Nine Inch Nails: Trent Reznor, de volta ao abismo
Por Camila F.
Fonte: Nineinchnails.com.br
Postado em 29 de setembro de 2008
O Los Angeles Times publicou uma matéria sobre Trent Reznor, do NINE INCH NAILS, cuja tradução pode ser vista abaixo:
O líder do NINE INCH NAILS tem sobrevivido a seus próprios demônios e conquistado novos mundos além da música.
TORONTO – Faltavam algumas horas antes do início do show e Trent Reznor do NINE INCH NAILS, estava sentado em uma tranqüila sala iluminada por velas, nos bastidores do Air Canada Centre, tentando encontrar seu grito. A música do Nails parece um pesadelo intenso, mas neste dia, Reznor acordou com sua voz sem alcance e rouca. Enquanto o umidificador fazia um barulho distante no canto, o rockstar sorriu fragilmente e perguntou, "Quantos anos eu tenho mesmo?"
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A resposta é 43, mas Reznor, que passou alguns anos sombrios viciado em drogas, é hoje uma imagem de vitalidade, com seus braços fortes e olhar confiante. Ele é também sério e calmo. Questionado sobre a época em que os bastidores dos shows do Nails pareciam mais uma sessão de sacrifícios humanos, Reznor direciona o olhar para suas palmas, como um clarividente que prevê o futuro.
"Eu fiquei tão mal que não podia sequer escrever as canções que estavam na minha cabeça", disse ele. "Senti-me deprimido e fui ficando cada vez mais confuso. Finalmente cai fora. Então, a grande descoberta foi que eu não tinha me matado, meu fígado ainda trabalhava e eventualmente o meu cérebro começou a funcionar de novo - Foi aí que percebi que estava curtindo o processo novamente."
Em termos simples, o processo consiste em capturar as canções que flutuam em sua tempestuosa e considerável imaginação. Reznor, cuja banda irá se apresentar no sábado para um público com ingressos já esgotados, é uma das figuras do rock mais criativa e aclamada da sua geração, um showman que ocupa um território em algum lugar entre a pulsação digital do dance club e o amplificado estrondo do rock de arena. Sempre houve uma mistura tribal e tecnológica em seu trabalho e esse tem sido o enredo mais fascinante da carreira de Reznor aqui em 2008.
Na primeira semana de maio, Reznor digitou as palavras, "This one's on me" ("Esse é por minha conta") e postou a mensagem no site nin.com, juntamente com o material do novo álbum intitulado "The Slip." Não houve aviso prévio, publicidade ou qualquer coisa que lembrasse remotamente a abordagem de um selo convencional. Mais de 1 milhão de fãs fizeram o download de "The Slip" em um mês.
Foi o segundo lançamento do NINE INCH NAILS em dois meses. Reznor disponibilizou o disco de 36 faixas "Ghosts I-IV," uma inquietante coletânea instrumental, no mesmo estilo do início do ano.
O NINE INCH NAILS – que está registrado no nome de Reznor e para ele, é mais uma marca do que uma banda tradicional - finalizou um contrato com a Interscope Records, no ano passado e Reznor seguiu adiante, se deparando o medo de um homem verdadeiramente livre.
"Houve um momento de alegria, que foi rapidamente seguido pelo pânico, pois não há nada verdadeiramente claro ou correto a ser feito hoje", disse Reznor. "Quer dizer, é óbvio que o que as gravadoras estão fazendo é errado, mas também não é totalmente claro qual é a coisa certa a se fazer."
A "coisa certa" para Reznor, parece ser o trabalho implacável. Ele não apenas segue sua inspiração, ele a caça e a imobiliza no chão. Além desses dois álbuns lançados este ano, ele se reuniu com a HBO lançando sua idéia de escrever uma série de dois anos chamada "Year Zero", que seria baseada numa intrincada história de ficção cientifica que ele criou para um álbum de 2007 de mesmo nome. Ele também se tornou virtualmente vivo para os fãs, em um jogo na Internet.
Se o seriado de televisão avançar como Reznor espera, ele irá adicionar novos capítulos ao "Year Zero" através de outro álbum, outro jogo e mais uma turnê.
Reznor foi vertiginoso quando falou a respeito da vida criativa do século 21, que lhe permite ser um rockstar, mas também tramar histórias que podem ser vistas em telas, acompanhadas através da Internet e apresentadas no palco: "É a minha grande ambição. Isso vai acontecer? Eu não sei. Mas é a coisa mais excitante no horizonte quando acordo de manhã. Quer dizer, pensar sobre isso; sendo capaz de integrar diferentes meios de comunicação para contar uma história através da música".
Logo em seguida, seu celular vibra enlouquecido com luzes. "Ah, desculpe, o mundo inteiro está me chamando." Ele virou o telefone desligado, sem olhar para quem liga. "Isso pode esperar. Às vezes, você só tem que tomar um fôlego."
Ele sorri forçadamente e por um momento, o único som era do umidificador à distância. "Ok, sobre o que estávamos falando?"
Geek da informática
Micheal Trent Reznor nasceu na parte central da Pensilvânia em uma pequena cidade chamada Mercer. Seu pai tinha o mesmo nome, de modo que o filho passou a usar o nome do meio. Quando jovem adorava música e computadores e, no início dos anos 80, fez parte de uma geração que verdadeiramente começou a se unir em busca de sua própria cultura Pop.
