Heavy Metal: Existem subgêneros em excesso no Metal? Ou todos eles são essenciais?
Por Bruno Rocha
Postado em 03 de novembro de 2016
Gêneros, subgêneros, estilos, rótulos... Todo tipo de universo que seja amplo e abrangente precisa distinguir seus tipos dependendo de certas características. Dentro do Rock e do Heavy Metal não seria diferente, já que os dois são exemplos de universos amplos e abrangentes. Desde o surgimento do Rock nos anos 50 pessoas com musicalidade acima da média conseguiram agregar ao estilo suas visões e interpretações de como fazer Rock. De modo que o Rock deixou de ser uma coisa linear e passou a ter diferentes facetas. Aí entram as tais terminologias que diferenciam os diferentes tipos de Rock, e que também tanto causam discussões.
Dentro do Heavy Metal em particular, os gêneros são essenciais para que o ouvinte se situe em relação à sonoridade de certas bandas. Por exemplo, IRON MAIDEN e SEPULTURA são duas bandas de Heavy Metal, mas obviamente as duas possuem sonoridades muito diferentes entre si, o que implica que o termo Heavy Metal deixa de ser suficiente para sintetizar o som que as bandas se propõem a fazer. Então os gêneros, como Tradicional, Thrash, Black, Doom, Death, Power, Prog, etc., se fazem necessários para diferenciar as bandas de acordo com suas características e peculiaridades.
Há vários músicos que não gostam que se rotulem as sonoridades de suas bandas, apresentando muitas vezes como justificativa a limitação. Limitação de como o estilo da banda é desenvolvido e limitação de público potencialmente interessado em conhecer a dita cuja banda. Se uma banda é rotulada como Metal Core, por exemplo, certamente ela não vai ter a procura de fãs de um Metal mais tradicional, mesmo que essa banda tenha influências de algo mais clássico. O AVENGED SEVENFOLD que o diga...
Mas acontece que o Heavy Metal, com sua excelente capacidade de absorver novas molduras musicais, se expandiu muito. Consequentemente os gêneros se reproduziram e vários deles passaram a existir e confundir a cabeça de muitos headbangers. Algumas das nomenclaturas mais tradicionais fazem de fato sentido. Mas alguns nomes surgiram sem embasamento algum, muitas vezes tendo como único parâmetro os temas líricos, donde são descartáveis. Vamos ver alguns destes casos, ficando somente no som, ou seja, nada de figurinos, maquiagens ou abordagens líricas. Analisemos primeiro algumas confusões que geralmente surgem ao decidir se uma banda é de um gênero ou de outro.
Heavy ou Hard?: para começar, vamos à confusão mais abrangente, a dos limites entre Hard Rock e Heavy Metal. Nos anos 70, como muitos de vocês devem ser cientes, o termo Heavy Metal surgiu com conotação pejorativa para designar a sonoridade pesada de bandas como BLACK SABBATH, por exemplo. Mas na época o termo Hard Rock também já existia para caracterizar bandas com essa sonoridade mais pesada. Aí entram SIR LORD BALTIMORE, LED ZEPPELIN, DEEP PURPLE, U.F.O., BUDGIE e por aí vai. Tem gente que afirma que BLACK SABBATH é Heavy Metal mas U.F.O. não, apesar das sonoridades de ambas as bandas não serem tão distantes. Pelo menos para nós brasileiros, o termo Hard Rock nos remete a várias bandas surgidas nos anos 80, referidas muitas vezes como Glam ou Hair, muitas delas com sonoridade mais leve e festiva, contrastando com o peso e a seriedade que o Heavy Metal passou a assumir principalmente nos anos 80. Mas é bom que se frise que, nos EUA, bandas como GUNS N' ROSES e SKID ROW são chamadas de Heavy Metal. Outro exemplo é o SCORPIONS, que nos anos 70 fazia o som característico das bandas da época (Metal ou Hard?) e nos anos 80 passou a fazer o que hoje conhecemos como Hard Rock. Nos anos subsequentes, os alemães agregaram mais peso ao seu Hard Rock (ouça o álbum "Humanity - Hour I" e diga se aquilo não é um Heavy Metal). Então o SCORPIONS consegue se equilibrar na tênue linha entre o que é Hard e o que é Metal. Outra banda que consegue tratar bem o peso do Heavy com o clima quente do Hard é a brasileira SLIPPERY (vídeo abaixo). Mas como dito no começo do parágrafo, esta é uma confusão muito abrangente e que rende muito pano para a manga.
