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Sepultura: banda afiada e Chaos AD na íntegra em SP

Resenha - Sepultura (SESC Belenzinho, São Paulo, 25/10/2013)

Por Durr Campos
Postado em 30 de outubro de 2013

Já ficou até meio batido, mas esse negócio de escutar álbuns clássicos tocados na íntegra ao vivo por seus criadores ainda pega super bem. Sendo assim, o projeto "Álbum", realizado pelo Sesc Belenzinho, em São Paulo capital, vem desde março levando ao palco artistas e bandas em shows especiais. Já aconteceu, por exemplo, Alceu Valença tocando o disco "Vivo", Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos entoando seu "Dança das Cabeças", Edvaldo Santana com "Lobo Solitário", os Paralamas do Sucesso mandado "Selvagem?" de ponta a ponta, também a banda pernambucana Nação Zumbi, representante do movimento manguebeat, com "Da Lama ao Caos", além dos Inocentes com seu clássico "Pânico em SP" e os Titãs quebrando tudo com "Cabeça Dinossauro". Para coroar a iniciativa, eis que o SEPULTURA foi convidado para apresentar o irretocável "Chaos AD", algo que fez não só em uma noite, mas em três seguidas devido a demanda na procura de ingressos. Alguns chegaram a esgotar em 20 minutos! Estivemos lá cobrindo o segundo concerto, isto é, na sexta-feira, dia 25 de outubro.

Sepultura - Mais Novidades

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Texto: Durr Campos
Fotos: Diego Cabral da Camara

Os burburinhos pelas redes sociais já indicavam duas coisas: primeiro, a banda não tocaria as canções de "Chaos AD" (1993) na exata ordem em que aparecem no álbum; segundo, afora os doze temas (nota do redator: "Polícia" é bônus, certo?), cada um dos três shows contaria com repertórios distintos. Alguns amigos inclusive me disseram que peguei o dia "menos foda", me utilizando da expressão mais corriqueira sobre o assunto. Pode até ter sido, mas o que presenciamos, eu e o nosso fotógrafo Diego, naquele Sesc Belenzinho foi um verdadeiro cataclisma! Já pude assistir ao Sepultura pós-Max Cavalera algumas vezes mas, sem medo de errar, este foi o que melhor combinou presença de palco e qualidade de som. Tudo era ouvido com perfeição, mesmo em meio aos noises, samplers, intros e enxertos de industrial, características marcantes da fase dali adiante em sua discografia. Começar com "Propaganda" foi uma tacada de mestre, pois as guitarras parecem anunciar um incêndio. A genialidade desta canção equipara-se, por exemplo, a "Slave New World", escolhida para dar sequência ao massacre. Baseada em uma referência ao romance "Brave New World" (ou "Admirável Mundo Novo", como o conhecemos por aqui) de Aldous Huxley, teve sua letra co-escrita com Evan Seinfeld (Biohazard) e tornou-se um dos singles de "Chaos AD", ganhando até um vídeo muito legal. Foi cantada em uníssono, lógico.

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"Amen" seguiu mantendo a pegada certeira tribal que permeia todo aquele trabalho. Para quem se recorda, a canção versa sobre o massacre promovido pelos seguidores de David Koresh na cidade de Waco, Texas. Criador de uma seita chamada Ramo Davidiano, ele acreditava ser o último dos profetas. O babaca acabou causando a morte de 54 adultos e 21 crianças em um incêndio após uma investida do FBI em tentar pegá-lo sob acusações diversas, incluindo abuso sexual infantil. Acabou morrendo em 1993, após supostamente ter sido alvejado por um dos seus fanáticos. Derrick Green cantou muito bem esta, até lembrando o Max aqui e acolá. Eloy Casagrande também merece destaque, pois estava perfeito em todo o set. Andreas Kisser, guitarrista e um dos principais propagadores da banda, vem ao microfone e berra: "Estamos celebrando 20 anos de "Chaos AD". Obrigado a vocês que ainda escutam essa porra!". Em meio ao urros devolvidos pela plateia mandam "The Hunt", da banda britânica New Model Army. Mesmo tendo refeito a canção, não há nada que a desmereça, pois trata-se de um dos covers mais interessantes da carreira do Sepultura. "Nomad", escrita por Andreas, não deixou o clima esfriar, inclusive nesta tive a certeza de que Eloy foi a escolha perfeita para assumir as baquetas ali. Pavorosamente seguro e preciso, até me perguntei se já a ouvi em versão melhor. Ainda acredito que não. Particularmente achei sensacional colar com "Manifest", até porque aquela intro contendo uma reportagem à época da chacina no Carandiru ficou perfeita após as viradas finais de Casagrande na anterior.

