Kiss: apresentação digna após quase 40 anos de carreira
Resenha - Kiss (Anhembi, São Paulo, 07/04/2009)
Por Pedro Zambarda de Araújo
Fonte: Bola da Foca
Postado em 25 de abril de 2009
Tanto dias depois da apresentação do Kiss, no dia 7 deste mês, uma terça-feira, parecia impossível que eu pudesse escrever uma resenha. No entanto, mesmo assim, ainda me sinto na obrigação de comentar como foi a experiência de estar entre as 35 mil pessoas no Arena Anhembi, testemunhando uma apresentação digna de uma banda com quase 40 anos de carreira nas costas. Por isso, e por muitos outros detalhes, não vou comentar o repertório inteiro, mas apontar detalhes que vão além das músicas executadas, dos fogos de artifício e da maquiagem do público.
Começo pela banda de abertura escolhida: para a surpresa de muitos, e sem nenhum telão que os mostrasse de perto, Edu Ardanuy, Andria Busic e Ivan Busic, da banda Dr. Sin, estavam no palco. Sabemos que rock progressivo e hard rock com maquiagem não costumam combinar, mas eu pessoalmente vibrei com os caras na ativa, apesar do Andria exagerar no discurso pró-Kiss e pró-público, ficando chato na maioria das vezes. Então, com um repertório reunindo "Fire" e "You Stole My Heart", além de algumas do novo CD "Bravo", eu não tinha como ficar triste. Mesmo assim, o pessoal insistia que eles estavam sendo inconvenientes e atrapalhando o show do Kiss. Bom, ficou essa situação até tocarem "Futebol, Mulher e Rock´N´Roll". Nem preciso falar que todos começaram a pular absurdamente na parte do "eta, eta, eta, brasileiro quer...", até mesmo quem não curtia Dr. Sin. É o tipo de música para todo os gostos.
Setlist do Kiss em São Paulo não foi diferente do Rio, exceto pelo acréscimo de "Love Gun", que não foi tocada na Apoteose por conta da chuva. No mais, de "Deuce" até "She", Paul Stanley, Gene Simmons, Tommy Thayer Eric Singer mostraram um entrosamento que uniu com feeling a "nova" banda (Tommy e Eric) com a "velha guarda" (preciso dizer?). O público estava extasiado com todas as luzes e efeitos sincronizados, mas era também interessante ver que o guitarrista solo que substituiu Ace Frehley criando pequenas improvisações e um toque pessoal nas músicas exibidas. Ao mesmo tempo, o novo "Peter Cris" conseguia fazer uma bateria sólida e rica em detalhes, cantando também em alto e bom tom. Para fãs, nada podia estar mais perfeito.
Foi então, quando a banda parou, que as "pequenas improvisações" viraram grandes solos, marcados com música erudita até o blues. Para as pessoas que pensam que Kiss é apenas um bom golpe marketing, sem muito conteúdo, Tommy Thayer criou um intervalo instrumental que atraiu todos os presentes até, por fim, disparar rojões da ponta do braço da guitarra. Sabe o sentido literal de show? Era o que testemunhamos ali.
"Watchin´You" e "100.000 Years", infelizmente, mostraram um Gene Simmons não mais com a mesma potência vocal. É a idade. Muitas vezes, Paul Stanley e até Eric Singer (?) cobriam suas partes na música. Porém, "The Demon" continua cativante, seja lambendo o próprio contrabaixo ou provocando o público enquanto pode.
Black Diamond teve uma brincadeira de Paul Stanley. "Acidentalmente" tocando acordes dedilhados de "Stairway to Heaven", o vocalista solta "oops, wrong music". "Not for this night". Então é executada a música verdadeira, embora o pessoal não reclamasse do cover espontâneo de Led Zeppelin. E, por fim, encerrando o primeiro bloco, "Rock´n´Roll All Night" foi ovacionada com seu real valor: é a música que mostra tudo o que o Kiss já fez, mesmo que as pessoas estejam cansadas dela. A sensação era que todos já estavam plenamente satisfeitos naquele momento.
A segunda parte trouxe "Shout It Out Loud", "Lick it Up", "Won't Get Fooled Again", "I Love It Loud", "I Was Made For Lovin' You", "Love Gun" e "Detroit Rock City", que não são do CD Alive original de 1975. Mesmo assim, a apresentação em si era uma homenagem a esse álbum, que completará 35 anos em 2010 e que começou com os registros ao vivo da banda. Por isso, tanto público quanto os astros estavam cientes que, embora a formação original não estivesse ali, era um momento histórico eles simplesmente terem durando todo esse tempo, independente das críticas.
Das últimas tocadas, "I Love It Loud" teve o tradicional "cuspe de sangue" de Gene Simmons, antes dele ser erguido por cordas, voando, até o palco superior. A tinta vermelha, que causa repulsa em pessoas que não curtem o Kiss, era acompanhada por batidas em um baixo extremamente amplificado, que dava todo o aspecto sombrio ao músico, iluminado apenas por uma luz verde.
Provocando também o público, Paul Stanley perguntou se eles gostariam de tocar a próxima música junto com ele. "São Paulo, do you want me there?" berrou o frontman, completando em seguida "then, scream my name!". O resultado foi "Love Gun", que contou com o vocalista sendo transportado de tiroleza para um segundo palco, no meio do público (e longe da área VIP, para a raiva de muitos que pagaram caro).
"Detroit Rock City", do álbum "Destroyer", fechou a apresentação com mais brincadeiras da banda, com Paul Stanley ovacionando o público e berrando "São Paulo Rock City!". O show de fogos de diversas cores no final deu um excelente fim de noite para todos. Tínhamos presenciado os reis do entretenimento e, mesmo tantos dias após o show, eu não poderia deixar de descrever a sensação de satisfação estampada na cara das pessoas, de velhinhos até crianças, de pessoas que ficaram mais sossegadas atrás até o pessoal maquiado que estava suado e acabado no final do concerto.
Também é importante lembrar a qualidade técnica da banda. Da queda do manto escrito Kiss, que começou o show, até o final, as sensações eram variadas. Quem estava na área VIP e bem na frente, contou com provocações diretas da banda, que insistia em tocar para o público e não para eles mesmos. Aos que estavam na pista normal e mais ao fundo, Stanley e sua trupe posaram e provocaram muitas vezes diante das câmeras que estavam posicionadas no palco e sendo reproduzidas no telão. Era como ver um DVD muito bem feito ao vivo.
Muitos podem não gostar do estilo lúdico e despojado do Kiss, com uma produção pesada que cuida de sua aparência. No entanto, depois de um show nos anos 1980 (em 83) e três na década de 90 (94, sem maquiagem, e 99, com máscaras e integrantes originais), essa apresentação está para ficar na memória. Possíveis falhas que ocorreram são apenas devido a idade dos músicos, que foram totalmente apagadas pelo talento dos novos integrantes. De resto, Kiss é uma demonstração de profissionalismo e atitude, por mais que questionem ou que seja apenas pelo dinheiro.
Outras resenhas de Kiss (Anhembi, São Paulo, 07/04/2009)
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps