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Festival Calango: impressões sobre os três dias

Por Dewis Caldas
Postado em 09 de setembro de 2007

Press-Release

_cobertura / 1º dia
FESTIVAL CALANGO
Por Dewis Caldas
Editor do Hellcity.blogger

Dessa vez, tudo o que diziam sobre calor em Cuiabá foi verdade. Já na sexta, primeiro dia de Festival, os termômetros cuiabanos já estavam no 42º. Quando alguém que visita a cidade reclama, já dizemos em côro, é normal. E ninguém acredita tanto. Mas falando do Calango, a canseira começou cedo, ainda quinta-feira, quando já fui dormir lá na arena. Bem de manhã logo, nós quatro, Ney Hugo (responsável pela literatura e sala de imprensa), Ynaiã (coordenador do palco 2) e Kayapy (coordenador do palco 1), acordamos para ajudar a preparar tudo, os equipamentos chegaram às 7h da manhã e partimos para preparar o resto da estrutura como sala de imprensa, cabo de internet quebrado, fio de telefone partido, carrinho de lanche chegando, e o sol ainda tocando um trash metal que doía a cabeça. Mas o dia passou rápido, de noite tudo já tinha ficado pronto.

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O público mediano sempre é esperado no primeiro dia (ainda mais bem cedo), que pena, perderam o melhor show da noite. Imagine uma banda que sobe ao palco e joga uma dessas bolas que as empresas de telefonia celular joga em eventos que elas promovem, lembrou? Aquelas bolas gigantes que o pessoal vai jogando pra cima até vir um espírito-de-porco e furar. Pois é, a paulistana Seminal fez isso. É difícil entender o que o trio faz, os caras enchem teus ouvidos com um jazz-funkiado misturada a uma pegada Ska, que confunde com um soul e termina você achando que é reggae, e ainda o harmonioso escracho hipnótico humorístico das letras. Faz já ganhar a noite, perigosamente recomendável. Outra que grudou o pessoal no palco foi o Cravo Carbona, a banda paraense já tem seus 11 anos de estrada, e acaba de lançar o segundo CD independente, Córtex. A mistura brega/carimbó/guitarrada consegue ser convencional ao mesmo que inovador, o "ritmo quente" embalou a dança na arena do Museu do Rio. Se quem tiver caído na roda comprasse o disco, deve ter vendido bem. E a noite seguia.

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Ainda no primeiro dia, Maldita foi a grande espera do público. Toda a encenação sanguínea da banda carioca fez a excitação da galera, até mesmo dos que não gostam do novo chamado Rock Industrial. Formada em 2001, as letras são baseadas no não-conformismo sobre a vida, cotidiano sombrio e transtornos individuais, ao som de muita guitarra pesada e pequenos riffs infantis. Foi a banda escolhida para abrir o show do Marilyn Manson, que virá ao Brasil ainda este ano. Veio e fez bonito. Já outros que fizeram bonito foi o surf music oitentista dos uruguaios da The Supersônicos, que receberam o posto de primeira banda internacional de todos os Calangos. Muita gente ficou até o final pra conferir, pela terceira vez no Brasil, a primeira em 2004 para oito cidades agendadas e em 2005, onde tocaram no Ruído Festival e mais três cidades. Lembrando ainda irreverência insana mineira do Johnny Alfredo e os Neurônios Mongóis e Chilli Mostarda, o show de lançamento do Cd "Beijo no Escuro", da Revoltz. E a politizada Debate, nessa última, sobraram melodias fervorosas e contrastes sociais. Veja o disco inteiro.

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_cobertura / 2º dia
FESTIVAL CALANGO

No sábado todo mundo arruma um jeito de sair de casa, e a arena lotou mesmo. Me pergunte o melhor show? Móveis Coloniais de Acaju, respondo. Que banda faria a na inteira formar uma grande roda e tocar dentro dela? Posso dizer que é um pop rock, ou posso dizer que é um blues minimalista com pontadas jazzísticas carregados de muita simpatia pelos dez caras da banda, não importa, só via festa embaixo e em cima do palco. Tinha visto a banda no Porão do Rock desse ano, e pensei que a animação toda (tanto dos músicos como do público) fosse pela banda ser de Brasília, mas quando vi a cambada subindo, cheio de instrumentos amarelos, o coro cantando e pedindo as músicas – percebi e cambaleei a perna - é um fenômeno em potencial da capital central. Mas não foi só essa banda de Brasília que deu as caras por aqui, o Supergalo vem tocando em quase todos os festivais do circuito, e não é pra menos, o show é forte, dinâmico e elétrico. É a terceira vez que vejo o show da banda, e percebo a diferença que vem fazendo, ainda mais depois que o guitarrista Salsicha entrou, ficou aquela sensação de que: - huum, era isso que faltava no som. E tudo estava bem, a seqüência das três próximas bandas foram foda, logo pela diversidade. Primeiro a guitarra swingada do Mandala Soul, com os berros de "thubá-thubá" característicos da Black Music, o glam do Cabaret (RJ), mais elegante impossível, e não falo só da roupa, levando em conta as melodias ora sensuais, ora dançante. Perdoe a brincadeira, mas boa música para cabarés, ou melhor, puteiros mesmo. E fechando com Macaco Bong, onde o suor caía por cima da guitarra, o contrabaixo estourava os dedos, e a bateria espocava.

