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.evolution Festival: Fotos e comentários sobre um evento que já nasceu

Resenha - .evolution Festival (Brescia, Itália, 14 a 16/07/2006)

Por Leandro Testa
Fonte: Turista Acidental
Postado em 12 de agosto de 2006

Apesar de jovem, este é um evento que nasceu forte e traz toda a pinta que veio para ficar, fazer crescer sua reputação e bater de frente com concorrentes já consolidados (ou caminhar de mãos dadas) como o Gods of Metal, maior representante do gênero em terras italianas e que em sua décima edição, junho passado, trouxe ninguém menos que os Guns 'n Roses como headliner para o encerramento da maratona duplicada para 4 dias seguidos (contra três do .evolution, nesse seu 2° ano e apenas uma data no de estréia, em 2005). As boas novas da estação (que nesse um mês e meio separando ambos supracitados, recebeu uma inesquecível visita do Metallica também em um grandioso festival) não são apenas para os headbangers daqui e sim para os de toda a Europa, já que estes parecem acompanhar a temporada de verão (a apenas uma quinzena do Wacken Open Air na Alemanha) e marcar presença no circuito tremulando com afinco a flâmula de suas respectivas nações.

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O cenário aqui encontrado não poderia ser mais belo: de frente para as montanhas e à beira do Lago de Garda, que garante deleite e refresco, respectivamente, em um típico entardecer escaldante de julho. O line-up de porte da primeira investida, debutada em 2005 exalando respeito, cheira também ter sido escolhido com esmero e felicidade, gerando uma gama diversa de grupos com o germânico (e ótimo) The Vision Bleak, o bizarro Lordi (Finlândia), os suécos Entombed e Dark Tranquillity, o cultuado Orphaned Land (Israel), um senhor vocalista como Sebastian Bach (EUA, ex-Skid Row) e os cabeça-de-chave, Nightwish, como chamariz, além de representantes da casa, Vision Divine (power) e Dark Lunacy (death melódico), cujo segundo repetiu sua participação agora na 6a-feira (14), jornada dedicada tão somente a emergentes locais, mais o Labyrinth (abusando demais-demais de agudos 'a la castratti') e os veteranos do Death SS, abusando da imagem para causar choque, cruzes incineradas e/ou como objeto de masturbação de uma senhorita nua (figurante), além de banho de sangue, enquanto alternavam clássicos de estilos diversos pelos quais o líder Steve Sylvester transitou nessas decadas de serviço ao rock-horror, quase contemporâneo a Alice Cooper.

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No sábado (15) foi dado o pontapé inaugural às 11 horas com Arthemis, dando conta do recado, mas tirando um cover duvidoso de 'Deathrider' do Anthrax. O intervalo programado era de 15 minutos entre os espetáculos iniciais, aumentando gradativamente e ainda com folga para os derradeiros, contra eventuais atrasos. Assim, vieram em curto espaço de tempo os franceses do Nightmare (se esquivando das inevitáveis brincadeiras em relação à Copa do Mundo - heavy tradicional, cujo catálogo mais recente, pós-reunião, pode ser encontrado em versão nacional pela Hellion Records), Eldritch (de Livorno, prog potente e cada vez mais pesado, que desde sempre criou uma discografia elogiada) e o Korpiklaani, a nova sensação festeira do folk finlandês, cômico até certo ponto, cujo frontman, Jonne Järvelä, teve seguidos problemas com a guitarra e o 'arraial' não foi nem sombra do escancarado em agosto passado no Summerbreeze (nas proximidades de Stuttgart, Alemanha), tal qual o cast desta empreitada traz importantes similaridades em no mínimo cinco atrações, à exemplo do volumoso sinfônico alemão Haggard e o norueguês Tristania, ambos que anunciaram estar trabalhando em seus próximos registros, sendo que o último (já sem outro de seus vocalistas, que abandonou o barco) apresentou nova canção, mais soturna que de impacto, como é a marca registrada de muitas de suas criações.

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Contudo, violinos e afins ficaram para trás, pois era chegada a vez de Schmier e seu Destruction ou, depois, os extremos porradaria do Nile (substitutos do Annihilator, que cancelou sua participação), não dando quase descanso aos nossos ouvidos após um ataque thrash old-school, dando-me a impressão que os estadunidenses permaneceram menos que o previsto, talvez por ser desaconselhável ao cérebro por mais de uma hora (ainda mais num duo speed assim).

Novamente o Dark Tranquillity marcou presença e certamente deixou marcas com um show energético, com o vocalista Mikael Stanne endiabrado, sendo o primeiro a realmente extrair do público mais do que prometeriam, incluindo incitá-los "à força", ao descer do tablado para o contato cara-a-cara. Disse da sua satisfação em estar na estrada, principalmente com um feedback desses, e brindou-nos com uma música saída do forno, quente, veloz, mas ainda assim trazendo algum 'frescor' à sonoridade que vem sendo moldada com méritos, incluindo passagens pelo gótico, palavra esta que seria intrinsicamente ligada com seu sucessor, Within Temptation, se ainda tocassem material do primeiro disco/EP, uma vez que o abandonaram em detrimento de se fixar na fase progressivamente mais pop (e ainda de tremendo bom gosto), acompanhada da releitura para 'Run Up That Hill''de Kate Bush. Nenhuma novidade foi mostrada em relação ao set que os holandeses sempre vem praticando (pela falta de rumo?), este que ficou bastante prejudicado pela ausência quase total de distorção na orelha (e volume, consequentemente!) nas primeiras execuções, fato que deve ter feito bocejar os mais radicais que ali aguardavam o Cradle of Filth. Ao contrário dos antecessores, que trouxeram os costumeiros enfeites, com anjos de cemitério, etc, os ingleses vieram sem frescuras, só com a estonteante tela de fundo representando sua obra 'Damnation and a Day', deixando a parte visual mais para a maquiagem black (de dar pavor), transmitindo frieza, enquanto o inquieto showman, Dani Filth, critica seguida e propositadamente o cansaço expressado nas ovações, "that was rubbish" (que lixo!). A condição mais mainstream não é indevida. Sim, tem apelo, mas justificado pelo que ecoa de forma devastadora dos auto-falantes.

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Domingo (16) começou com uma grata revelação suéca, Kayser, desfilando um thrash moderno e arrancando aplausos pela sua competência indiscutível. Igualmente especial no estilo que se propõe, o Secret Sphere sempre se impôs dentre à imensidão de conjuntos melódicos que transbordam na terra da bota. Talvez por isso, com uma proposta nada acessível, os genoveses intrincados do Sadist tiveram férias forçadas, numa chamada "pausa reflexiva" de 6 anos, coisa que a organização demonstrou estar muito orgulhosa de tê-los ali, dando o passo de retomada em algo que o detentor do microfone, Trevor, caracterizou como "enquanto a barriga e os cabelos brancos permitirem", eles estarão à solta. Foco absoluto, no entanto, para Tommy Talamanca, que além de fundador e responsável pelas seis cordas, comandava concomitantemente o teclado (muito mais abusado que Geddy Lee, do Rush, e correlatos), nem parecendo que estava se refamiliarizando com o riscado, tamanha a maestria com que lidava com ambos instrumentos. É, era a magia dos revivals, fazendo bonito e ratificando a volta de dois dos melhores ícones do death técnico (consagrado pelos calibres de Cynic, Pestilence, Watchtower, Sadus, o insubstituível Death), incluindo o aclamado Atheist (oriundo da Flórida), reformado com dois 'axe-men', mas ainda sólido em seu núcleo, sendo principalmente saudado o fabuloso baixista Tony Choy (ex-Cynic, mas nesta banda em 'Unquestionable Presence', de 1991, e 'Elements', de 1993), que foi acometido de pequeno infortúnio ao pular com vontade e uma das tábuas se soltarem. Tão logo ali voltou, veio abaixo, de encontro com um baú que se situava sob a plataforma. Passado o susto, rolou um mini-solo-improviso de Steve Flynn retornando ao seu kit, ao tempo que Tony foi obrigado a passar para quatro cordas, em vez do seu costumeiro "brinquedo", assim classificado, de cinco.

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Impossível de não notar (e comentar) foi o pessoal atracado à grade cedendo espaço para o simpaticíssimo, empolgado e também fã, Mikael Stanne (Dark Tranquillity), poder "tietar" ali grudado, principalmente às mais requisitadas do clássico 'Pieces of Time'.

Dentre os dois acima houve a invasão guerreira finlandesa sempre bastante apreciada (quase tanto quanto a viking) por nórdicos e europeus, que tratam como verdadeira religião tal "antiga" filosofia. Um pouco tardia, é verdade, a invasão do Ensiferum, que ficou preso no trânsito, cedendo seu lugar ao próximo escalado e causando apreensão aos que duvidaram de seu mantenimento na lista. Não obstante, 'vieram, viram, venceram' (se ignorada sua lenta vida fonográfica, é claro), acompanhados do compatriota Finntroll (epiteto que resume muito bem suas grotescas características 'trollish humppa metal'). Uma baixa um pouco significativa foi a ausência do tecladista oficial, Trollhorn, que também toca sanfona e, portanto, imperou um clima menos amigável e sim mais direto, sem muitas concessões ao humppa (dança de seu povo, assim como a polka significa para os russos e o 'oompah' para os germânicos). A troca de frontmen parece ter sido bem aceita pelos avaliadores 'in loco', mas é inégável que o bonachão demitido, Tapio Wilska, transmitia mais o espírito cervejeiro dos trolls.