Power ou Speed?: Aí depende muito de como você define o que é Speed Metal, já que este termo também é muito amplo. Nos anos 80 o termo Speed começou a ser usado para agregar as bandas que tocavam numa velocidade maior do que o comum. Tomando isso como premissa, HELLOWEEN e SLAYER são Speed Metal, certo? Não, né!? Se o Speed tem muita melodia em seus arranjos, além dos empolgantes bumbos duplos recheando o ritmo das músicas, chama-se então, em geral, de Power Metal. Agora, se o Speed é agressivo e o ritmo é aquele Hardcore acelerado, chama-se em geral de Thrash Metal. Tanto que hoje em dia o termo Speed é muito pouco usado. Mas também existe uma tênue linha entre o Power, o Speed e o Thrash. Como você chama a sonoridade do álbum "Painkiller", do JUDAS PRIEST, ou o estilo do PRIMAL FEAR? Tem muita melodia para ser Thrash? Ou preza muito pela agressividade para ser chamado de Power? Chame de Speed Metal então, e tudo fica resolvido. Confira o Speed do PRIMAL FEAR abaixo.
Sinfônico ou Gótico?: Caracteriza-se como Sinfônico o Metal onde os teclados tem ampla importância nos arranjos devido aos timbres ou orquestrações. Ou mesmo quando uma orquestra de verdade participa das músicas, mas isso depende dos recursos financeiros da banda. Certo, o Gótico tem orquestrações, mas o que o diferencia do Sinfônico? O Metal Gótico é filho do Doom Metal. Em suma, é um Doom Metal orquestrado e, em geral, com vocais femininos, embora esse detalhe não seja obrigatório. Então o Metal Gótico tem o ritmo lento e o clima pesado e melancólico do Doom. O Sinfônico é rápido e tem um clima mais de extravasão. Logo, o redator deste texto (lembrando que o julgamento final é seu, leitor) não enquadra NIGHTWISH, EPICA, XANDRIA ou LACUNA COIL dentro do pote do Metal Gótico. Estes estão no mesmo pote que o KAMELOT, que não possui vocal feminino, notem. Se você tira os teclados do NIGHTWISH, o que sobra é um Power Metal. Se fizer a mesma coisa com o EPICA, o que fica retido é um Melodic Death Metal. Nada do clima "deprê" do Doom, né? Para o Gótico você pode pensar em PARADISE LOST, MOONSPELL, THEATRE OF TRAGEDY, TRISTANIA, TYPE O NEGATIVE, uma fase do THE GATHERING, MOONSPELL, SILENT CRY, dentre outras. Confira abaixo, respectivamente, XANDRIA (Sinfônico) e THEATRE OF TRAGEDY (Gothic). Um adendo: e o EVANESCENCE? Alguém ouviu Nu-Metal aí...? Cala-te boca...
Abordemos agora alguns dos vários subgêneros, ou seja, filhos dos gêneros, que também causam confusão na hora de definir o som de uma banda.
Doom Metal: O Doom talvez seja o gênero que mais tenha dado "netos" ao Heavy Metal. Se pensarmos somente em Doom Metal, lembraremos de BLACK SABBATH, PENTAGRAM, SAINT VITUS, TROUBLE, THE OBSESSED, etc. Heavy Metal sem firulas, arrodeios ou subterfúgios. Simples, lento e por vezes melancólico. Entendemos por Epic Doom Metal o som do CANDLEMASS, que tem como características músicas longas, cheias de passagens e variações rítmicas, vocais dramáticos e um peso e agressividade mais fortes que os atestados no Doom clássico. Death/Doom tem os vocais guturais e os riffs cavernosos do Death Metal aliados à marcha lenta e ao clima sorumbático do Doom, vide NOVEMBER'S DOOM, OCTOBER TIDE, MYTHOLOGICAL COLD TOWERS e as fases iniciais de PARADISE LOST, MY DYING BRIDE, ANATHEMA E KATATONIA. Se há camas de teclados criando atmosferas, pode chamar de Atmospheric Doom; ouça YEARNING e entenda melhor este último. Doom com pezão no Hard típico dos anos 70, Stoner. Doom com pitadas de Hardcore, Sludge. Agora se a lentidão do Doom estiver elevada a enésima potência com "n" tendendo ao infinito e os vocais guturais forem tão-somente agregados à atmosfera fúnebre da música, chame de Funeral Doom e ouça SKEPTICISM, THERGOTHON, ESOTERIC e SHAPE OF DESPAIR. Por último, notas longas (e põe longas nisso!) e repetitivas, executadas com frequências ultra-graves, caracterizam o Drone/Doom, que tem como principais representantes o SUNN O))) e o EARTH. Ouça as formas camaleônicas do Doom abaixo: na ordem, PENTAGRAM, NOVEMBER’S DOOM, YEARNING e SHAPE OF DESPAIR.
Black Metal: O Black Metal em geral caracteriza-se pelos andamentos rápidos, muitas vezes regados a "blast beats", guitarras executando acordes ríspidos, clima soturno e vocais guturais agudos ou roucos esganiçados. A grande maioria das bandas de Black aborda satanismo nas letras, mas o conteúdo lírico, como adotamos como axioma no começo desta matéria, não deve ser levado em conta na hora de definir uma sonoridade, muito embora esta característica nos ajude a fazer essa definição. O Black Metal dos anos 80 ainda não era bem definido e era ligado umbilicalmente ao Thrash e ao Speed da época. BATHORY, VENOM, HELLHAMMER, SARCÓFAGO, HOLOCAUSTO e VULCANO são amostras do Black Metal da época. Nos anos 90 o Black Metal tomou identidade própria devido a visão dos músicos da respeitada cena norueguesa. Doses maciças de Death Metal definem o Death/Black do BEHEMOTH e do BELPHEGOR. Chamam comumente de Depressive Black Metal aquele de sonoridade suja e mal produzida de propósito, de clima pesado e depressivo como o nome sugere, onde os vocais desesperados mais parecem ecos distantes. Como exemplos, ouça o o trabalho da banda alemã COLDWORLD. Ainda há o Epic Black Metal do SUMMONING, onde teclados majestosos criam o clima e o pano de fundo para os contos épicos sacramentados nas letras, muitas vezes referindo-se à obra de Tolkien. Veja abaixo SARCÓFAGO, DARKTHRONE e COLDWORLD e SUMMONING.
Um parêntese: corpse paint não implica Black Metal. Os membros do POWERWOLF, por exemplo, usam a maquiagem maldita, mas eles formam uma banda de Power Metal. Fecha parênteses.
Analisemos agora alguns termos que equivocadamente foram forjados para separar uma banda de Metal em alguma sonoridade, muito em parte somente pelo conteúdo lírico, o que não deve ser levado em conta na hora de definir o estilo de uma banda.
White Metal: Sinto informar-lhes, tr00zões dos bosques noruegueses, mas não existe um gênero de Metal chamado White Metal. Este termo foi cunhado para definir bandas cujo conteúdo lírico é de âmbito bíblico ou cristão. Se for por isso, ETERNA e MORTIFICATION são bandas de White Metal. Sejamos sensatos, claro que isso não voga né? ETERNA é uma das melhores bandas brasileiras de Power Metal e MORTIFICATION é o maior nome do Death Metal australiano. Por essa mesma lógica, o GHOST B.C. é Black Metal, pois suas letras versam sobre satanismo. Portanto, se você for apresentar determinada banda para alguém, não diga que esta banda é de White. Você não estará dizendo nada, só que a banda fala de Deus. O seu amigo quer entender é a sonoridade. Também, não defina Black Metal como banda que fala de satanismo. IMMORTAL é bandaa de Black Metal, mas nem por isso falam do Capeta. DEICIDE fala do Cramulhão em suas letras sim, mas é uma banda de Death Metal. Sem contar que existem bandas de Black Metal que falam de Deus (!). Veja abaixo o som do ETERNA e do ANTESTOR, banda com o selo de qualidade do Black Metal norueguês da safra de 1993 e que versa sobre o cristianismo em suas letras. Ouça abaixo e conclua se somente o termo White Metal abarca a sonoridade de ambas.
War Metal: Chamam o BOLT THROWER de War Metal só por causa das letras que contam as histórias das guerras. Recaímos então em um caso parecido com o do parágrafo anterior. Se for por isso, SABATON e HOLOCAUSTO são bandas de War Metal. Mas você não vai colocar estas três bandas no mesmo pacote. SABATON é Power, HOLOCAUSTO é Thrash e BOLT THROWER é Death. Ah, IRON MAIDEN fala muito de guerra também; vai chamar a banda de Steve Harris de War Metal? Ouça o Death Metal do BOLT THROWER.
Ice Metal: Alguns fãs de SONATA ARCTICA os chamam de Ice Metal. É pra rir, né? Só porque são finlandeses, tem a palavra "Arctica" no nome, gravam clipes no meio do gelo infinito e inserem lobos nas capas dos álbuns? Esta banda é de Power Metal, daquele jeito que Timo Tolkki ensinou. Ou pelo menos assim ficaram conhecidos, já que hoje a banda incorpora algo do Hard e do Prog. Sendo assim, IMMORTAL é Ice Metal também? Deixe estar.
Fiquemos por aqui. Este texto serve só como uma referência. Aqui estão listados apenas os termos mais tradicionais. Existem outros infinitos termos (os "não-sei-o-quê-core" da vida, por exemplo), mas o que aqui está testamentado creio que já ajuda a esclarecer muita coisa. Mas lembrando sempre: o julgamento final é seu. Comente, opine, acrescente, concorde, discorde... Se você preferir, no fim das contas é tudo Rock n’ Roll. Ponto.
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