Popload: resenha e fotos do festival no Rio de Janeiro
Resenha - Popload Festival (Memorial da América Latina, São Paulo, 15/11/2019)
Por Gabriel von Borell
Postado em 22 de novembro de 2019
Neste feriado de 15 de novembro, aconteceu no Memorial da América Latina, em São Paulo, a edição 2019 do Popload Festival. Segundo a organização, 15 mil pessoas prestigiaram o evento, que começou bem cedo, às 10h45, quando o bloco afro Ilê Aiyê deveria subir ao palco.
Mas, por conta do atraso no voo dos músicos, a apresentação deles foi cancelada. Então, quem abriu o festival mesmo foi a cantora Luedji Luna, que chamou o público, ainda bem pequeno pela manhã, muito provavelmente por conta da chuva que caía.
Mais tarde, na hora em que a rapper britânica Little Simz foi fazer sua estreia no Brasil, o tempo começou a melhorar e as pessoas se dirigiram a frente do palco em maior número. Empolgada e simpática, a cantora do norte de Londres apresentou praticamente na íntegra seu novo álbum, "Grey Area", lançado neste ano.
Ela também incluiu no repertório algumas faixas do disco de 2015 "A Curious Tale of Trials + Persons", como "God Bless Mary". Muito competente, o show da Little Simz foi uma grata surpresa para quem não a conhecia.
A atração seguinte no Popload foram os americanos do Khruangbin, que, bastante talentosos, conseguiram prender a atenção do público mesmo fazendo um som totalmente instrumental. Destaque para a baixista Laura Lee que arrancava gritos e suspiros da plateia como se fosse uma diva pop.
Formado em Houston, no Texas, o trio, completado pelo guitarrista Mark Speer e pelo baterista Donald Ray Johnson, passeou por músicas da carreira como "Bin Bin", "August Twelve", "Evan Finds the Third Room" e "People Everywhere (Still Alive)".
Às 14h45, foi a vez da sueca Tove Lo animar o público. A cantora, que já havia se apresentado na cidade há quase três anos dentro da programação do Lollapalooza, emendou hit atrás de hit e contagiou seus fãs do início ao fim.
"Influence", "Cool Girl" (que ela dedicou às malandras na plateia, em português mesmo), "Bad as the Boys" e "Glad He's Gone" foram algumas das músicas escolhidas para entrar no setlist.
Bem feliz com a receptividade da plateia, Tove disse que se identificava com os brasileiros porque eles são calorosos assim como ela. Rebolativa e animada, a artista não deixou de levantar o top para mostrar os seios mais uma vez durante "Talking Body".
Tove, em turnê com o álbum "Sunshine Kitty", lançado há alguns meses, ainda convidou ao palco MC Zaac para cantar com ela a parceria em "Are You Gonna Tell Her", levando a um dos momentos mais marcantes do show.
Para encerrar, a musa de cabelos coloridos cantou "Habits (Stay High)", seu maior sucesso.
Na sequência, veio a aguardada apresentação do quarteto feminino paulista Cansei de Ser Sexy, que, tirando um show em São Paulo em 2014, não tocava ao vivo há oito anos. Acompanhadas de um baterista, as integrantes do CSS pareciam dispostas a entregar tudo o que elas podiam.
O show abriu com "Art Bitch", presente no disco de estreia homônimo. Antes de "Music is my Hot Hot Sex", Luísa Lovefoxxx brincou: "Feliz 2004". Ainda vieram diversas outras faixas do primeiro álbum, como "Let's Make Love and Listen Death from Above", "Bezzi", "Meeting Paris Hilton" e "Alala".
Aparentemente travada, Luísa foi se soltando cada vez mais ao longo da apresentação. O segundo disco do CSS, "Donkey" (2008), apareceu no show com "Move" e "Let's Reggae All Night", já o terceiro, "La Liberación" (2011), entrou no repertório com "Fuck Everything", "Hits me Like a Rock" e "City Grrrl".
Do último trabalho da banda, "Planta", de 2013, Lovefoxx e cia somente incluíram "Dynamite". É preciso falar do tom político da apresentação também. Do meio para o final do show, a vocalista exibiu um look vermelho onde era possível ler: "MST" e "revolução agroflorestal".
Enquanto isso, a tecladista Ana Rezende vestia uma camisa em homenagem a Marielle Franco. Em determinado momento, um vídeo no fundo do palco mostrava o presidente Jair Bolsonaro discursando ao mesmo tempo em que um monte de cocô saía da boca dele. É claro que o público explodiu em gritos e aplausos, puxando o tradicional coro de "ei, Bolsonaro, vai tomar no c*".
