Resenha - Ravishing Beauty - Avec Tristesse
Por Leandro Testa
Postado em 14 de janeiro de 2003
Nota: 8
A frase "revelação nacional de 2002" lhe diz alguma coisa? Sou levado a crer que sim, afinal ver o cenário carioca-brasileiro proliferar-se e saber que daqui exportamos produto "dos bons", é um tremendo orgulho para a nação. Não sei como você, leitor, encara o nosso underground, entretanto não dá para negar que bandas como esta, que acabam de fazer sua estréia, sofram de um estigma não muito favorável, às vezes pertinente à falta de experiência, criatividade e/ou da necessidade de se consertar algumas lacunas nas primeiras formações. Não obstante, devemos evitar confundir os predicados acima arrolados em relação a quem ainda não escutamos, e se de fato este se revelar um material válido, por que não fazer uma autodivulgação, no boca-a-boca?
Confesso que anos atrás eu costumava me empenhar mais nisso, e comprar muito do que surgia pela frente. Contudo, há tempos isto se tornou impraticável dado à quantidade de bons lançamentos que ocorrem mensalmente, e, felizmente, quando um trabalho assim, de respeito, vem à tona, atingindo nossos ouvidos, necessário se faz derramar elogios inomináveis aos nossos prezados conterrâneos.
Seus primórdios remontam a meados de 1998, quando o guitarrista, tecladista e principal vocal, o paulistano Pedro I.Salles, compôs e gravou num computador o que posteriormente viria a se tornar a música inaugural do Avec Tristesse, embora o grupo só visse a luz do dia dois anos depois, em decorrência de algumas tentativas infrutíferas de estruturação. Do line-up original, somente o jovem baixista Raphæl G. chegou a se estabilizar no cargo, e, naquele mesmo 2000, Nathan Thrall (bateria), Alexander Woden (guitarra), bem como Bruno Campbell (sintetizadores) ali foram integrados. Desta agregação de talentos, influenciados pelo som obscuro de britânicos e escandinavos, criou-se Ravishing Beauty, CD que não só transformou a feição de uma dupla de amigos meus, mas que também arrancou deles um apropriado "tô gostando disso".
Ele começa soturno, misterioso em "Part 1", segue num arranjo que entremeia magia e triunfo e antes de erigir em "She, the Lust", traz um pesar declamado. Esta por sua vez, alterna bramidos do apocalipse com vocais limpos, e, sendo assim, o instrumental também não deixa de ser diversificado, mostrando o grande poderio do chamado Dark Metal, na junção entre o Black, o Gothic e, ao seu final, a deixa para um pouco de Folk. A segunda parte da faixa-título é o momento apropriado para cair em lágrimas, cujos cânticos iniciais se desvanecem e dão lugar a uma extraordinária performance de teclas, remetendo aos momentos mais taciturnos do "meu amado" Pink Floyd.
Voltando no tempo, aquela antiga composição, denominada "The Crown of Uncreation", mantêm os (até agora) ótimos parâmetros, e é bem variada em seus quase sete minutos, abrilhantados pelo dueto com a convidada Raquel Antunes, dona de uma belíssima voz (não operística, graças a bom Deus!), além de incursões mais calmas e sorumbáticas, que ligadas à "De Sombre Amour Et Souffrances", recitada em francês por Denyze Moreira, parecem ser a mesma canção, progressivamente mais melancólica por conta dos teclados.
"In Vain I Cry" vem tão avassaladora que parece disposta a evitar passagens climáticas e vocais moderados, mas eis aqui meu ledo engano: no solo, um outro lampejo de feeling e ela volta a crescer portentosa até a arremetida a lá Burnt Offerings do Iced Earth, seguido do momento mais negro, horripilante e magnífico da obra, que dita as regras para Nathan Thrall novamente mostrar suas qualidades, ofuscadas pelo relativo abafamento, e findar-se na que se pode classificar como o clímax deste debute.
A mais gótica de todas, "Paean", resgate a presença feminina (que só vem a acrescentar), traz um núcleo semi-acústico e uma melodia digna de encerramento... Encerramento? Mas é só isso? Acabou? E é aí que reside o problema: a curta duração (31’36"). Se antes o que mais preocupava era a falta de sorte a que eles foram acometidos, de terem gravado num estúdio inapropriado e passado por vários outros para corrigir os problemas, a produção até que ficou aceitável, porém não posso aumentar a avaliação feita e deixar de comentar tal detalhe com nossos usuários, a despeito do preço mais em conta que vem sendo aplicado e de que este simplesmente foi o que de melhor me chegou às mãos no exercício passado, em se tratando de nova promessa tupiniquim.
Por isso, a Hellion fez um excelente negócio ao ter, a partir da masterização deste, investido neles, e agora, de contrato assinado, está aguardando o ensejo oportuno para permitir o início das gravações do sucessor já pré-produzido. Nesse segundo registro, o que não pode ocorrer é melhorar-se a sonoridade, mas cair na estagnação. Cada nova empreitada deve ser mais apaixonada/apaixonante que a anterior, e tenho certeza que Pedro I.Salles estava se focando nisso quando, com o papel e caneta na mão, usou da tristeza e inspiração que as suas ex-namoradas lhe proporcionaram e que a diversidade se fará ainda mais presente já que alguns de seus membros continuam participando de projetos paralelos que apontam para outros estilos metálicos.
Assim, se as minhas palavras não bastarem para derreter o gélido coração dos que insistem suplantar uma incompreensível aversão "ao novo", tente não se sentir frustrado quando daqui a alguns anos, (sem ufanismos) o Avec Tristesse se tornar uma entidade aclamada aqui e, quiçá, mundo afora. Lembre-se: isso é só o começo...
Website oficial: www.avectristesse.tk
OBS: Antes mesmo do lançamento de Ravishing Beauty, houve uma cisão que culminou na saída de Alexander Woden, bem como Bruno Campbell, e agora a banda continua como um trio, tendo dois músicos convidados para os shows, que podem ou não virem a se efetivar no futuro.
Material cedido por:
Hellion Records – www.hellionrecords.com
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São Paulo – SP – Brasil
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