Jan Akkerman: Em São Paulo, o estilo indelével do fundador do Focus
Resenha - Jan Akkerman (Ibirapuera, São Paulo, 23/11/2007)
Por Rodrigo Werneck
Postado em 05 de dezembro de 2007
Para os fãs brasileiros do grupo progressivo holandês Focus, indubitavelmente um dos ícones do estilo, uma lacuna estava aberta há anos. Apesar das recentes visitas do grupo ao país (em 2002, 2003 e 2005), liderado pelo carismático e rotundo flautista e organista Thijs van Leer, uma nova vinda do guitarrista e co-fundador Jan Akkerman era há muito aguardada. A primeira havia ocorrido em 1989, como parte do projeto "Night of the Guitars", e havia também trazido Leslie West (Mountain), Andy Powell e Ted Turner (Wishbone Ash). Tal lacuna pôde finalmente ser preenchida este ano com 4 apresentações em solo tupiniquim, e em grande estilo.
O grupo que acompanhou Akkerman especificamente nesses shows, denominado Brasil Holanda Jazz Connection, foi formado pelo tecladista (também holandês) Mike del Ferro e pelos brasileiros Ney Conceição (baixo) e Márcio Bahia (bateria). Mike tem em seu currículo uma extensa carreira internacional, tendo se destacado por uma ousada fusão de ópera e jazz. Já tocou com músicos do primeiro time como Toots Thielemans, Jack DeJohnette, o brasileiro radicado nos EUA Oscar Castro Neves, e também Thijs van Leer. O magistral baterista Márcio Bahia, sem sombra de dúvidas um dos melhores do mundo em sua função, já foi integrante da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, assim como do grupo de Hermeto Pascoal, entre outros projetos com monstros da música instrumental brasileira, como Itiberê Zwarg e Hamilton de Holanda. Sem ficar para trás, Ney Conceição tem uma carreira bastante eclética, tendo tocado com músicos dos mais diversos estilos, de Carlos Malta a Moraes Moreira, de Sivuca a João Bosco, e muitos outros. É um dos mais aclamados baixistas da atual cena brasileira musical, e altamente requisitado. Coincidentemente, tanto Ney quanto Márcio tocam eventualmente com outro guitarrista holandês, Jan Dumée, que – coincidência ou não – substituiu Akkerman no Focus entre 2001 e 2005. Dumée e Ney integram hoje em dia o grupo On The Rocks, que inclui o vocalista britânico John Lawton (ex-Uriah Heep) em suas fileiras e que no momento está mixando seu CD de estréia, a ser lançado em 2008. Mas essa já é uma estória para outra ocasião...
O projeto Plataforma Brasil Holanda Jazz foi quem promoveu a turnê, que passou pela Bolívia, Argentina, e pelas cidades de Cuiabá e Salvador, para finalmente ser fechada com chave de ouro em duas datas no impecável Auditório Ibirapuera, em São Paulo. E, enfim, poucos minutos após as 9 horas da noite do dia 23 de novembro, uma sexta-feira, as luzes se apagaram e Jan Akkerman adentrou o palco do auditório munido de seu violão. Num começo intimista, encarou a platéia sedenta por música com um longo improviso que só foi subitamente interrompido por um acaso do destino: uma das cordas de seu violão arrebentou. Nesse momento, os demais músicos já haviam se juntado a ele no palco, e seguraram a peteca enquanto Akkerman rapidamente largou o instrumento de lado e muniu-se de sua indefectível guitarra Les Paul preta, para deleite do público presente.
O show prosseguiu num clima descontraído, recheado de improvisos e solos de todos os integrantes da banda. Na realidade, embora Akkerman fosse a atração principal, o show era anunciado como sendo dos quatro. Seguiram-se alguns números da carreira solo de Jan, como "Streetwalker" (do disco "Jan Akkerman", de 1977) e "Heavy Treasure" (do disco "Can't Stand Noise", de 1983), assim como um sensacional dueto de violão (já com a corda trocada, é claro) e bateria em "Central Station" (do disco "Pleasure Point", de 1981). Esta música, segundo Akkerman dedicada ao vaivém de pessoas numa estação de trem, é normalmente tocada apenas no violão, mas o arranjo inusitado surpreendeu e agradou, com uma brilhante participação de Márcio, um músico de muitos recursos e que sabe como poucos alternar entre força e sutileza, numa esplêndida performance dinâmica.
Falando em arranjo inusitado, o mesmo ocorreu no primeiro tema do Focus incluído no repertório, "Love Remembered", nesse show apresentada com o arranjo feito pelo maestro alemão Claus Ogerman para o disco (de Akkerman) "Aranjuez", de 1978 (e portanto bastante distinta da versão original presente no disco "Focus III", de 1973). Após o seu término, era chegada a hora de Jan deixar o palco para seus companheiros brilharem. O trio composto por Del Ferro, Conceição e Bahia levou com maestria um cover de "Bilhete", música de Ivan Lins, mas aqui incluída em versão totalmente irreconhecível. Foi o momento de Mike brilhar, tanto no piano quanto no teclado digital do qual extraía sonoridades perfeitas de piano elétrico, órgão, e outros timbres quando necessário.
O retorno de Akkerman ao palco foi marcado por "Piétons" (também do disco "Can't Stand Noise"), porém numa brincadeira com o público, o grupo começou a tocar "Hocus Pocus", o maior sucesso do Focus, para então parar e reiniciar com a música programada. Entre os improvisos no seu meio, Akkerman chegou a tocar alguns acordes que remeteram à música-tema dos Flintstones, numa brincadeira recorrente em seus shows (não raro inclui temas de 007, entre outros). Ao final, mais uma vez emendaram numa versão instrumental de "Hocus Pocus", incluindo a emulação do célebre canto "yodel" de Thijs van Leer por intermédio de um dedilhado na guitarra de Akkerman, para delírio dos presentes. O show já se aproximava dos 90 minutos de duração, e seu fim estava próximo.
Após a esperada despedida e o posterior retorno para o bis, o último tema tocado foi "Floatin'" (também do disco "Jan Akkerman"), em longa e inspirada versão. Embora o repertório tenha se restringido a momentos específicos da carreira de Akkerman (deixando de fora muito material a princípio imprescindível), o clima presente era de clara satisfação. O guitarrista que em 1973 foi eleito pela revista inglesa Melody Maker o melhor do mundo, desbancando francos favoritos como Jimmy Page, Eric Clapton e Jeff Beck, mostrava ao público brasileiro que seu estilo idiossincrático permanece indelével.
A chegada ao final do espetáculo deixou um gosto de "quero mais", que muito provavelmente poderá ser saciado no ano que vem com um prometido retorno. O público presente, de qualquer forma, saiu extasiado e totalmente satisfeito. A longa espera valeu.
Agradecimentos especiais a Tami Toledo Matuoka e Coraly Pedroso, da Plataforma Brasil Holanda.
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