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Axl Rose: Izzy, Adler, Gilby, Slash, U2 e abuso sexual

Por Alessandro Eduardo
Fonte: S&V,Revista Bizz
Postado em 14 de setembro de 2013

Na segunda parte da entrevista AXL fala sobre a saída de IZZY STRADLIN e STEVEN ADLER da banda, de seu relacionamento conturbado com SLASH, abusos sexuais sofridos na infância e mais. Com certeza essas entrevistas são o retrato fiel de AXL à época. Boa leitura!

Veja a primeira parte no link abaixo:

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Foto: Encarte Use Your Illusion
Foto: Encarte Use Your Illusion
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Continuamos do ponto em que paramos na edição passada. AXL me telefonou depois de um pequeno intervalo...

No começo da sua turnê - primeiro com SKID ROW, depois com SOUNDGARDEN - o show parecia calcado no Illusion. A maioria das músicas eram de discos novos. E depois, mais perto do final da turnê, parecia ter mais músicas do Appetite For Destruction. Por que isso?

Era o que sentíamos nessas noites. Tocamos o que deu vontade. Quero dizer, em San Diego abrimos com It´s So Easy, e nunca mais fizemos isso.

Você ainda não disse por que IZZY STRADLIN deixou o GN´R. Você poderia explicar o que aconteceu e, mais importante, qual o sentimento que tem por IZZY?

Eu me sinto como se ele tivesse cagado em cima de mim. Limpei a sujeira e ainda não me recuperei disso. Por um tempo pensei que o IZZY quisesse ser mais independente, mas o Guns N´Roses decolou rápido, e ele fazia tão parte disso que foi duro tomar uma decisão. Haviam certas responsabilidades com o GUNS AND ROSES que IZZY não queria encarar. Basicamente, não queria trabalhar tão duro em certas coisas como nos fazíamos. Aparecia só na hora de entrar no palco. Ficava puto porque eu estava atrasado, tocava, aí puxava o carro. Houve vezes em que, quando acabávamos o show, passava cinco minutos e ele já tinha ido embora. Não socializava com a banda, e tinha um sério problema em ficar sóbrio. IZZY sempre foi muito compulsivo e impulsivo, e apesar de não abusar mais de várias substâncias, ainda não chegou ao motivo do porquê de ser tão exagerado. Não solucionou isso, então, ao invés de se drogar, beber e farrear, ele se mantém ocupado viajando, andando de bicicleta e comprando um monte de brinquedos. Não há nada de errado com isso, exceto que ele não foi capaz de fazer as coisas que eram requeridas pelo GUNS AND ROSES. Fazer o IZZY trabalhar duro num álbum era como arrancar um dente. Todo mundo tinha bode disso. Ninguém iria ao estúdio enquanto ele estivesse lá, porque ninguém queria lidar com ele. Ele tocava algo fora do tom, e se nós pedíssemos para repetir, diria "Por quê? Eu acabei de fazer isso."

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IZZY, em geral, não me apoiava. Ele era bastante preocupado com seu tempo livre, e não entendia muito do que preciso para fazer meu trabalho. Pelo que sei, ele era vagabundo e egoísta. Houve momentos em que senti sua falta, e gostaria de ter tido capacidade de tê-lo suportado, mas para ele eu era um cuzão. Sempre fui fã de seu trabalho, mas ele que se foda - você pode publicar isso. Mesmo que nós voltemos a ter amizade, não vou me arrepender do que eu disse nesta entrevista, porque é isso que sinto. Estou contente de termos feito músicas juntos e estou contente que ele foi embora.

Ele realmente te machucou, hein?

Você quer saber o que me magoou de verdade? Quando ele veio aqui à minha maldita casa e agiu tipo, "O quê há de errado, cara?" É bem estranho. Eu sabia que ele estava vindo. Pude sentir literalmente seu carro chegando enquanto me vestia. Fui lá fora e me atei, porque IZZY não poderia estar realmente chegando na minha casa. Eu não conseguia fingir que era seu amigo, não depois do que ele fez para mim. E ele apareceu. E agiu como se não tivesse feito nada, quando nos abandonará numa hora ruim. Não era como se alguém estivesse deixando o grupo porque não estava agüentando mais. Ele cagou na saída. IZZY chamou todos os membros da banda e tentou virá-los contra mim, dizendo que era eu quem estava pisando com ele, e não foi isso que aconteceu. Ele disse um monte de merda nas minhas costas. Tentou jogar pesado e nos atingir na sua saída, e isso realmente é de foder.

