Joan Osborne: Pela primeira vez, cantando Dylan (e One Of Us)
Resenha - Joan Osborne (Theatro Net, São Paulo, 21/08/2018)
Por Fernando Yokota
Postado em 25 de agosto de 2018
Empenhado em desconstruir sua discografia, seja com a escolha de canções menos conhecidas ou de arranjos descaracterizantes e difíceis para seus sucessos, há dez anos, Bob Dylan se apresentava no finado Via Funchal em São Paulo. Desafiadora, era uma releitura de alguém desinteressado na repetição, no limite do desprezo pela própria trajetória em nome da exploração de novos territórios artísticos.
Dez anos depois, Joan Osborne vem ao país para se apresentar num palco que, curiosamente, fica a não muitos metros da saudosa casa de shows que abrigou as apresentações de Dylan em 2008. Seu último álbum, Songs of Bob Dylan, é fruto de uma residência que a cantora realizou em Nova York entre 2016 e 2017 dedicada à discografia de Dylan, contando somente com releituras do cantor.
Diferente do restante da turnê, quase exclusivamente baseado em seu tributo a Dylan, o repertório da noite levou em consideração o fato de ser a primeira visita da cantora e incluiu temas das diversas fases de sua carreira. O bardo novaiorquino, no entanto, fez-se presente em boa parte do setlist, como a ótima interpretação de Highway 61 Revisited, a releitura soul para Tangled Up In Blue ou Gotta Serve Somebody. A noite teve também espaço para a lembrança de seu tempo com o Grateful Dead pós-Jerry Garcia na belíssima Brokedown Palace, o atendimento do pedido de um fã (Spooky) e a participação de Luiza Possi (I'll Be Around e Work On Me, sendo esta última escrita em parceria com Bebel Gilberto). Obviamente, o grande hit da cantora, One Of Us, não poderia faltar e encerrou a apresentação.
Durante os noventa e tantos minutos de apresentação, entre canções mais conhecidas e outras nem tanto, a voz frágil e doce acompanhada dos arranjos molhados na soul music (providos pelo diretor músical, tecladista e braço direito de longa data Keith Cotton, acompanhado de uma banda de músicos brasileiros) são a antítese do Dylan das releituras irreconhecíveis e do anasalado e adstringente tom de voz. O desafio proposto por Dylan é deixado de lado por Osborne, que trouxe versões bem mais palatáveis para os temas sem evitar um pouco de seu próprio tempero. A lamentar apenas o fato de ter levado tantos anos para finalmente tocar no Brasil.
Setlist:
I Want To Be Loved
Highway 61 Revisited
Freedom
Buckets of Rain
Tangled
Brokedown Palace
Gotta Serve Somebody
Don't Think Twice, It's All Right
Spider Web
Work On Me (com Luiza Possi)
I'll be around (com Luiza Possi)
St Teresa
Spooky
One Of Us
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