Resenha - Expanding Senses - Darkane
Por Leandro Testa
Postado em 11 de dezembro de 2002
Nota: 10
Logo que o baterista original do Arch Enemy deu cabo de alguns problemas particulares e os irmãos Amott resolveram reintegrá-lo ao banquinho do qual Peter Wildoer fazia uso, este, que desde o início cogitava ter ali um papel passageiro, partiu com um enorme acréscimo no currículo, pois acabara de trabalhar com nomes respeitadíssimos no cenário mundial. Agregado a isso, ele e um companheiro de longa data, o guitarrista Christofer Malmström, já andavam meio cabisbaixos com o Agregator, banda que mantinham há quase sete anos, dentre os quais, teve como terrível vilã a má distribuição de seus dois discos. Nos primórdios, executavam um Death Metal básico, mas, com o passar do tempo, ele se tornava progressivamente mais complexo à medida que todos evoluíam como músicos. Em determinado momento, contudo, já não tinham mais como se aprimorar, e se viam numa sinuca-de-bico com o seguimento optado, o que lhes fez recomeçar com um som mais direto, não antes de sacar o vocalista que visava a algo voltado para o industrial. O baixista Jörgen Löfberg, que, por sua vez, prontamente reforçou o conjunto do qual Klas Ideberg era guitarrista, acabou o arrastando assim que recebeu uma proposta de novamente juntar forças, agora sob o epíteto Darkane, derivado da justaposição entre as palavras "dark" (escuro, escuridão, em português) e "arcane" (misterioso, oculto – que foi a primeira tentativa de nomeá-la, porém já em uso por outra detentora na ocasião). Imediatamente no mês seguinte gravaram duas faixas destinadas a uma compilação da War Music, que os contrataria em seguida, nas quais assumiria o microfone nada menos que Björn "Speed" Strid, sujeito deveras conhecido para quem curte o grandioso Soilwork.
Desde então, o jovem grupo vem em surpreendente ascensão: depois de uma estréia retumbante, magnífica, estupenda em 1999 com Rusted Angel, a War Music afirmou não ter condições de bancar a promoção para um segundo álbum, assim, os suecos juntaram algumas músicas novas num CD-R e saíram distribuindo para uma série de gravadoras, das quais optaram assinar com a Nuclear Blast. Fatores de distância, bem como da escassez de tempo com que o vocalista Lawrence Mackrory se defrontava, impossibilitaram sua permanência na banda, entretanto, a tarefa de se encontrar um substituto não foi nada árdua, pois Andreas Sydow, integrante duma banda de covers da qual Christofer fazia parte, imediatamente foi recrutado. Estabilizada a formação, começaram as problemáticas gravações de Insanity (assaz ‘sui generis’ esse título, não?), lançamento que lhes deu grande notoriedade, pois foi bastante aclamado pela imprensa especializada, e já trazia algumas mudanças na sonoridade, tal qual uma maior velocidade, e com ela novos fãs, desapontando, porém, alguns dos mais antigos, visto que se distanciava um pouco do Death/Thrash de antes, para investir bastante neste segundo termo, com a inclusão de idéias futuristas, o que a banda denominou "Modern Futuristic Thrash Oriented Metal" (ou Thrash do novo milênio) com certas influências e melodias de Death.
Não obstante, com a vinda de Expanding Senses, o que se ouve é muito mais um retorno às origens com resquícios de sua segunda empreitada, algo bem definido pela biografia do website oficial: "O resultado é uma mistura entre o peso do primeiro disco, Rusted Angel, e o som moderno de seu sucessor, Insanity". Podes crê (!) e ele os apresenta expandindo sentidos, ainda mais profissionais, aprendendo com alguns de seus deslizes, a despeito da grande prosperidade da última investida.
A primeira faixa, "Innocence Gone", lembra-me um pouco o Testament devido à linha vocal a la Chuck Billy, e difunde uma mensagem importante, para evitar que os fãs se tornem porcos asquerosos que permitem o incesto em suas casas. O vídeo-clipe disponível para download no endereço www.darkane.com retrata um pouco disso, e talvez, apesar de sua seriedade, será responsável por uma divulgação muito benvinda, já que inúmeros seguidores do estilo desconhecem a qualidade desta trupe, mesmo que a faixa em questão tenha uma sonoridade um pouco diferente da proposta seguida pelo Darkane, sempre mais acelerada e agressiva.
