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Bob Dylan: teria sido um ghost writer o autor de canção clássica atemporal do bardo?

Por Bruce William
Postado em 20 de dezembro de 2022

Em 1962, já morando em Nova Iorque, apaixonado pela música folk e tendo adotado o nome com o qual entraria para a história, Bob Dylan lançou seu álbum de estreia, trazendo basicamente releituras de músicas tradicionais e apenas duas canções de autoria própria. O disco recebeu críticas positivas mas ainda ficou restrito a um pequeno público.

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No ano seguinte, Dylan lança seu segundo álbum, "The Freewheelin' Bob Dylan". Recheado de canções urgentes e incisivas que se tornaram clássicas, ele abre com uma das músicas mais famosas de Dylan, e que foi o hino de uma geração: "Blowin' in the Wind", com versos simples, diretos e ao mesmo tempo contundentes, fazendo uma voraz crítica à sociedade norte-americana.

Alguns meses mais tarde, Dylan se apresenta no Newport Folk Festival. Uma semana antes, "Blowin' in the Wind" havia atingido o segundo lugar das paradas na versão de Peter, Paul & Mary. E foi ali que Dylan começou a sentir, de fato, o gosto do sucesso, angariando uma legião de fãs e virando tema de matérias e artigos em jornais e revistas.

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E foi justamente um desses artigos, publicado na Newsweek em novembro de 1963, que levantou a questão, conforme relatado no Snopes: "Existe até um rumor de que Dylan não escreveu 'Blowin' in the Wind' mas sim um estudante de Millburn (New Jersey) chamado Lorre Wyatt, que teria vendido a música para o cantor. Dylan diz ser o autor mas Wyatt nega a autoria, inclusive vários alunos da escola afirmam terem ouvido a versão de Wyatt antes de Dylan cantá-la", relatava o artigo. "Dylan diz estar escrevendo um livro onde vai explicar tudo. Mas, ele insiste, as explicações são irrelevantes. 'Eu sou as minhas palavras'. Talvez apenas isto baste. 'Há muita coisa sobre Bobby que eu não compreendo', diz Joan Baez. 'Mas não me importo, eu entendo as palavras dele. Isto é tudo que importa".

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Lorre fazia parte de um grupo musical na escola chamado Millburnaires, com quem ele apresentou "Blowin' in the Wind" no Dia de Ação de Graças de 1962, no final do mês de novembro, meses antes de Dylan lançar a música e até mesmo da versão do Peter, Paul & Mary. E Lorre contou para um professor que vendeu a música por mil dólares para Dylan e doou o dinheiro para uma instituição de caridade.

O artigo reverberou e foi republicado em outros periódicos, chegando a ser citado até em livros posteriores. Então Dylan realmente comprou a canção do tal estudante e a lançou sob seu nome, tomando para si todos os créditos? Teria ele usado um ghost writer?

Na verdade, não foi nada disso. Vamos entender o que aconteceu.

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Primeiro, temos a informação que já desmonta a tese: "Blowin' in the Wind" foi escrita por Bob Dylan em abril de 1962 e gravada em julho, muitos meses antes de Lorre apresentar a música no seu grupo escolar. Acontece que na época havia uma prática muito comum, e que Dylan inclusive detestava, que era a de editoras musicais divulgarem as letras das canções folk, inclusive as recém-lançadas, e assim aconteceu com "Blowin'", que saiu na edição de 6 de maio de 1962 de um periódico chamado Broadside, e depois foi replicado em outras publicações do gênero.

E foi assim que Lorre teve acesso à letra e ficou impressionado com a sua força poética. Então, tentando também impressionar seus colegas de escola, ele apresentou a canção como se fosse sua (ela tinha uma melodia, obviamente, diferente da original de Dylan), e ao ser perguntado depois por um professor, inventou a desculpa que havia vendido a música e doado o dinheiro.

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Sim, foi isso que aconteceu. Anos depois, em 1974, Lorre relatou a traquinagem em entrevista para a revista New Times: "Em setembro de 1962, fiz um teste para os Millburnaires, grupo de canto da escola de Millburn. Passei e, semanas mais tarde, enquanto folheava uma revista, vi as letras das canções de protesto e senti vontade de escrever algo próprio. Rabisquei febrilmente pressionado pelo próximo ensaio do Millburnaires. Mas as palavras impressas que eu lia soavam cada vez melhor, e acabei não resistindo a usá-las e colocar uma melodia minha".

Lorre conta que quando apresentou a letra, no dia 28 de outubro, todos ficaram em êxtase: "Uau! Onde você conseguiu isso? Foi você quem escreveu?" quiseram saber, e Lorre não se conteve e disse que era dele. "Então vamos tocá-la no Dia de Ação de Graças!" sugeriram e, após tentar, sem sucesso, demover os colegas do seu intento e sem ter coragem de negar, ele acabou assentindo.

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Resumindo a coisa, que já está óbvia: a música foi apresentada por eles. E Lorre ainda conta que, na semana seguinte, uma professora o chamou depois da aula e perguntou sobre a canção, que ele desde então tinha se recusado a cantar. E foi daí que ele inventou a história de ter vendido a letra por mil dólares, história essa que acabou chegando às páginas dos jornais...

A verdade foi revelada, sem ter sido necessária batalha alguma. Bob Dylan não tinha ghost writer. Bruce William não é um ghost writer. 👻

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Quando Socram chegou no Whiplash.net era tudo mato, JPA lhe entregou uma foice e disse "go ahead!". Usou vários nomes, chegou a hora do "verdadeiro". Nunca teve pretensão de se dizer jornalista, no máximo historiador do rock, já que é formado na área. Continua apaixonado por uma Fuchsbau, que fica mais linda a cada dia que passa ♥. Na foto com a Melody, que já virou estrelinha...
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