Resenha - Glorious Burden - Iced Earth
Por Leandro Testa
Postado em 11 de dezembro de 2003
Sabe quando você respira aliviado depois de um ofego susto? Bem, talvez esse tenha sido o sentimento geral quando se soube que o substituto do ícone Matthew Barlow não seria qualquer zé-mané escolhido num país deficitário de novos talentos ainda a respirar o "velho" metal. Tal grande surpresa intensificou a reflexão de que algo precisava mudar, ainda mais depois do controverso Horror Show, e se tinha que ser a voz.... que fosse! (pois se dependesse das bases... ah, deixa pra lá).
Os três trechos disponibilizados na Internet pouco revelavam como fora a performance de Tim Owens (Winters Bane, Judas Priest) e até o encerramento de outubro o mistério continuava, quando foi lançado o primeiro e único single deles até hoje, chamado "The Reckoning" (aquele da capa homenageando "The Trooper" do Iron Maiden). Tal peça central serve de elo à recente história da banda, ou seja, mantém algo de característico permitindo identificar perfeitamente quem está tocando, e na qual o moço "solta o verbo". Destaco, porém, nesse compacto, a linha praticada na inspirada "Valley Forge" e ainda assim sobrariam duas... hummm, baladas...
A simpática arroz com feijão (e ao mesmo tempo descartável) "Hollow Man", de conteúdo lírico ‘nota 2’, e "When the Eagle Cries" (a do tristonho clipe referente 11 de setembro, em sua versão acústica que pouco difere da "original"). Em seus desenrolares, o respectivo título fica sendo incessantemente repetido, e ambas compartilham o mesmo obstáculo de muitas partes do CD, agora que a obra completa está prestes a invadir as lojas: a lembrança do ex-frontman, que cativava, ajudou a criar um legado, e essas músicas tem simplesmente a sua cara, feitas pra ele arregaçar.
Parece que contradigo o que escrevi no início, mas escutar o instrumental nos faz imediatamente associá-lo ao seu timbre e potência. Não deixa escapatória. Mesmo sem vontade ou com a cabeça na lua, como foram relatadas as suas gravações, ele faria várias soarem tão fortes quanto os resultados ora obtidos. Ainda assim, em termos gerais, "Declaration Day" começa trazendo uma grata proposta; há também as passagens mais rápidas de "Attila" (o Huno) e no outro extremo, fechando o que chamo de ‘lado A’, "Waterloo" - sobre Napoleão - que acaba no topo da colina entre "sobes" e "desces"...
Se você chegou até aqui, logo irá entender o porquê seria melhor ter rolado o disco na ordem contrária. Trata-se de merecidos 32 minutos de bom gosto, na estupenda canção "Gettysburg (1863)", intensa, mais uma das que, em sua concepção, absorve a máxima atenção dos envolvidos e se sobressai a todo o restante do material. Caraca!!! Agora sim, compre esse trem!
Nela poderão ser identificados o hino Civil War, a Filarmônica de Praga, os tiros de canhões e tilintar de espadas, dividida em seções que representam eventos específicos da batalha. E a criação não para por aí! Alimentará um DVD, que inclui seu ‘making of’, animações, um documentário sobre o conflito e duas mixagens alternativas de si, uma mais teatralizada, e outra a agradar o ‘headbanger’.
Isso me intriga, aliás: irão os fãs se render a tal face épica que guia praticamente todo esse The Glorious Burden, o mais leve da sua carreira? Ou irão se escorar em "Greenface", um plágio nada engraçado de "Symphony of Destruction" (Megadeth)? [o nome cai bem, mas a piada não...]; Ou ainda crer nos momentos velozes no arranjo de "Red Baron/Blue Max", os que se salvam em contraponto aos gritinhos mal encaixados que foram entregues prontos no ‘script’ e pela segunda vez insistem em surgir?
Não vou mirar o dardo nas mãos de um recém-chegado, afinal, nem do grupo ele era, e sim apenas um convidado (US$) esforçado. Ou vão me dizer que o competente e descontraído ‘The Ripper’ se preparou apenas cinco dias para registrar com gana o magnífico Jugulator? Conhecem por aí um tal de Live Meltdown em que ele parece inumano?
Mas tá OK. O futuro reserva à trupe uma frase: "Meu filho, pra que a pressa???". Agora com ele efetivado, e entrosamento, ótimos frutos virão da mente desta dupla de compositores, que doravante passarão a pensar juntas, quebrando finalmente o monopólio do líder e guitarrista Jon. Com certeza não falarão sobre a visão dos milhões de famílias mortas pelas tropas yankees, nem das torturas nessa vergonha de ditadura militar, implantada décadas atrás no Brasil pelos "donos do mundo", contudo... quanto ao presente, o "cabeça" dessa vez recriou sua adoração pelo trágico tema apresentando das guerras em diversas localidades além continente (focando os USA, no entanto), alegando este ser também didático aos adolescentes que não aprendem "Estudos Sociais" pelas vias normais. Sujeitinho patriota e prestativo esse Schaffer...
Mas, letras aparte, a esperança continua grande e inabalada. Só sei que não mais confiarei em uma só palavra que esse mano empolgado disser. Fora estar morrendo de alegria pelo novo parceiro, otimista como nunca, e enchendo a bola, afirmou que este seria seu melhor petardo, seguindo passos do Stormrider e Something Wicked (os mais vendidos), com lances pesadíssimos e outros bastante emocionais. Talvez nesse último adjetivo ele tenha acertado e pode ser que só os norte-americanos o entendam... Ou pelo menos, se é que existe algo porrada (fica até estranho mencionar que dois integrantes do Death trabalharam em algo assim melodioso), deve ter sobrado para o Demons & Wizards, projeto que ele tem a pachorra de continuar em meio a tantos problemas (apostando no seu taco atual, conturbado, não suficientemente criativo), mesmo sem fazer bonito no "tira-gosto sem gosto" de certas passagens, a começar pelo hino nacional, que em inúmeros casos (salvo os a favor supracitados) furta-se a abrir-alas para a gigante epopéia narrada no ‘gran-finale’.
E caso não concorde com uma vírgula do que eu redigi, tomara, de fato, que o leitor não acompanhe os ‘Ice Devils’ desde 1998. Não será seu favorito, tampouco passará de "legal" ou "razoável". Como Shakespeare usou: "Much Ado About Nothing" (POR ENQUANTO...)
Website oficial: www.icedearth.com
Lançamento em 12 de janeiro
Formação:
Jon Schaffer - Guitarras-base, backing vocals
Tim ‘The Ripper’ Owens - Vocais
Richard Christy - Bateria
Ralph Santolla - Lead Guitar
James McDonough - Baixo
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