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Resenha - Nothing Is Easy: Live At The Isle Of Wight - Jethro Tull

Por Maurício Gomes Angelo
Postado em 25 de maio de 2005

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

A primeira preocupação que me veio à mente ao fazer o review de um álbum desse tipo é: "como vou transformar em palavras uma atuação dessa magnitude?" E quando você se dá conta que a musicalidade, a interpretação e a potência deste Jethro Tull ao vivo é simplesmente inefável só lhe resta dar uma gostosa gargalhada e prosseguir o trabalho sem maiores preocupações.

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É fácil distinguir excelentes bandas de gênios da música: os gênios são aqueles que fazem você ter plena certeza de que são os melhores do mundo naquele momento, que monopolizam seus sentidos e sua atenção de forma tão avassaladora que sua mente fica impregnada indestrutivelmente da superioridade daquele conjunto. E isto o Tull faz de modo deveras eficaz, juntando-se ao panteão de "intocáveis" da época: eles, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, The Who, Pink Floyd, Ten Years After, dentre outros. Todos com esta qualidade singular que os permite serem mencionados sob a alcunha de gênios.

O tradicionalíssimo festival da Ilha de Wight, continha em sua edição de 1970 grandes feras da música (Jimi Hendrix, The Who, Moody Blues...), e entre estes o Tull já estava na vanguarda, mesmo com apenas três anos de estrada e três álbuns lançados (época boa essa) – "This Was" de 68, "Stand Up" de 69 e o recém saído "Benefit" de 70. Deixando o mundo a seus pés em virtude da originalidade e intensidade de suas composições e claro, ao fator chave que era a bombástica presença da flauta transversal de Ian Anderson.

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E o próprio adverte no encarte deste cd que não há rock progressivo aqui, apenas o frenético e entusiástico rugido dos instrumentos. Simplismo à parte, é verdade que a energia do álbum é extremamente visceral e nada aqui é prolixo. Naturalidade, espontaneidade, técnica, competência, peso, mágica...tudo conjugado numa apresentação absolutamente orgástica.

O começo fulgurante com "My Sunday Feeling" abre espaço para a primeira aparição de "My God", vindo ao mundo de forma inédita no festival e que estaria somente na masterpiece "Aqualung", lançada um ano depois. "With You There To Help Me" vira todos os holofotes para o monstro John Evan, fazendo barbaridades com seu instrumento. E durante "To Cry You A Song" entendemos perfeitamente porquê os shows de rock eram chamados nesta época de concertos: a sinfonia divinal de guitarras distorcidas aliada à completa simbiose dos músicos a seus instrumentos, tudo numa entrega total ao espetáculo e impregnado da alma de cada um, ajudados por um período histórico único para a música pesada acabava originando composições transcendentais como esta e a bem da verdade, como todas desta bolachinha.

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"Bourée", música de J.S. Bach re-arranjada por Anderson, contém todo o delírio sensitivo que você puder imaginar de um gênio interpretando outro.

"Dharma For One" apresenta Clive Bunker em um solo de bateria fe-no-me-nal, que não é mero exercício atlético, mas tem sentimento, contexto, completude e razão de existir, ele é a expressão natural do êxtase provocado pela composição executada.

O final com "Nothing Is Easy" e o medley de "We Used To Know"/"For A Thousand Mothers" é a celebração última da mistura sublime de folk, rock e blues destes ingleses, além de ser o clímax do concerto.

O momento estava tão propício e inspirado que o Jethro Tull iria lançar, apenas durante a década de 70, no mínimo 8 obras primas do rock (basta conferir a discografia para corroborar esta afirmação).

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"Live At The Isle Of Wight" faz-me querer quebrar o protocolo, dar uma nota acima de 10 seria perfeitamente cabível, mas isto torna-se desnecessário ao perceber que estamos lidando com deuses do rock n' roll. Tanto meu lado fã quanto meu lado crítico (que se completam numa simbiose harmoniosa e consciente) dizem-me que este álbum é um pouquinho além de histórico e perfeito. Que bom que assim seja, posso dormir tranqüilo, sem medo de cometer excessos. E acreditem meus amigos, sonhar com as levadas surreais de Ian Anderson não é nada mal! Comprem, porque momentos como esse são indubitavelmente impagáveis.

Um dos melhores ao vivo de todos os tempos.

Formação:
Ian Anderson (Vocal/Flauta/Violão Acústico)
Martin Barre (Guitarra)
Glen Cornick (Baixo)
Clive Bunker (Bateria)
John Evan (Teclado)

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Site Oficial: http://www.j-tull.com

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Sobre Maurício Gomes Angelo

Jornalista. Escreve sobre cultura pop (e não pop), política, economia, literatura e artigos em várias áreas desde 2003. Fundador da Revista Movin' Up (www.revistamovinup.com) e da revrbr (www.revrbr.com), agência de comunicação digital. Começou a escrever para o Whiplash! em 2004 e passou também pela revista Roadie Crew.
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