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Quer falar sobre outro ex-membro da banda, o baterista STEVEN ADLER?

A lenda é que nós o mandamos embora sem motivo, e que eu era o ditador por trás disso tudo. A verdade é que eu provavelmente lutei um pouco mais para mantê-lo no grupo porque eu não estava trabalhando com ele diariamente, como o resto da banda. Eles ficaram cansados de não fazerem seu trabalho porque o STEVEN não era capaz. Li entrevistas onde ele disse que era um cara limpo. A maior parte do tempo, não. É o tipo de pessoa que quer todas as coisas na mão. Em um certo ponto, só para manter a banda unida, seria necessário dar ao cara uma parte dos meus direitos de publicação. Esse foi um dos maiores erros que já fiz em minha vida, mas ele blefou bem, dizendo que não iria permanecer na banda. Nós estávamos preocupados com o fato de não podermos gravar o primeiro álbum, então eu fiz o que senti que deveria ser feito. Paguei bastante para manter o STEVEN no GUNS AND ROSES. Paguei um milhão e meio de dólares, dando 15% dos meus direitos de Appetite For Destruction. Ele não escrevia nem uma nota, e me chama de egoísta filho da puta! STEVEN tem sido capaz de viver bem com esse dinheiro, comprar um carregamento de drogas e advogados para me processar. Se e quando perder a ação que move contra nós, ele terá que pagar esses advogados, se é que terá algum dinheiro sobrando, com a grana que veio do GUNS AND ROSES e de eu próprio.

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Neste ponto eu nem me importo com o que vai acontecer com STEVEN ADLER, porque ele conseguiu sair da minha vida, fora do meu carinho e preocupação, completamente. De qualquer jeito, me sinto mal por ele ser uma pessoa bastante danificada, mas é a sua própria escolha que o mantém desse jeito. Não há nada que possamos fazer agora. Nós o levamos a clínicas de reabilitação. Ameaçamos seus fornecedores de drogas e o ajudamos quando cortou os pulsos. Até perdoei quando ele quase matou minha esposa. Tive que passar uma noite com ela numa Unidade de Tratamento Intensivo porque seu coração parou graças ao STEVEN. Ela estava histérica, e ele aplicou nela uma dose de "speedball". Ela nunca mais tinha tentado esse tipo de merda antes, aí o cara vai lá e aplica nela uma mistura de cocaína com heroína? Mesmo assim, fazia qualquer coisa por ele. Eu o impedi de ser morto por membros da família da minha esposa. Salvei-o de ir a julgamento, porque até sua mãe queria que ele pagasse pelo que fez. E o filho da puta se vira contra mim? Eu quero dizer, tudo bem, eu sou uma pessoa difícil de se lidar e sou foda de se entender - e eu tive minha parte nos problemas -, mas STEVEN se beneficiou muito mais do eu no seu envolvimento comigo do que eu com ele. STEVEN tinha muitos fãs, mas ele era de foder. E eu tenho que mantê-lo na minha vida? Vai se foder!

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Agora que falamos sobre isso, o que você acha de mostrar o outro lado da moeda: os caras novos, especialmente o guitarrista GILBY CLARKE?

GILBY é incrível, é um prazer de se ter ele em volta, Ele trabalha bem o palco e a multidão. Também nos dá um senso de normalidade no rock´n´roll - se é que existe algo assim. GILBY tem um jeito de entender as coisas e de lidar com situações inesperadas que deixa a viagem mais tolerável. Suas dicas, como sendo alguém de fora do GN´R, nos ajudou bastante. Ele tem suas opiniões do que está acontecendo conosco e isso ajuda a nos dar a perspectiva diferente, porque o SLASH, o DUFF e eu estamos no GN´R por tanto tempo que às vezes não vemos coisas que as outras pessoas vêem. Ele passou por tanta coisa nos outros grupos, que tem uma educação própria do rock´n´roll. Agora é parte do GUNS AND ROSES.

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Ele é um "membro" do GUNS AND ROSES?

