Dokken: formação clássica não deveria se reunir
Por Igor Miranda
Fonte: IgorMiranda.com.br
Postado em 11 de agosto de 2016
Nos últimos dias, foram anunciadas seis apresentações da formação clássica do Dokken no Japão, em outubro deste ano, e uma nos Estados Unidos, em setembro. Inicialmente, seriam somente os shows no país oriental, mas a banda voltou atrás e decidiu tocar na terra do Tio Sam.
Don Dokken, George Lynch, Jeff Pilson e Mick Brown garantem que serão apenas seis shows no Japão e somente um nos Estados Unidos. Ou seja: segundo eles, a reunião será um evento restrito.
Sabemos que não será. É bastante previsível que a formação volte a tocar junta quando vir a rentabilidade do projeto, apesar de que não vão lotar estádios ou nada do tipo com as apresentações de agora.
Os contornos da reunião começaram a ser desenhados ainda em abril do ano passado, quando integrantes da formação clássica do Dokken afirmam à imprensa que uma reunião estaria a caminho. O assunto ganhou força novamente no início deste ano, com Jeff Pilson e Mick Brown falando sobre as conversas entre os músicos.
O empolgado Mick Brown chegou a deixar a banda de Ted Nugent, na qual tocava há 11 anos, para se dedicar mais ao possivelmente reunido Dokken. O entrave estaria na agenda de Jeff Pilson, que não abre mão do Foreigner: há shows marcados até 2018.
O problema parece ter sido resolvido. No entanto, em meu ver, há uma série de motivos para o Dokken original não se reunir.
Bons projetos se comprometem
Especialmente no caso de George Lynch, deixar o bom Lynch Mob de lado para apostar em uma furada reunião do Dokken parece arriscado. Os últimos lançamentos do Mob mostram que a banda está afiada e bem posicionada em uma variação distinta do hard rock, que aproveita o estilo melódico peculiar do guitarrista e o swing dos vocais de Oni Logan.
Quando George Lynch se reuniu com Jeff Pilson e Mick Brown para o T&N, o resultado foi fantástico. E sem Don Dokken. O resultado da parceria com Michael Sweet também foi positivo. São projetos com visibilidade em nichos, assim como o Dokken, que já deixou de ser uma mega-atração ainda na década de 1980.
Voz de Don Dokken
O estado atual da voz de Don Dokken também é deplorável. Vi ao vivo e sei do que estou falando.
É um caso atípico, pois não há nem mesmo resquícios do vocal de antigamente. Até mesmo Axl Rose nos seus momentos mais Mickey Mouse esteve em melhor forma. Os hábitos de Don o prejudicaram e o preço foi cobrado.
Afinidade
Há prazo de validade nisso tudo. Don Dokken e George Lynch nunca se deram bem. Nem mesmo no auge do sucesso.
Uma parceria entre artistas tão diferentes e egocêntricos não deve durar, apesar de sabermos que logo eles mudarão de ideia e anunciarão alguma espécie de reunião permanente. O grupo se reuniu no meio da década de 1990 e a tentativa fracassou. Foi lançado, inclusive, o álbum mais enfadonho de sua discografia: "Shadowlife".
Lynch brincou, em entrevista concedida no ano passado, que a cada dois anos os músicos sentam para discutir uma possível reunião. E nunca sai do papel. Não deu certo há 30 anos, não deu certo há 20 anos e não vai dar certo agora.
Pode anotar: os músicos serão seduzidos pelas cifras atraídas com o retorno, vão voltar para mais shows, farão as apresentações e acabarão brigando.
Não à toa, declarações de pessoas envolvidas com o Dokken no passado indicam que a parceria passava longe de ser saudável para os envolvidos. Há quem defenda Don Dokken, há quem defende George Lynch.
O produtor Tom Werman coloca George como o vilão. "George Lynch e Don Dokken nunca foram amigos. Na verdade, era a banda contra o vocalista. Mas ele escrevia as músicas românticas e elas faziam sucesso. Era uma engenharia bem dividida. George jogava uns contra os outros, era o cara malvado", disse, em entrevista.
Nem mesmo financeiramente parece compensar tanto. A primeira reunião do Dokken não foi um grande sucesso. Culpa dos integrantes, que já não estavam se entendendo e colaboraram para um mau gerenciamento, é verdade. Vinte anos depois, o apelo é ainda menor.
Como fã do Dokken, prefiro ver a banda estacionada, em uma parcial aposentadoria, enquanto o Lynch Mob ganha espaço e possíveis combinações entre George Lynch, Mick Brown e Jeff Pilson acontecem. A mais recente, inclusive, foi a participação de Pilson em "Rebel", álbum do Mob, lançado no ano passado.
É evidente que posso estar errado e o Dokken pode acabar fazendo apenas os sete shows prometidos. Ou podem estender a reunião e voltarem de vez. Mas é muito improvável que qualquer uma das opções aconteça.
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