Outro trecho da apresentação exibia no telão a imagem da HQ censurada pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella, durante a Bienal do Livro por mostrar dois adolescentes homens se beijando. Mais uma vez a plateia reagiu positivamente e com bastante força.
Entre seus discursos, Lovefoxx afirmou que nosso país precisava mais que nunca de todas as "esquisitonas" e declarou que você pode se manifestar e ter voz de qualquer canto do país, seja na cidade ou no meio do mato.
A próxima atração no Popload Festival foram os ingleses do Hot Chip, que se apresentaram no final da tarde. Divulgando o novo álbum "A Bath Full of Ecstasy" (2019), o grupo, que faz um pop eletrônico nada convencional, animou seus fãs com as faixas do trabalho recente e clássicos da carreira como "Ready for the Floor", "Over and Over" e "I Feel Better". O melhor momento do show foi quando o Hot Chip fez um cover espetacular de "Sabotage", dos Beastie Boys.
Liderado por seus fundadores, o vocalista Alexis Taylor e o tecladista Joe Goddard, o Hot Chip também protestou contra Bolsonaro durante o show.
O quarteto americano capitaneado por Jack White junto com o também vocalista e guitarrista Brendan Benson, The Raconteurs, foi a atração seguinte, quando o céu já escurecia.
Com uma banda afiadíssima, os dois mostraram canções do novo disco, "Help Us Stranger", lançado em junho passado, como as excelentes "Bored and Razed", "Help Me Stranger", "Now that You're Gone" e "Somedays (I Don't Feel Like Trying)".
O álbum chega 11 anos depois do anterior, "Consolers of the Lonely", de 2008, que apareceu no show com "Old Enough" e "You Don't Understand Me, com Jack ao piano.
Sem firulas e focados no bom e velho rock n' roll, com doses certeiras de blues e country, o Raconteurs não esqueceu dos hits do disco de estreia, "Broken Boys Soldiers", de 2006. O ex- White Stripes tocou a faixa-título, "Level" e encerraram com seu maior hit, "Steady as She Goes".
Headliner desta edição do Popload, Patti Smith, às 20h45, fechou a noite de forma avassaladora. Aos 72 anos e cheia de atitude, a cantora, que nunca havia se apresentado em São Paulo (ela fez show apenas no Rio e em Curitiba quando veio em 2006 para o Tim Festival) abriu o show animadamente com o clássico "People Have the Power, do disco "Dream of Life", de 1988.
Antes de "Ghost Dance", do álbum "Easter", de 1978, a veterana, conhecida pelo seu ativismo ecológico e político, fez discurso a favor dos povos indígenas, recebendo palmas do público. e o sucesso "Dancing Barefoot", de 1979.
Depois vieram o cover de Midnight Oil, "Beds are Burning", e a faixa do disco "Gone Again" (1996), "Beneath the Southern Cross". A poderosa "Free Money", do trabalho de estreia "Horses", em 1975, deu continuidade ao show.
Patti então se dirigiu ao backstage e o guitarrista Lane Kaye segura os fãs com os covers de "I'm Free", dos Rolling Stones, e "Walk on the Wild Side", de Lou Reed, no qual Patti retorna na reta final. Na sequência, veio mais um cover de respeito: "After the Gold Rush".
Com a voz cristalina e interpretação perfeita, a também escritora, que mais parece uma força da natureza, emocionou a plateia. Os hinos "Pissing a River", do disco "Radio Ethiopia", e "Because the Night" abriram caminho para as duas últimas canções do setlist.
Para fechar a apresentação, Patti escolheu a potente "Land (Horses/Land of a Thousand Dances)" e a catártica "Gloria: In Excelsis Deo", quando a cantora resolveu arrebentar com os próprios dedos todas as cordas de sua guitarra, enquanto os fãs, alucinados, acompanhavam atentamente.
Apesar de curto, o show teve 1h15 de duração, ninguém podia reclamar de absolutamente nada depois de testemunhar tamanha vitalidade de Patti Smith.
O Popload Festival ainda trouxe a apresentação de Boy Pablo, às 22h30. Por ter sido algo à parte da programação, o show extra foi realizado em um auditório anexo ao Memorial, exclusivo para as primeiras mil pessoas que entraram no local.
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