Rush: De 2002 a 2015
Por Hugo Alves
Postado em 06 de julho de 2020
"VAPOR TRAILS" (2002)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Ainda durante suas peregrinações, Neil Peart conheceu Carrie Nutall e, em 2000, casou-se novamente - posteriormente, o casal gerou Olivia, a segunda filha do baterista. Este fato foi determinante no processo de cura em relação às suas tragédias pessoais, o que levou ao próximo passo lógico: a reativação das atividades do Rush, que entrou em estúdio e gravou "Vapor Trails", um dos trabalhos mais fortes e pesados de toda a sua carreira. A banda estava bem enferrujada e precisou de muito tempo para voltar à boa forma; o álbum levou quase um ano para ser composto e pelo menos metade desse tempo até estar pronto para o lançamento. Quer dizer... Pronto em termos, pois infelizmente este disco apresentou uma das piores produções - provavelmente a pior - em todos os tempos. Felizmente, em 2013 foi lançada a edição remixed, recomendo altamente a audição desta versão para uma melhor apreciação de um disco que traz algumas das melhores canções do Rush, num momento que abriu a quinta - e última - fase da banda (a mais longa), com a banda com gás novo e, talvez pela primeira vez em sua carreira, praticando algo partindo do habitual Hard Rock e conseguindo atingir até um Heavy Metal bastante nervoso para seus padrões. Recomendo: One Little Victory, Secret Touch e Earthshine.
"RUSH IN RIO" (2003)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Se alguém perguntar a mim qual seria o melhor disco ao vivo do Rush, responderei sem pestanejar: "Rush in Rio"!!! Sinceramente, não lembro de nenhum repertório de qualquer show do Rush que eu tenha conhecido e pensado que fosse perfeito, mas aqui eles chegaram realmente muito perto! Quase toda a carreira da banda foi revisitada na turnê de "Vapor Trails" e, em se tratando de setlist, acredito que três fatores contribuíram para que as escolhas da banda não atingissem 100%: 1) a escolha da canção representante de "Signals" (1982) foi boa, mas eu teria colocado "Subdivisions" no lugar, pra chegar arrebentando; 2) não que o "Hold Your Fire" seja um ótimo disco, mas faltou uma alusão a ele, e eu teria colocado "Time Stand Still"; 3) pra fechar com chave de ouro o que já estava muito bom, sinceramente, uma lista como essa merecia "Xanadu". Entretanto, a banda acertou em cheio ao optar por gravar novamente um único show ao invés de picotes de vários - algo que eles permaneceram fazendo até o fim de suas atividades - e por terem feito isso aproveitando sua (tardia) primeira passagem pelo Brasil, país conhecido por gerar plateias que figuram entre as mais vorazes do mundo. Não costumo recomendar canções de discos ao vivo, mas aqui eles repaginaram um número do disco "Test for Echo" e a versão ficou de chorar de emoção! Recomendo: Resist.
"FEEDBACK" (2004)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Neste ano, o Rush comemorava 30 anos de atividades desde o lançamento do primeiro disco, o autointitulado de 1974. Decidiram gravar um disco com oito covers de canções que, segundo os próprios integrantes, os influenciaram muito no início da carreira. Não é nada marcante e é obrigatório somente aos colecionadores completistas e ouvintes curiosos, mas é um bom disco, divertido e despretensioso. O Rush solto e sem compromissos, como nunca se ouviu antes nem depois. Recomendo: The Seeker, Summertime Blues e Heart Full of Soul.
"R30: 30TH ANNIVERSARY WORLD TOUR" (2005)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Ainda em 2004, o Rush decidiu sair em turnê comemorativa pelos 30 anos desde o lançamento do primeiro disco. A setlist não chega a surpreender, sendo uma adaptação daquilo que foi tocado na turnê anterior, com algumas trocas de canções aqui e ali. Vale muito pelas alusões a vários números originais dos anos 1970 que não eram tocados regularmente pelo trio nesta quinta e última fase da banda, fora que eles ainda estavam num pique absurdo, ainda no clima do retorno, após uma muito bem-sucedida turnê e já em outra no clima de celebração. Se for adquirir o vídeo do show, recomendo procurar a versão em blu ray que, adianto, não existe em edição nacional e raramente é encontrada no Brasil, mas vale a busca porque contém o show completo, diferente do DVD, que sofreu alguns cortes.
"SNAKES AND ARROWS" (2007)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Pode uma banda com então 32 anos de atividades pós-primeiro disco e dezoito discos de estúdio anteriormente lançados surpreender num novo álbum? Se essa banda for o Rush, essa pergunta chega a ser ridícula. É óbvio que sim! Apesar da redundância da pergunta e da obviedade da resposta, a verdade é que ninguém poderia estar preparado para "Snakes and Arrows". Sim, o Rush conseguiu soar ainda mais denso, pesado e até um pouco mais sombrio do que em "Vapor Trails". Sim, a produção deste é muito superior àquele também (o que, convenhamos, não era difícil). E sim, apesar do clima de retorno do álbum de 2002, eles conseguiram se superar e gravar um disco muito melhor e que mantém o alto nível do início ao fim. Ah: aqui os caras endoidaram e lançaram "apenas" três canções instrumentais - todas excelentes. Simplesmente ouçam! Recomendo: Far Cry, Workin' them Angels e The Main Monkey Business.
"SNAKES AND ARROWS LIVE" (2008)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Já não era novidade para ninguém que o Rush decidiu lançar material ao vivo referente a cada turnê que fizessem desde o retorno em 2002. Há quem ache exagero. Eu acho sensacional. Entretanto, confesso que não sou um grande fã deste aqui, simplesmente porque acho que a banda não estava tão "pra cima" como normalmente se via em show deles. Sei lá, é uma impressão que tenho. Mas é claro, não quer dizer que o disco seja ruim, nem de longe. Inclusive nesta turnê o Rush tem o mérito de tocar um novo disco quase inteiro, o que é extremamente respeitável, ainda mais considerando a enxurrada de clássicos que eles tiveram que deixar de lado para isso. Coragem!