Como de praxe, a segunda música dá maior brutalidade ao início do CD, e "Solitary Confinement" apresenta nuanças vocais bem encaixadas, variando do podrão/gutural do início, passando pelo rasgado, sem nenhuma dó, para desembocar no timbre normal e um tanto incomum de Andreas. A situação se repete e isso dá a tônica em relação ao trabalho anterior, pois ofuscado por um certo experimentalismo e pela tentativa de se aproximar ao parâmetro vocal do Rusted Angel, Sydow cometera alguns abusos, corrigidos aqui, por se apresentar mais comedido, sabendo explorar bem o dom que lhe foi concedido, passando de coadjuvante à frente deste elenco. Aliás, este muito provavelmente é o primeiro disco com uma atenção especial aos vocais, pois lá, quando tudo começou, a banda já havia escutado algumas fitas de Lawrence Mackrory, todavia, somente o foram conhecer no estúdio, depois de terem-no contatado para gravar o ‘debut’. Ou seja, até então muitas das músicas sequer tinham sido ensaiadas com vocal, o que já impressiona pelos excelentes resultados finais, ainda que vez ou outra ele seguisse uma linha mais retilínea. Já no caso do seu sucessor, uma certa particularidade deixaria descrente a mais crédula das almas terrestres, pois o moço nunca na vida cantara Thrash, e a performance deste apenas não seria uma grata surpresa para quem desconhecesse tal informação. Assim, a veia de Death Metal Melódico, que desde sempre vinha florescendo, se mostra bem mais eficiente desta feita, talvez pela constância de passagens mais limpas que acrescentam muito à obra, como se evidencia na repetição do refrão de "Fatal Impact", faixa seguinte dona de um solo memorável e peso absurdo, fatores dos quais se tirou muito proveito em tudo que é canto do CD. Mas, peraí... o melhor está de tocaia, e não tarda a atacar: esses treze minutos e meio passados foram somente uma parte introdutória do que se segue, pois é impossível definir adjetivos sob medida e exprimir em palavras a sensação de escutar a tríade "Imaginary Entity", "Violence from Within" (outro nome bem propício) e "The Fear of One’s Self". Prefiro não abaixar o nível e usar outros tipos de opções verbais para classificar tamanhas pauladas, mas sim apenas comentar que quando da sua composição, a inspiração rondava a mente de seus compositores, e que as vocalizações mais que iradas aos 3:30 da primeira delas, deixam-me soluçando de tanta emoção... ah, e sem esquecer do belíssimo encerramento acústico da segunda supracitada, tocado por Klas Wounsch à convite, sobre o qual se construiu a melodia do estribilho nela constante.
Passando para o próximo ato, o ouvinte depara-se com uma referência à "The Mirror" do Dream Theater em algumas passagens de "Chaos Vs. Order", numa batalha que certamente está muito mais favorável à primeira das hipóteses de seu título. E é nela que os fãs das antigas recebem uma gratificação: numa tarde, enquanto estavam no estúdio Dug-Out gravando as linhas vocais, Lawrence, ex-integrante que mora na mesma cidade, ligou para saber do andamento das coisas e acabou se oferecendo para participar de uma faixa ao lado de Andreas, resultado que aqui pode ser conferido um pouco mais brando, porém suficiente para se ter uma noção do que seria o conteúdo vocal do Rusted Angel, álbum que se você achar, compre sem pestanejar!
"Parasites of the Unexplained" traz de volta o feeling de "Third" (que desabrocha da inesquecível junção com a sublime intro "Calamitas", formando o ponto alto de Insanity). Nela pode-se identificar, anteposto ao solo de guitarra, uma grande parcela de Meshuggah da fase Destroy Erase Improve, seus amigos e conterrâneos que claramente lhes cederam essa influência futurista. É assim que também os coloco à frente quanto aos dizeres daquela mesma ‘bio’: "Influências progressivas de bandas como Watchtower ou Cynic também encontram espaço nas músicas, que precisam ser escutadas diversas vezes antes de começarmos a entendê-las". Sim, é vero, porém eu diria que isto foi mais atuante na época do Agregator, quando propositadamente focavam a habilidade e técnica de cada instrumentista. Então, caso colocássemos em termos atuais, eu diria que o Meshuggah se sobrepõe às outras, como explicitamente volta a ocorrer no fim de "Submission", que encerra o CD repleta de oscilações, de melódico ao som do teclado (por vezes presente, porém discreto), num instrumental que cresce guiado por "Chuck Billy", evoluindo a um estilo vocálico próximo ao Black Metal, chegando por fim a parte que citei, cuja sonoridade contemporânea daquela, por ser breve, não chega a ‘queimar o filme’, pois é sabido que a seguimento atual adotado pelo Meshuggah beira ao descartável. Não que eu queira ser redundante, mas também existe o fato de que o produtor deles, Daniel Bergstrand (Stuck Mojo, In Flames e Strapping Young Lad), que "por coincidência" foi o responsável pelas gravações de todos os três trabalhos desta que vos resenho, explicando-se aí uma possível aproximação, gerando motivos a conseqüentes comparações.
Daniel se superou, assim como o próprio Darkane, mas seria uma injustiça não comentar um pouco mais sobre o baterista Peter Wildoer, que além de tocar muito, sempre demonstra uma simpatia maravilhosa: seus anos no limbo do esmerar lhe concederam muita precisão e uma batida poderosa, que faria jus ao melhor dos detentores das baquetas. Sua performance no Insanity, não foi mero complemento, e sim um fator determinante para elevá-lo ao patamar que chegou. Afirmo inclusive que qualquer banda acometida por uma considerável baixa neste posto, que precisasse de um substituto a altura de um Gene Hoglan (Death, Dark Angel, atual Strapping Young Lad) ou qualquer Dave Lombardo (Grip Inc., Slayer, Testament), ‘mister’ Peter Wildoer iria lá e faria seu papel.
Vale lembrar que os parêntesis acima inclusos, não tiram a importância de seus nomes para com o Darkane, pois (à exceção do Grip Inc.) eles estão entre os maiores responsáveis pela banda ser o que é. Tudo isso condensado em um só plano, poderá agradar até quem não é muito chegado ao estilo, e caso você esteja na dúvida de como gastar bem o seu 13º, guarde alguns merréis para Expanding Senses (não se esquecendo do Rusted Angel), pois eu, já tendo o meu, aproveitarei que agora faço minhas disposições finais para dar uma passadinha lá na farmácia, e ver se eles me arranjam um remédio para essa minha dor de cabeça.
Duração: 40:24 (9 faixas)
Material cedido por:
Nuclear Blast/Century Media Records
www.centurymedia.com.br ou www.nuclearblast.de
Telefone: (0xx11) 3097-8117
Fax: (0xx11) 3816-1195
Email: [email protected]
Visite também: www.darkanefans.cjb.net
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps