos dará mais frutos. A faixa conta também com uma performance inusitada de Rudolph Schenker, que larga a sua guitarra e faz alongamentos de yoga em pleno palco! Só assistindo para entender o que eu estou falando …
Encerrando o vídeo, como não poderia deixar de ser, a banda toca "Rock You Like A Hurricane", mas desta vez acompanhada de um cyber-escorpião totalmente mecânico, em um efeito visual muito legal.
Individualmente, além dos convidados especiais, os destaque vão para Mathias Jabs, que está tocando como nunca; para Rudolph Schenker, que além de ser um dos melhores guitarristas bases do mundo agita sem parar durante todo o show; e para o baterista James Kottak, que esbanja energia, técnica e carisma. Klaus Meine já não tem a mesma energia do passado, mas ainda possui um alcance e uma técnica vocais invejáveis, enquanto o baixista Pawel Maciwoda cumpre bem a sua função.
"Live At Wacken Open Air 2006" é um DVD excelente, uma das melhores opções disponíveis para quem gosta de assistir a um bom show de rock confortavelmente em sua casa. E, além disso, faz uma retrospectiva de toda a carreira de uma das maiores bandas alemãs de todos os tempos, com direito a participações especiais de alguns de seus mais marcantes protagonistas.
Por tudo isso, dar outra nota que não um DEZ para esse DVD seria um equívoco.
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