Eric Clapton: faltaram alguns grandes sucessos na passagem pelo Brasil
Resenha - Eric Clapton (Allianz Parque, São Paulo, 29/09/2024)
Por Diego Camara
Postado em 03 de outubro de 2024
A cada década, Eric Clapton resolve aparecer no Brasil para trazer sua sempre excelente tour para cá. O que se pode esperar de um show deste gabarito? Somente um dos mais excelentes espetáculos do mundo, que preza pela qualidade em cada detalhe musical. Clapton e sua banda não são visualmente apelativos ou chamativos, não tem aqui estrelismo, show de luzes ou bate-papo, só o melhor da guitarra.
E se era guitarra que queriam, ficou claro deste a apresentação de abertura do guitarrista Gary Clark Jr., com sua virtuosidade e música que aliam blues, soul e rock de uma maneira brilhante. A banda começou o seu show na hora marcada, para um público bastante pequeno que ainda chegava ao Allianz Parque. Pouca gente viu o início do show dele, uma performance dinâmica carregada por uma banda de apoio afiada e cheia de melodia.
O show foi melhorando ainda mais para o final. A performance mágica do guitarrista na música "What About the Children", cover de Stevie Wonder que fez o público inteiro aplaudir com vontade a apresentação, Gary encantava com solos marcantes e bastante firmes o tempo inteiro. Com "Habits", fechando o show, ele mostra como pode fazer um som moderno e potente, sem deixar de lado a visão clássica da música negra que veio antes dele: um misto do encontro entre o passado e o presente.
Setlist
Maktub
Don't Owe You a Thang
When My Train Pulls In
This Is Who We Are
What About the Children (cover de Stevie Wonder)
Bright Lights
Habits
Eric Clapton foi subir com cinco minutos de atraso, para um estádio totalmente lotado que aguardava, pacientemente, a apresentação. Um grande número de pessoas mais velhas, mas muitos jovens também dividiam a pista premium que, gigantesca, ultrapassava a metade do gramado do Allianz Parque. Ao abrir o show, lançou "Sunshine of Your Love", um dos seus clássicos do Cream, um dos seus primeiros grandes sucessos que o catapultaram a uma estrela do rock clássico.
O som estava realmente perfeito em todos os detalhes, mas a altura deixava a desejar, mesmo na parte frontal do palco. Faltou potência no show, que foi contornada por um público que avidamente puxou o refrão da música, cantando junto com Clapton e o baixista Nathan East, que dividia os vocais.
Como em todo o show do guitarrista britânico, os seus grandes sucessos são misturados a tributos de grandes artistas, alguns já esquecidos do grande público – especialmente daqueles que não são grandes fãs do blues americano. O cover de "Key to the Highway", do blueseiro Charles Segar, é figurinha carimbada dos shows de Clapton e conta com a performance mágica do tecladista Christ Stainton. Clapton, agasalhado dos pés a cabeça e com um boné, mostra realmente que continua ótimo nas guitarras, com uma musicalidade que custa a envelhecer apesar dele estar se aproximando dos 80 anos.
Fechando o primeiro set, a banda lançou outro clássico do rock, "Badge", com uma performance impecável nas guitarras. Os olhares do público, que com muita atenção veem cada um dos detalhes, tanto no telão quanto no palco, pareciam extasiados e anestesiados pelo som da banda.
Ao final da música, a equipe técnica rapidamente mudou o palco para a apresentação acústica que ocupa a metade central do setlist da banda. Começou com outro sucesso do blues, a música "Kind Hearted Woman", de Robert Johnson – um tributo ao música que é, desde sempre, sua maior influência – o bastante para ter eternizado em gravações e shows ao vivo quase todos os grandes sucessos. O som do blues ecoou no estádio, acompanhado pelas palmas do público que deram o ritmo.
O set acústico foi ganhando corpo com "Running on Faith", onde o som dos vocais de Clapton ecoaram por todo o estádio, além da animação da plateia nas arquibancadas, que não perdiam uma chance de puxar os vocais em todas as músicas, com performances lindíssimas.
O final do set acústico contou com a sequência de três músicas próprias de Clapton e a participação do guitarrista Daniel Santiago, que colaborou recentemente com o britânico e lançou um disco em sua homenagem. A performance mágica do set fecha com "Tears in Heaven", uma das músicas mais emocionantes e mágicas da carreira, produzida no momento de sua maior dor. O público puxou junto com o guitarrista a música inteira, de ponta a outra, com o Allianz Parque iluminado em homenagem ao filho de Eric.
Na terceira parte do show, as guitarras voltaram para uma apresentação eletrizante. Primeiro veio uma música do Derek and the Dominos, "Got to Get Better in a Little While", uma música meio lado B do artista. A performance é, porém, potente e apaixonada, com direito a uma excelente performance do baterista Sonny Emory.
O show foi chegando ao final, e não poderia faltar o cover de "Cross Road Blues", de Robert Johnson. O som é cheio de virtuosidade e mais uma vez encantou o público com uma sequência instrumental potente e intrincada, onde toda a banda mostra sua capacidade. Logo em seguida, mais outra canção de Robert Johnson, "Little Queen of Spades": puxada mais uma vez pelos teclados, todos os instrumentos estavam em perfeita sintonia – o show vai se tornando como uma jam, onde cada um dos integrantes da banda tem seu momento de brilhar.
"Cocaine" fechou a apresentação como uma das mais esperadas da noite. Um sucesso de J. J. Cale, imortalizado pelo guitarrista britânico. A performance excelente de toda a banda acendeu o público, em especial o solo de guitarra de Clapton, mais uma vez excelente: a dinâmica da banda mostra o lado criativo dos músicos sem desrespeitar o som original.
Apesar da excelente apresentação, é difícil não notar o quanto ela poderia ser melhor. O som baixo pareceu prejudicar e muito o público mais distante do palco, e não pareceu haver grande melhora em boa parte do espetáculo. Além disso, é difícil imaginar qualquer motivo possível para que o show não tenha músicas como "Layla" e "Wonderful Tonight", dois dos maiores sucessos do artista. O mínimo que se espera é que não demore mais 10 anos para que Clapton retorne ao Brasil.
Setlist
Sunshine of Your Love (música do Cream)
Key to the Highway (cover de Charles Segar)
I'm Your Hoochie Coochie Man (cover de Willie Dixon)
Badge (música do Cream)
Kind Hearted Woman Blues (cover de Robert Johnson)
Running on Faith
Change the World (cover de Wynonna Judd)
Nobody Knows You When You're Down and Out (cover de Jimmy Cox)
Lonely Stranger
Believe in Life
Tears in Heaven
Got to Get Better in a Little While (música do Derek and the Dominos)
Old Love
Cross Road Blues (cover de Robert Johnson)
Little Queen of Spades (cover de Robert Johnson)
Cocaine (cover de J.J. Cale)
Bis
Before You Accuse Me (cover de Bo Diddley)
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