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Uma das minhas favoritas, "We Who Are Not As Others", não me desapontou e o mesmo pode ser afirmado a todos porque a recepção foi das melhores. Os backing vocais são fortíssimos e a letra é minimalista, apenas repete o título diversas vezes, mas mesmo assim há algo especial ali no instrumental. A faixa é a cara de Max, mas mesmo sem ele tudo funcionou direitinho, incluindo a linha de baixo de Paulo Jr., uma das mais potentes em "Chaos AD". Antes de iniciar a subsequente, Andreas deu uma dica e mencionou o País de Gales. Era hora de "Kaiowas", um dos temas mais importantes de toda a carreira do quarteto. Optaram por uma versão com menos percussão – apenas Eloy e Derrick batucando – e mais guitarras. Ficou linda! Alguns podem já ter esquecido, mas esta foi composta em homenagem à tribo Guarani-Kaiowá, a qual preferiu ameaçar cometer suicídio coletivo a ver sua terra ser tomada pelo governo brasileiro. Tocaram ainda "Clenched Fist", que encerra "Chaos AD", mas aqui ficou ali pelo meio da situação. A música é bacana, possui uma pegada bem hardcore old-school e mostrou-se perfeita para o mosh-pit que já se fazia presente desde os primeiros acordes ecoados naquele espaço. Não se esqueceram de "Polícia", cover dos Titãs que, ao meu ver, supera sua versão original. Esta sempre é bem recebida.

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Convidam então João Gordo, amigo de longa data e eterno vocalista do Ratos de Porão, para duas: "Biotech is Godzilla", que ele prometeu cantar corretamente naquela feita e o hino de sua banda (um dos!), "Crucificados Pelo Sistema", já gravada pelo Sepultura em 1994 como b-side no single "Slave New World". Ambas ficaram ótimas. Andreas: "Pra quem não conhece, Eloy Casagrande na bateria!" e tome-lhe "Territory", irrefutável clássico e de fato uma das melhores coisas já feitas pela banda. A letra continua atualíssima, pois aborda os conflitos entre palestinos e israelenses. Haveria uma melhor para seguir do que "Refuse/Resist"? Certamente não, porque o Sesc veio abaixo nas primeiras notas. Outra de foco lírico sempre relevante, não dá para ficar imune à sua força e qualidade. O riff principal é memorável e certamente figura entre os prediletos dos fãs.

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O encore veio com a introdução de "Dante XXI", álbum em 2006, seguida da faixa de abertura, "Dark Wood of Error". Gosto dela, mas não me "pega". A coisa melhorou em "Altered States", infelizmente única do "Arise" (1991) lembrada no set-list. Daí resolveram tocar duas do novo, o já bastante discutido – entre amantes e detratores, "The Mediator Between the Head and Hands Must Be the Heart", lançado oficialmente exatamente no dia desta apresentação. As escolhidas foram "Manipulation of Tragedy" e "The Age of the Atheist", notadamente boas composições, daquelas diretas, cruas, sem firulas e perfeitas para o palco. Mesmo assim, não achei que deveriam ter sido escolhidas, pois se tratava de um concerto especial, de celebração ao passado. Além do mais, já haverá em breve uma turnê mundial para o disco recém-editado, então já serão tocadas de qualquer forma. Sei que muitos irão achar que eu disse isso porque gostaria de ouvir mais coisas da fase Max e blá blá blá. Mesmo não sendo de todo uma inverdade, eu não me importaria tanto se tocassem algo do "Against" (1999), estreia de Derrick, ou mesmo de "Nation" (2001). Já foi. "Ratamahata", grata surpresa, contando com os vocais de Andreas no comando, detonou! Curto bastante essa bagunça que eles insistem em chamar de música, de coração. Talvez seja a única coisa que eu realmente escute com prazer que tenha as mãos do Carlinhos Brown envolvidas. Mas faltava uma, certo? Exatamente: "Roots Bloody Roots", o encerramento obrigatório de hoje e sempre. Saldo: banda afiadíssima, entrosada, com uma pegada e jovialidade inquestionáveis e, sim, detentora de umas das performances cênicas mais insanas do metal brasileiro. Goste ou não ainda do que fazem, creio que disso poucos irão discordar.

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Line-up
Derrick Green – vocais
Andreas Kisser – guitarra, vocais
Paulo Xisto Jr. – baixo, vocais
Eloy Casagrande – bateria

Set-list
Propaganda
Slave New World
Amen
The Hunt (New Model Army)
Nomad
Manifest
We Who Are Not As Others
Kaiowas
Clenched Fist
Polícia
Biotech is Godzilla (com João Gordo)
Crucificados Pelo Sistema (com João Gordo)
Territory
Refuse/Resist

Encore:
Intro/Dante XXI
Dark Wood of Error
Altered States
Manipulation of Tragedy
The Age of the Atheist
Ratamahata
Roots Bloody Roots

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Sobre Durr Campos

Graduado em Jornalismo, o autor já atuou em diversos segmentos de sua área, mas a paixão pela música que tanto ama sempre falou mais alto e lá foi ele se aventurar pela Europa, onde reside atualmente e possui família. Lendo seus diversos artigos, reviews e traduções publicados aqui no site, pode-se ter uma ideia do leque de estilos que fazem sua cabeça. Como costuma dizer, não vê problema algum em colocar para tocar Napalm Death, seguido de algo do New Order ou Depeche Mode, daí viajar com Deep Purple, bailar com Journey, dar um tapa na Bay Area e finalizar o dia com alguma coisa do ABBA ou Impetigo.
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