Morbid Angel: O circo de horrores dos Reis do Death em São Paulo
Resenha - Morbid Angel (Santana Hall, São Paulo, 08/03/2009)
Por Glauco Silva
Postado em 14 de março de 2009
E os - com toda justiça, convenhamos - considerados reis do Death mais uma vez trouxeram seu circo de horrores a São Paulo, sendo esta a terceira passagem do Morbid Angel pela capital. Teve gente que achou que o intervalo entre as duas últimas visitas foi muito curto (pouco mais de três anos), e estes que não compareceram perderam um espetáculo de brutalidade e precisão como poucos proporcionam!
Fotos: Sallua de Moura
O que mudou de 2005 pra cá? Pouca coisa, na verdade, e a mais significativa se revelou assim que as cortinas do quente Santana Hall se abriram: a presença de Destructhor, da máquina norueguesa Zyklon, ocupando o trono que já foi de Richard Brunelle, Erik Rutan e Tony Norman (que tocou no Parque Antarctica). Uma aquisição espertíssima, pois o cara é um animal com sua Dean Razorback… não deve absolutamente nada a seus antecessores tanto no complicadíssimo aspecto técnico - não é qualquer um que consegue seguir os rastros do Trey - como no de presença de palco.
Aos primeiros acordes da devastadora "Rapture", entram David Vincent, Pete Sandoval e Trey Azagthoth na arena, e a insanidade se espalha na pista rápida como fogo na gasolina. Em cerca de uma hora e meia, provaram por A mais B o porquê de ser, provavelmente, a mais influente banda de Death Metal do planeta, atuando há nada menos que um ininterrupto quarto de século. Executaram seus clássicos rigorosamente idênticos aos arranjos dos álbuns, só tirando o pé do acelerador em algumas partes para evidenciar ainda mais o peso colossal.
AINDA é algo de causar medo o que o Commando faz com as baquetas e bumbos… o mesmo maníaco que ajudou a aperfeiçoar e moldar os blastbeats com esse ícone eterno que é o Terrorizer. As décadas se passaram e ele evoluiu ainda mais sua técnica invejável - até pela competição que "polvos" como Tony Laureano, Max Kolesne e Derek Roddy, só pra citar alguns, impuseram com o desenvolvimento do Metal extremo. O cara continua relevante, e uma absoluta referência na brutalidade percussiva.
Aí veio "Pain Divine" pra manter o pique, e o sempre aguardado retorno aos velhos tempos: "Maze Of Torment" nos remete ao quintessencial álbum "Altars Of Madness", com os moshpits cada vez maiores no meio do público - estes sempre incentivados pelo David. O cara tem o público na mão o tempo todo, comandando a turba enquanto dedilha (incrível ele não usar palheta) seu baixo e vocifera suas blasfêmias inomináveis.
Aliás, mister Vincent pelo jeito desceu de vez do salto: ao invés do jeito sisudo que demonstrou na plenitude de sua carreira, foi de uma surpreendente simpatia com o público durante todo o show… incentiva as rodas, o pessoal cantando (embora eu torça o nariz pra esses ô-ô-ô popularescos), agradecia muito a participação. E felizmente, como dá pra perceber nas fotos, não compareceu com nenhum modelito exótico como nos shows dos EUA e Europa!
Após a respirada com "Sworn To The Black", vem a segunda surpresa agradável da noite: detonam um som novo, intitulado "Nevermore". É da mesma identidade do que a banda andava fazendo pelos idos do "Covenant", uma verdadeira tijolada que aumentou bastante a expectativa sobre o que deve vir no próximo álbum. Paradas estratégicas, riffs cáusticos e o David urrando com aquele vozeirão que só encontra paralelo, como já bem disse o Karl do Nile, no ator James Earl Jones (o Thulsa Doom de "Conan, o Bárbaro" e dono da voz robótica de Darth Vader) - perfeito!
Aí seguiu um combo inacreditável, de levar o fã de death a um estado catatônico: "Lord of all Fevers and Plague", a eterna "Immortal Rites" (com a parte do teclado sendo emulada em uníssono pela platéia), uma execução inesquecível da - inexplicavelmente - meio abandonada "Fall From Grace", e o tiro de misericórdia com um dos hinos que são sinônimos indissociáveis do Death Metal: "Chapel of Ghouls", que arrepiou este escriba até a medula.
Tinha espaço pra mais? Ora, se tinha… senti falta do coice "Day Of Suffering", mas a turma do Trey (aliás, ele apagou mesmo as tattoos?) mandou a mais surpreendente e agradável surpresa do evento: tiraram da manga uma versão exata de "Bil Ur-Sag", que para mim é - disparada - a melhor música da era Steve Tucker. Um míssil mais que certeiro, sacada muito inteligente e que até serve como emblema da humildade que estão demonstrando neste momento (ouvi relatos de muita gente que conheceu os caras, dizendo que foram de uma simpatia ímpar).
Aí temos esse demente chamado Trey Azagthoth, a única pessoa que me atrevo a chamar de GÊNIO no Metal Extremo. Tudo nele é hipnotizante: o contorcionismo no palco, as escalas que definitivamente não são desse mundo, os riffs e bends grotescamente pesados, a dissonância que tira do nada… é sempre catártico assistir a esse genuíno mestre da guitarra, o cara é o Eddie Van Halen do Inferno!
"Dominate" é mais uma exibição da ignorância e resistência do Pete na bateria, "God of Emptiness" é o quase-hit (teve alta rotação na antiga MTV) que vai fechando o encore com todos cantando seu final memorável e, ironicamente pelo título, "World of Shit" encerra a viagem. Chega a ser fácil relatar um show desses, aquela situação de quando se assiste aos mestres da arte esbanjando toda sua maestria com uma naturalidade inacreditável. Só torço pra que o intervalo para o próximo show seja de MENOS que 3 anos…
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