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Troca de turno também entre aqueles que se viram saciados e os apreciadores da atmosfera ambient do The Gathering. Como o quarteto de "suporte" à Anneke van Giersbergen parece não ter muitas dificuldades com seus respectivos afazeres, o destaque acaba indiscutívelmente ficando com a graciosidade, carisma, molecagem desta holandesa, que verdadeiramente encanta, seja apenas ao microfone, com sua 'air-guitar' ou dando uma palhinha com uma real, para possibilitar um curto gostinho de algo mais recheado, em contraposição a elementos eletrônicos, passeando por temas mais pulsantes, energizados ou então aqueles introvertidos, querendo explodir.

A dobradinha a seguir seria norte-americana, primeiro com o saudoso Armored Saint e, na virada, o já comentado Atheist. John Bush e Joey Vera estavam impossíveis como sempre, espivetados. Um dos irmãos Sandoval, Gonzo, arremessou bolas de plástico para galera brincar um pouco, enquanto que Phil em uma das pontas e Jeff Duncan na outra permaneceram ao longo da batalha deveras contidos, quase imóveis (ou tão concentrados e sorridentes como uma estátua).

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Provavelmente a trupe mais aguardada na ocasião era o Amon Amarth e a postura bárbara causa um efeito demolidor na mente já chacolhada de um metalhead. Passa-se a adorar deuses pagãos, Asgard, capacetes com chifres e navios desbravadores, permeados pelo pequeno aperitivo do CD 'The Crusher', mas calcados nos trabalhados mais recentes, 'Versus the World' e 'Fate of Norns', basicamente o que pode ser encontrado no DVD há pouco disponibilizado.

Os portugueses do Moonspell demonstraram bom poder de fogo e controle da situação, apesar de Fernando Ribeiro não ter aproveitado sua língua-madre para arriscar uma comunicação em italiano. Poderia ter ganhado pontos, mas desperdiçou, ao contrário da metade dos que ali se apresentaram, apelando para a 'colinha' grudada no chão ou não. Quando impelidos para voltarem aos primórdios, o mesmo retrucou: "no, we were just a bunch of kids.." (éramos apenas um bando de crianças), retrocedendo, entretanto, até 'Wolfheart' ('Vampiria') ou a indispensável 'Opium'. Indago-me o que teriam pedido mais 'primórdio' que isso!?

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Dando as caras a essas terras também depois de um longíssimo hiato, o Death Angel entra por volta das 21:30 a fim de consolidar seu 'The Art of Dying' para espectadores ainda insandecidos, aos quais Mark Osegueda fez juras de amor, pela sempre impressionante receptividade e muita agitação no mosh.

Tentando também dar bases concretas a seu 'Lionheart' foi o Saxon, mas não se desenvolveu assim tão simples, pois diante da pesquisa interativa de preferência entre tais composições frescas ou de quinquênios atrás, obviamente próximo ao 100% de votos para as bem mais velhas. Assim, não faltou 'Motorcicle Man'’ e adjacentes. Uma que não costumam executar em festivais, mas o seria especialmente feito na ocasião, foi 'The Eagle Has Landed' à luz dos holofótes da àguia que adornava brilhante no horizonte de suas costas, assim como Biff Byford também se referiu a 'Crusader', "tentam nos impedir, mas nunca pararemos de tocá-la", referindo-se a indignação de terem sido barrados no Desert Rock em Dubai, nesta turnê, por causa do conteúdo de um trecho de tal letra.

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Problemas atrapalharam um pouco Doug Scarratt, principalmente evidentes nos solos (e o roadie perdidão...).
No bis do bis do bis, para fechar, 'Denin and Leather'. Não muito poderá ser adiantado sobre a eminente ida ao Brasil, já que presenciei uma prévia extendida do que será em breve mostrado no Live 'n Louder 2006 (com horário certamente encurtado). Biff agradeceu a todos os estrangeiros que foram lhe prestigiar, comentando, "até gente do México", mas bem se podia ver bandeiras de países aqui limítrofes, ou uma "duvidosa" placa de carro estacionado da Noruega. Esta aí a popularidade em franca ascensão de uma celebração que já chegou dizendo a que veio, um objetivo bem transparente no próprio nome que ostenta.

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