"TIME MACHINE 2011: LIVE IN CLEVELAND" (2011)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Talvez como uma turnê de aquecimento antes de entrar em estúdio e gravar um novo álbum, talvez simplesmente pelo prazer de tocar, talvez para manter o nome da banda ativo... Não sei dizer. Mas que a turnê "Time Machine" foi um presente para os fãs, isso foi. Inúmeras canções pouco, raramente ou nunca tocadas pela banda se fizeram presentes em todos os shows deste giro. Além disso, duas vagas foram ocupadas por novas canções que ninguém conhecia, exercitando e mostrando a força do que viria pela frente. Finalmente, uma canção de "Snakes and Arrows" que não havia entrado na setlist da turnê do álbum. O principal, porém, foi a execução, pela primeira e única vez em sua história, do álbum "Moving Pictures" na íntegra e em sua sequência original. Tive o prazer de ver o Rush ao vivo nesta turnê em 2010, no Estádio do Morumbi, em São Paulo, e posso garantir: exceto por algumas "gaiteadas" aqui e ali na voz de Geddy Lee (que não comprometeram em nada), a idade parecia não pesar pra esses caras, tão profissionais e tão felizes em tocar sua música. Recomendo: BU2B (canção do então vindouro disco de estúdio que não foi tocada na turnê dele) e Working Man (talvez o único registro oficial da versão que começava em estilo reggae, nos moldes do que eles faziam em boa parte dos anos 1970).
"CLOCKWORK ANGELS" (2012)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Este disco carrega o peso de ser o último disco de canções inéditas da história do Rush. Eles poderiam ter sido autoindulgentes, poderiam ter repetido fórmulas que deram certo e foram sucesso em suas carreiras, poderiam ter feito o que quisessem, e ficaria tudo bem, porque o Rush sempre foi muito competente - até acima da média - em tudo que fizeram. Mas o Rush também é conhecido como um grupo que nunca se repetiu, ainda que permanecesse um tempo seguindo alguma linha, e este foi o único quesito no qual a banda não mudou neste trabalho. "Clockwork Angels" é o tipo de disco que não se deixa passar; na minha sincera e humilde opinião, é o melhor trabalho de estúdio dos caras desde o retorno em 2002, e impressiona demais pelo conceito que permeia e liga todas as canções, pelo peso, pelo ótimo gosto melódico e por tudo mais. Um "adeus" digno do Rush; uma verdadeira despedida aos reis. Recomendo: Caravan, The Anarchist e Headlong Flight.
"CLOCKWORK ANGELS TOUR" (2013)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Seguindo a linha de lançar material de cada turnê, o Rush conseguiu inovar onde normalmente cairiam no lugar comum. Seguiram a linha de "Snakes and Arrows Live" (2008) ao dedicar grande parte de sua setlist à quase totalidade do disco de estúdio que promoviam, mas o fizeram com a grandeza de incluir instrumentistas clássicos no palco nesta parte específica do show. Ademais, dedicaram a parte dos clássicos aos anos 1980, tocando várias canções que o tempo há muito esquecera. É um trabalho curioso, não é o preferido de muita gente, mas é mais uma obra digna do Rush.
[an error occurred while processing this directive]"R40 LIVE" (2015)
Formação: Alex Lifeson, Geddy Lee, Neil Peart
Em 2014, o Rush completava 40 anos desde o lançamento de seu primeiro disco. O quadro geral da banda, porém, não era muito favorável: Alex Lifeson sofria cada vez mais de artrite, sendo cada vez mais complicado tocar guitarra durante três horas por noite de show, e Neil Peart finalmente começou a sentir o peso da idade, sendo fisicamente cada vez mais complicado fazer durante tanto tempo de apresentação aquilo que outrora parecia ser tão natural; somava-se a isso uma infecção nos pés que, a depender do momento e das condições, o fazia sentir dores insuportáveis, segundo relatos do próprio. Para complicar, todas essas condições já se arrastavam desde a "Clockwork Angels Tour" de 2013, que já era considerada especificamente por Peart como a última do Rush. Entretanto, a banda concordou em fazer uma turnê com dois objetivos: comemorar os 40 anos desde o primeiro álbum e também se despedir dignamente de seus fãs. A turnê contou com algumas das melhores ideias da carreira do trio: tocar canções começando do último disco até chegar no primeiro, em ordem inversamente cronológica enquanto que, no palco, a produção ia minguando cada vez mais, partindo de montagens superproduzidas até chegar no mesmo formato simplório que a banda usava em suas primeiras apresentações em colégios canadenses, até mesmo antes de gravarem seu primeiro álbum, quando ainda contavam com John Rutsey na bateria. Fora isto, tocaram alguns números que estavam esquecidos havia décadas, principalmente dos primeiros discos dos anos 1970. A turnê contou com 40 shows (e existem histórias extraoficiais de que mais shows chegaram a ser negociados, incluindo o Brasil - que, infelizmente, ficou para sempre sem ver o Rush tocar "Xanadu", canção da qual sou fã incondicional - mas, principalmente para Neil Peart, o fim da linha definitivamente havia chegado). Quem conseguiu ver algum show desta turnê presenciou o Rush com um gás como há tempos não se via. Eles sabiam que cada show era o último naquele local. Eles sabiam que era o fim e que aquilo não aconteceria nunca mais. A despedida foi grandiosa. O Rush completara sua missão.
Rush - A Discografia da Banda
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