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Mas quando tudo está bem, alguém vêem pra estragar (parece até ditado), e nesse caso foi a Pública, acho que pelo fato deles tocarem bem no final decidiram encher um pouco a cara enquanto não chega a hora, o mais lúcido era o tecladista. Na hora do show parecia que cada um queria tocar uma música diferente, fora as desafinadas tanto da voz quanto das guitarras, eu tava olhando de perto, pensei que fosse brincadeira da banda, mas infelizmente não era. E olha que o disco é bom, muito bom mesmo, mas o show – pelo menos em Cuiabá – não fez jus nem a passagem. Ainda bem que o Lord Crossroad veio logo depois, e bem redondinho. Além dessas The Melt fez uma apresentação notória, não digo que foi um showzaço, como no Festival Volume, em junho, mas dá pra ver que a banda ta ainda no beat – pra não falar essa porra de vibe. Vale ainda falar do teatro montado pelos cariocas do Manacá, que pena que eu não tive tempo pra ver melhor o show. Mas da próxima não perco, nunca. E vamos para o domingo.

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_cobertura / 3º dia
FESTIVAL CALANGO

O último dia começou mais quente que os outros dias, mas mesmo assim, foi o melhor dia. E saciou todos os grandes gostos, desde o pânico montado pelo Skarros, até a bagunça do Boneca Inflável. Mas a noite mesmo começou com o Pleyades, que tocou apenas 15 minutos, conta dos atrasos da abertura da bilheteria, a banda reclamou, mas entendeu. Snorks foi uma das minhas surpresas, faz tempo que não vejo um hardcore tão redondo, bem elaborado e não tão preso a estereótipos; posso dizer que não sou um grande apreciador do gênero, mas depois do show cheguei em casa e escutei algumas coisas do Nofx, e já que to falando dos reis do gênero, cito a Dead Smurfs, já sabendo que eles são mineiros, sempre cheios de gracinhas e - ainda bem - o show não tirou a idéia de diversão, mas só pelo nome já dá uma prévia de quanta zoação a banda faz num palco, o vocalista allisson sofreu um acidente nesses meses, pensei que fosse ficar um pouco mais quieto no palco, e parece que ele ficou mais doido, deve ter batido a cabeça. Viva o hard. O Quarto das Cinzas foi a banda que mais surpreendeu, segundo alguns que perguntei ainda na arena. Iimpressão dada pelas danças circulares, o bem e o mal, melodias suaves com batidas fortes e intensas, o show é um passeio pelo dualismo, e difícil de tirar da cabeça.

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O Daniel Belezza preparou o melhor figurino, que agora é descartável. Logo depois do show, na coletiva, ele disse que é pra dar de presente pros fãns, estranho, mas ele é o Daniel Belleza. E como de costume em Festivais em Cuiabá, foi catártico. Até a grade de proteção foi quebrada, ainda bem que to acostumado. O rei e seus Corações em Fúria foi mais uma vez ovacionado em Cuiabá, coisa de louco. O Astronauta Pingüim foi imbatível. Portado de seu Moog de mais de 20 anos, comportou inicialmente algumas canções próprias, e partiu para as releituras de grandes clássicos, de Wander Wilder à Madona, E olha que ele peitou até Nirvana, se dúvida, um dos 3 melhores show do Festival. Agora só faltavam quatro bandas pra acabar tudo, pra quem vive a expectativa da produção, sente um pouco de saudade antes de terminar, pensei nisso no show do Montage, o electro que toma o espaço do gênero em muitos festivais, mas não é pra menos, o show continua foda. E a performance do rapaz-bonitão-loiro está ainda mais atrevida. O Patife Band foi meio sem graça, mas não culpa dos músicos, o som tava ruim ainda. E a hora que tava não ia consertar mesmo. Quando o Paulo Barnabé desceu - um dos caras que tive a honra de conhecer - disse: - Que som ruim. Aí confirmei e coloquei toda a culpa no som, menino mal esse som. Quando chega no Vanguart, banda mais esperada do dia, não teve trela. Um show frio e sem muita novidade. A banda acaba de lançar o primeiro Cd pela Revista Outra Coisa, e do nada, aparece no Calango sem muita coisa. Tudo bem, o show foi bom, mas sem nenhum tipo de entusiasmo, até pelo fato de tocarem em casa poderia ser bem melhor, não? A noite (e o Festival) então fecha com a Tequila Baby, os Ramones brasileiros (piada mais besta), às 3h da manhã alguns com fôlego para roda punk, menos eu, que já tava morto dessa hora. Depois foi colocar tudo no lugar, carregar caixas e ver se ta tudo ok, e esperar o próximo ano. E cair na cama por dois dias inteiros, que eu já tava dormindo em pé.

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