Essa coisa de ser membro é meio interessante. Li uma entrevista em que o MATT (SORUM, baterista) dizia que se não chegasse a ser membro, não estaria no GUNS AND ROSES. A verdade é que MATT é um membro do GUNS, mas isso não quer dizer nada. E coisa tipo gangue de clube noturno. Nós somos todos membros dessa gangue. MATT é um membro GN´R e sua opinião é levada em consideração. Levando em conta isso. GILBY é um membro também. DIZZY é um membro da banda. Como todo os cantores de apoio, a parte de metal, tecladistas... Encaramos que todos nós somos membros do GUNS AND ROSES. Mas a linha básica e dirigida por SLASH e eu. Então levamos ao DUFF qualquer coisa que estivermos discutindo, para ver se ele acha legal. O GUNS AND ROSES é basicamente SLASH, DUFF, DOUG GOLDSTEIN e eu, mas há muitas outras pessoas envolvidas que são partes de nossas vidas e parte de nossas famílias.

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Você acha que o MATT vai ficar chateado quando ler isso?

Seria bom que ele não ficasse. Amo todo mundo da banda. É botar para quebrar e sentir o calor e o astral no palco. Nesse ponto são os doze de nós que estão no palco colocando tudo para fora.

Vocês são em doze?

Tem o TEDDY, tem o DIZZY, a ROBERTA, TRACY, LISA, CECE, ANE, GILBY, MATT, DUFF, SLASH e eu. Foi o SLASH que juntou essa galera, que fez todo o trabalho de base. Ele trabalhou tão bem que ainda não estou acreditando que isso aconteceu. Estou feliz por fazer parte disso. É uma coisa grandiosa, e nós podemos chamar mais alguns dançarinos, que nem aqueles que tínhamos nos velhos tempos de Troubadour (boteco em Los Angeles). Temos levado isso em consideração.

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Quando você e o SLASH não estão apertando a garganta um do outro, vocês são realmente uma força que deve ser considerada.

Deixe-me dizer algo sobre esse lance de um ficar apertando a garganta do outro. Isso não tem acontecido faz mais ou menos um ano e meio. Eu amo SLASH. Somos pólos opostos de energia; mas nos completamos. Um anima o outro a trabalhar, e assim nos completamos. Tivemos um desentendimento em Dayton (Ohio), porque tanto eu como DOUG pensamos que ele havia dito alguma merda para eu no palco. Essa foi a noite em que cortei minha mão até chegar no osso. Nós temos monitores atrás do palco e enquanto eu estava lá, dando um trato na minha mão, pensei ter escutado ele dizer algo escroto para mim. Enrolei uma toalha na minha mão e estava me sentindo tipo "vamos acertar isso, assim posso terminar logo esse show". Voltei ao palco e fiquei escroto com ele, e disse que ia quebrar a sua maldita cara na frente de 20 mil pessoas. Foi uma estupidez fodida. Eu estava errado, e me desculpei no momento em que me liguei que não estava com a razão. Uma pessoa que me apóia como ele, é uma mão que não quero morder.

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O tributo à FREDDIE MERCURY foi super legal. Como foi tocar junto com lendas como QUEEN e ELTON JOHN?

Foi a experiência mais reveladora da minha vida. Foi super intenso. Quando nos encontramos pela primeira vez com BRIAN MAY no verão passado, foi demais. Nenhum de nós queria deixá-lo sair da sala, ele é uma das pessoas mais legais que já conheci. Quando cantei "Bohemian Rhapsody", nós não tínhamos ensaiado. O BRIAN me pediu para fazer isso naquele dia, e eu me senti bem. Conversei com ELTON antes do show, ele estava intranqüilo pelo fato de se encontrar comigo - você sabe, sou supostamente o cara mais homofóbico da Terra. Quando nós conversamos, eu estava excitado mas sério, e disse a ele o quanto sua música significava para mim. No final, ele estava tipo "Opa". No palco, eu tentava me mostrar o mais respeitoso possível. Eu estava vibrando e se você olhar de perto, pode ver algumas vezes quanto amor e respeito tenho por ELTON. Havia um contato olho a olho rolando. Foi impressionante. O JOHN NORRIS da MTV ficou dizendo "Essa pode ser a última vez que você vê ELTON JOHN com AXL ROSE juntos no palco". Não que eu tivesse alguma coisa com isso.

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Vamos conversar sobre música.