"Tenho estado sempre nos computadores", disse Reznor, este último álbum começou em um laptop. "Quando eu estava saindo do colégio e formando minha identidade musical, tudo isto estava realmente próximo; computadores e baterias eletrônicas. Senti como, você sabe: eu estou no lugar certo no momento certo. Eu gostei do choque."
Reznor encontrou seu caminho para Cleveland, onde trabalhou como engenheiro assistente e monitor do Right Track, um estúdio de gravação. Ele tinha ouvido como Prince, o R&B e funk superstar, criaram seus próprios sons tocando cada instrumento e sobrepondo-os em camadas no estúdio. Ele foi fazer o mesmo - o resultado foi "Pretty Hate Machine" de 1989, escrito, arranjado e tocado por Reznor.
O som foi uma angustiante emoção humana, dentro da pulsação e do estrondo da música industrial. Não era o homem versus à máquina; era homem face à máquina, algo atordoante, como tecidos vivos presos em um laboratório colérico. Veja a música "Down In It": "Então, o que importa agora / Eu estava nadando no ódio e agora eu rastejo no chão / E todas as coisas que eu nunca gostei em você / estão de certa forma infiltradas em mim."
Durante a turnê do álbum de 1994 "The Downward Spiral," Reznor caiu num ciclo destrutivo de dependência. "Eu estava mal preparado para situações sociais e descobri que tomar alguns drinks tornavam as coisas mais fáceis. Então eu descobri e gostei de cocaína também. E tente viver em Nova Orleans, onde os bares não fecham. Você chega em casa pela manhã e sempre vê alguns caras caminhando. Isto é pior quando você está doidão e o sol está nascendo. O som dos pássaros na parte da manhã.... "
Tornou-se um erro comum nos artigos sobre Reznor, a afirmação de que ele era um usuário de heroína – talvez isto seja por sua letra sobre marcas de agulhas (Hurt) - mas ele não pediu correções. "Esse é um tipo de conversa triste de se ter; eu não sou um junkie, eu sou um cokehead (usuário de cocaína)...."
Até onde Reznor chegou? No jantar em Toronto, sua mudança para L.A. - ele deixou Louisiana há alguns anos e agora vive perto de Beverly Hills - teve um convidado surpresa, seu pai, Michael Reznor, que veio dirigindo da Pensilvânia: "Esta é a minha chance de ficar cara a cara com Trent, pois tenho que dividi-lo com o resto da família quando ele for tocar em Cleveland e Filadélfia. Eu não disse a ninguém que estava chegando. O sobrinho dele vai ficar louco. Ele começou a tocar guitarra agora."
O velho Reznor foi parado na fronteira do Canadá; um guarda reconheceu o último nome e, enquanto uma linha de carros estava começando a se formar, uma guarda do sexo feminino fez perguntas sobre a celebridade da família. O rock star olhou aflito para seu pai enquanto ele contava a história, mas não reclamou. Ele apenas jantou e sorriu.
Independência econômica
Reznor ficou rico e famoso graças à tradicional indústria da música e agora tem a capacidade de distribuir sua música sem custos e em larga escala por causa do dinheiro que ganha com as turnês e dos fiéis fãs que ainda compram os CDs, mesmo após o download das músicas. Isso fez dele um alvo de críticas por parte de alguns artistas mais novos, que têm um momento menos afortunado no início das suas carreiras, após os álbuns de platina se tornarem verdadeiramente raros.
Reznor tem sentimentos mistos; ele gosta de trabalhar fora do sistema das grandes empresas, mas seu orgulho odeia pensar sobre a desvalorização da arte.
"Como um artista, não creio que deveria ser gratuito, é o trabalho da minha vida", disse ele. "As gravadoras alimentam a desconfiança dos fãs, que se sentem roubados, e agora existe a tecnologia que você pode se fartar. Eu compreendo por que as pessoas acham que isso é legal, mas eu digo 'Não posso lutar essa luta. Eu olho para como as cartas têm sido distribuídas e tiro o máximo proveito disto. Existe também um lado meu que deseja que o mundo escute a música, quer você tenha pago por ela ou não; quero que vocês ouçam isso. E as pessoas estão ouvindo."
"The Slip" estreou no n.º13 nos EUA e as opiniões têm sido boas, embora Reznor acredite que esse apressado disco, é mais um esboço do que de uma pintura. Ele antecipa que vai gastar muitos meses fazendo a próxima coletânea.
No show em Toronto, a performance de Reznor foi impressionante - ele ainda pode intensificar a raiva e o medo das antigas canções, apesar de estar tranqüilo com sua própria vida. A produção é muito impressionante, com efeitos digitais e uma cortina que desce, fazendo Reznor parecer que está numa dimensão paralela, numa dimensão estática e cheia, sendo observado no mundo real.
Há também uma parte mais silenciosa do show, uma seqüência na qual o líder do NINE INCH NAILS descama as ferramentas industriais e dos hard drives do computador, para mostrar o homem no interior da máquina.
"Às vezes", ele explicou anteriormente, "é somente a música e o cantor".
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