Tudo bem. Uma das minhas bandas favoritas é o U2. Eles não eram, mas são agora. Eu costumava não entendê-los. Não conseguia ver o mundo que eles cantavam. Amor, dor e comprometimento? Somente em algumas músicas, como "With Or Without You", eu podia relacionar e entender. E esse foi o som que ouvi um pouco antes de ter uma overdose por causa de meu relacionamento (com sua ex-esposa), que estava fodido. Mal podia ver as coisas que eles estavam cantando, - naquilo em teoria, mas a verdadeira expressão, não via de maneira alguma. Agora posso ver algo de diferente na música do U2, e isso não tem nada a ver com o jeito que eles atuam ou como estão se vestindo. Existe um sentimento diferente na música. Acho que a música "One" é uma das melhores canções já escritas. Agora posso entender por que as pessoas gostavam do U2 há anos atrás.

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O U2 nunca fez algo como "One In A Million".

Minha opinião é que as pessoas não podem se identificar com essa canção. Ela inspira pensamentos e reações que acordam as pessoas, fazendo-as lidar com seus próprios sentimentos de racismo, discriminação e sexualidade.

Mas AXL ROSE disse "viados" e "crioulos".

Muitas outras pessoas também já disseram isso.

É, mas é bem fácil se sentir cheio de direitos e apontar o dedo para você.

Escrevi uma música que era bastante simples e vaga. Era um tipo de pintura que eu estava pintando para mim mesmo, porque essa é a maneira que escrevo música. Tente ir a um museu e não ver pinturas que mostram dor, sofrimento e confusão... Eu acho que mostrei isso de maneira satisfatória. Definitivamente, esse som era um mecanismo de sobrevivência. Era uma maneira para expressar minha raiva e o quanto vulnerável me senti em certas situações que ocorreram em minha vida. Não é uma música que eu escreveria agora. O som é bastante genérico e generalizado, e eu pedi desculpas por isso na capa do disco. Voltando no tempo e lendo aquilo, não era a melhor desculpa, mas era a melhor que eu podia fazer naquele momento.

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Levando em conta todo o buchicho que rolou em "One In A Million", alguma vez você chegou a se arrepender de ter dividido isso com o mundo?

Estou no muro com essa música. É bastante poderoso. Sinto que, tão longe quanto a liberdade artística e minha responsabilidade a essas crenças permitam, esse som deveria existir. Essa é a única razão pela qual não puxei isso da prateleira. Liberdade e criatividade nunca deveriam ser censuradas. Se soubesse que as pessoas pudessem se machucar por causa dessa música, então eu estaria errado.

Muitas bandas tendem a se envergonhar da honestidade e da dor que sai de suas músicas, especialmente aquelas músicas que lidam com suas relações amorosas. Não é muito macho se sentir machucado.

Isso é sobre enfrentar a sua dor, e não há muitas pessoas que querem fazer isso. Isso é bastante normal. Resisto e enfrento uma luta sem fim para evitar expor algumas partes da minha pessoa para mim mesmo.

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Quando as pessoas leem que você faz terapia e trabalha seus problemas, esses termos são bastante vagos.

Estou continuamente aprendendo que, quando estou deprimido, há uma razão para isso que não estou sabendo. Poderia ser algo que aconteceu muito tempo atrás e tenho carregado uma base disso desde então. Esse pensamento base não foi exposto desde que aconteceu e nunca foi curado. Enterrei tão fundo que eu nem sei que está lá. Eu posso conversar sobre a vida, o amor e a felicidade, mas embaixo disso existe um pensamento doentio. Ou raivoso. Ou medroso que eu ainda estou trabalhando. Através de voltar vagarosamente para trás.

Como?

Existem vários métodos, mas basicamente é entender como você se sente e o que realmente te importuna, focalizando o assunto, e aí, com ajuda do meu terapeuta, eu trabalho no sentido de liberar meu inconsciente. A menos que o seu eu verdadeiro sinta dor, por que você gostaria de se separar disso? A maior parte das pessoas são fechadas. Quem é que sabe como voltar ao passado e curar a própria dor? Ter ajuda e ser capaz de aceitá-la e bem mais forte e algumas vezes muito mais fácil. Mas de vez em quando é bem mais difícil. Quero dizer, quem quer precisar de ajuda? Achei alguém em quem confio, e assim fica fácil de trabalhar. Os métodos não são necessariamente importantes; o que realmente conta é chegar lá e sanar o problema. Um psicólogo pode extrair isso melhor do que eu poderia. Fazendo isso, eu poderia queimar algumas pessoas. Pode parecer meio estranho, mas está funcionando. Tenho certos problemas emocionais, mentais e físicos, e não quero conviver com eles mais do que eu devo. Sou obcecado em sobrepor isso. A única maneira que uma pessoa pode dizer se precisa de ajuda é quando não importa o quão feliz você esteja, no fundo sabe que está uma merda. Eu tenho estado assim por muito tempo, mas agora não me sinto mais um merda.

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Isso é uma mudança notável - para melhor - na maneira como você se segura.

Ainda carrego alguns elementos do punk; mas, se vivesse assim agora, estaria caminhando para trás. As pessoas precisam passar por estágios diferentes. Um grupo formado por caras de 19 ou 20 anos que dizem que "tudo é uma merda" tem o direito de se sentir desse jeito, e também tem o direito de se expressar. Mas existe vida após os 21, se você pode viver tudo isso - o que é uma bosta para todos nós. Quem é que sabe? Eu poderia me sentir realmente deprimido e ter uma overdose na próxima semana; mas não penso assim, isto é, espero que não.

Você leva seu psicólogo junto nas turnês?

Algumas vezes, quando sinto que posso precisar de ajuda. Se nós não estivéssemos em turnê, eu me concentraria mais em resolver meus problemas antes de excursionar, mas isso tem sido impossível. Os álbuns precisavam ser trabalhados. Não é porque eu os escrevi, mas sinto que "November Rain" e "Estranged" têm a chance de ser mescladas na cultura musical. Então vou lutar por isso e tentar espalhar para o máximo de pessoas possíveis. Fico mordido quando ouço uma bela faixa de um disco e o autor diz "É, mas o público não sentiu isso". Eu falo: "O que você quer dizer com isso?" O público também não gostava de "Jungle", e agora está aí.

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Recentemente você foi à público na revista Rolling Stone falar sobre abusos que sofreu na sua infância.

Eu tenho minha parte de pauladas, pedradas e facadas; de pessoas tentando me fisgar por qualquer razão. Gostaria de ser mais "acionário" do que reacionário. Sou bastante danificado, e não quero que as pessoas tenham pena de mim. Em vez de eu ser eu mesmo, eu era um produto do ambiente, e isso foi algo que o GN´R jogou de volta na cara das pessoas em todo mundo. "Você não gosta de nós? Então vai se foder! Você ajudou a nos criar. Sua maneira de fazer as coisas ajudou a sermos o que somos. Não tínhamos escolha. Não podíamos ser diferentes." Quando você alimenta alguém com merda, e ele tem os culhões de dizer a você que gosto tem. A maior parte das pessoas encana com isso. O povo não sabe como suportar uma criança quando não sabe como aceitar ajuda.

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O que você quer dizer com isso?

Se uma criança sofre uma agressão, e alguém oferece ajuda, e o menino foge, a punição não surte o efeito desejado. Em vez de ajudá-lo e tentar chegar até ele, dizem "você tem que trabalhar seus problemas agora! Você está me entendendo?" Isso não funciona. Palavras de comando tipo cale a boca! Fique sentado! Não funcionam se você está tentando ajudar alguém ferido. Sofri uma lavagem cerebral na Igreja Pentecostal. Não sou contra igrejas ou religiões, mas acredito que a maior parte das religiões enganam a humanidade. Minha igreja estava lotada de hipócritas certinhos que molestavam e abusavam de crianças. Eram essas as pessoas que estavam "encontrando" Deus mas que ainda estavam danificadas e passando isso aos seus filhos.

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Eu tinha que ir à igreja de três a oito vezes por semana. Estava aprendendo a Bíblia na escola enquanto era espancado e minha irmã molestada. Podíamos assistir à TV uma vez por semana, ai meu padrasto jogava a TV fora, falando que era obra do demônio. Não me permitiam ouvir música. As mulheres eram coisa do demo. Tudo era demoníaco. Eu tinha uma visão distorcida da sexualidade e das mulheres. Me lembro da primeira vez que tomei uma porrada por estar olhando uma mulher. Não me lembro o que estava olhando nem que idade tinha, mas era uma propaganda de cigarro com duas garotas de biquíni saindo d´água. Eu só estava vendo TV sem pensar em nada, só olhando - e meu pai deu um murro na minha cara, e eu voei no chão. Alguém veio dizer: "Cara, passe por cima disso". Ah é? Vai se foder! Queira ou não, esse incidente ficou no meu inconsciente. Em qualquer lugar que houvesse alguma forma de sexo, como um beijo, nós não podíamos olhar. A lavagem cerebral do meu pai foi tamanha que começamos a nos virar para nós mesmos. Nós nos escorávamos.

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Minha mãe deixou que tudo isso acontecesse porque ela era muito insegura, incapaz de ficar sem meu padrasto. Ela me viu ser danificado profundamente por não estar nem aí para mim, minha irmã e meu irmão. Sempre senti uma grande ansiedade em voltar e ajudar a minha mãe. Me sentia obrigado, mas agora não me sinto assim. Ainda sinto raiva mas estou tentando vencer isso. Enterrar o problema não funciona mais. Eu enterrei por muito tempo. É por isso que há uma lápide no final do vídeo de "Dont Cry". Assisti a vida de quase todos dessa igreja virar uma merda por causa da própria hipocrisia consumi-los.

Que efeito isso teve nas crianças?

Bem, isso nos deu uma boa opinião sobre Deus. Confundiu as coisas. A Bíblia me foi enfiada goela abaixo, e isso distorceu meu ponto de vista. Meu pai trazia um bezerro para casa, mas o que eu queria mesmo eram dois hambúrgueres do McDonald´s. Fomos ensinados "você deve temer a Deus". Não acho isso saudável. Posso te dizer que não sei o que Deus é ou deixa de ser. Mas não tenho medo Dele, me sinto muito melhor assim. Não tenho mais medo dele, não sinto que serei punido por ele com os obstáculos que ocorrem na minha vida. Se estou parecendo meio careta, não é isso. Eu sou mordido por isso, mas não sou contra pessoas. Não gosto de ver pessoas miseráveis nem pessoas se matando enquanto dizem que estão felizes.

Com ajuda da terapia de regressão descobri que meu pai verdadeiro, não meu padrasto, abusou sexualmente de mim. A raiva mais poderosa era a raiva de um garoto de dois anos, porque era dor. Nada pode me amedrontar, porque já vi o inferno. Fui morto aos dois anos e vivi através disso. Me senti mal por 28 anos. Meu padrasto entrou em minha vida quando eu tinha três ou quatro anos, e não conheci meu verdadeiro pai até os 17 anos. Fui separado de mim mesmo na mais tenra idade, e meu padrasto, com suas confusas mensagens - uma mistura de amor e ódio -, se certificou para que eu não me juntasse. Ele me amava num minuto, aí no outro me batia. Tive que aprender como lidar com essas duas personalidades. Dei dois passos à frente e um para trás, mas estou nessa. Há muitas coisas que são novas para mim, mas não vou deixar que o meu medo me impeça de progredir.

Como você acha que os seus traumas de infância afetaram sua vida sexual?

Eu não conseguia estar sexualmente numa boa com alguém, porque eu estava montado de uma maneira que me sentia como se estivesse fazendo algo de errado - mesmo se fosse alguém que eu gostasse. O único jeito que eu sentia tesão em sexo era se eu fosse o "bandido". Aí fiquei cansado de ser o bandido. Amo a pessoa que sou agora. Por que sempre tenho que manter um nível baixo de estima pessoal para me sentir bem? Não me sinto legal sentindo como se fosse um pedaço de merda, e não quero me sentir como um pedaço de merda. Mesmo se isso tivesse entrado na minha cabeça alguns anos atrás, através da leitura sobre abusos e fazendo o trabalha que estou agora. Descobri que é assim que isso funciona. É uma coisa bastante estranha de se lidar. Sabe como é, sou um homem crescido. Isso foi há muito tempo. Suponho que eu tenha dado a volta por cima. Talvez.

Tradução partes I e II: Ronaldo Masciarelli
Entrevistas publicadas na Revista Bizz
Edições Outubro e Novembro de 1992

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Sobre Alessandro Eduardo

Encontrou o caminho aos 9 anos, quando adquiriu CREATURES OF THE NIGHT, do KISS. Mas o caminho foi tortuoso, teve que vender garrafas de champanhe vazias, pedir dinheiro aos tios e tias para comprar o disco. Pois seus pais não iriam dar, por se tratar de música do demônio. 40 anos, casado com uma diva, chamada Diva, três maravilhosos filhos e dois cachorros. 31 anos de rock, pop, thrash, glam, heavy, hard, soul, funk, blues, jovem guarda e afins. Enjoy the silence!
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