O Vinil soa melhor?: Mais ou menos. De vez em quando. Depende.
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 22 de novembro de 2014
Até STEVE JOBS ouvia vinil.
O finado CEO da Apple, cuja loja do iTunes revolucionou o ramo musical na era digital, ‘ouvia vinil’ em casa, disse NEIL YOUNG em 2012. Young, que está divulgando seu PonoPlayer de alta definição [custo de 399 dólares], gosta de mitificar o som com qualidade de estúdio, mas ele não é o único. À medida que arquivos comprimidos em MP3 e serviços de streaming digital do YouTube ao Pandora tornaram-se a norma para se ouvir música, as vendas de vinil dispararam de pouco menos de um milhão em 2007 para potencialmente mais de 8 milhões esse ano apenas nos EUA – em parte graças ao conceito de que o vinil simplesmente soa melhor.
Mas isso é verdade?
Mais ou menos. De vez em quando. Depende.
O LP de vinil é um formato baseado em tecnologia que não evoluiu muito ao longo das últimas seis décadas: sob certos aspectos, é o equivalente em áudio a dirigir um Ford Pilot. Sonicamente, o vinil tem pontos fortes e também fraquezas, se comparado aos arquivos digitais, assim como fanáticos por cinema tem discutido sobre os prós e contras do filme de 35mm contra o 4K Digital. Para esmiuçar o que o vinil consegue fazer de fato, eu falei com ADAM GONSALES do Telegraph Mastering, de Portland. Gonsales já trabalhou com artistas desde SUFJAN STEVENS até STEVE AOKI e é o orgulhoso dono de um torno Scully dos anos 60, o mecanismo com ponta de rubi que corta discos para finalizar vinis.
Antes de pesar, hmm, os dois lados do vinil, ajuda saber como os discos são feitos. Resumindo, um engenheiro como Gonsalves recebe gravações mixadas do estúdio [ou até mesmo do laptop de uma banda] para masterizar e cortar uma matriz – ou acetato – em um torno, que por sua vez é mandada para ser prensada por moldes de metal que formatarão centenas de milhares de pelotas de PVC em LPs de vinil. Nem todo engenheiro de masterização faz o corte do acetato – já faz décadas que não se fabrica tornos do tipo e não sobraram muitos, o que faz de proprietários como Gonsales muito ocupados – e frequentemente mandam a ele arquivos digitais para trabalhar, ao invés das fitas totalmente analógicas que alguns poderiam esperar.
O LADO BOM
"O vinil é o único formato para playback de consumidores que temos que é completamente analógico e completamente lossless", disse Gonsales. "Você só precisa de um toca-discos decente com uma agulha decente e você irá desfrutar de uma experiência auditiva de alta fidelidade. É um pouco mais à prova de idiotas e um pouco menos técnico."
O formato analógico permite que os artistas transportem sua música da fita magnética para LP até seus falantes ou fones de ouvido sem as complicações da conversão digital. Isso, idealmente, é o mais próximo que alguém pode chegar do que o artista queria – isso CASO O ARTISTA tenha gravado em fita e enviado os rolos para um engenheiro como Gonsales para cortar um master. Mas indiferente de suas origens serem digitais ou analógicas [falaremos mais a respeito], um disco de vinil deveria ter mais informação musical do que um arquivo em MP3 – então deveria ser bem melhor se comparado a sites de streaming como o YouTube ou o Soundcloud, em especial num BOM sistema.
A luta nas loudness wars: A engenharia de música digital, em especial a música destinada a rádios, é por muitas vezes permeada por uma corrida na amplitude do volume, o que leva a músicas cansativas e hiper-compressas que espremem a faixa dinâmica e a textura que dá às gravações profundidade e vitalidade. O volume do vinil depende da extensão de seus lados e da profundidade de seus sulcos, o que significa que um álbum masterizado especificamente para o formato pode ter mais espaço para respirar do que seu equivalente digital. Quando mais longo um álbum, mais baixo seu volume: Gonsales reproduziu pra mim o longo álbum de estreia do INTERPOL e um single de 12 polegadas de BILLY IDOL, e a diferença em decibéis – sem nenhuma distorção – foi digna de nota.
O Som Quente do Vinil: "Eu acho que isso é o que as pessoas gostam nele: ele chega muito perto do modo que seres humanos ouvem música, organicamente", diz Gonsales. "Tem muitas frequências médias e muito quente", um som que tende a embelezar as guitarras embaraçadas do rock.
O LADO RUIM
"Completamente analógico" é algo bem incomum: Muitos discos modernos de vinil são produzidos a partir de masters digitais, sejam gravações feitas desde o começo em software como o Pro Tools ou convertidas a partir de uma fita antes de serem enviadas para produção em massa. Quando eu visitei Gonsales, ele estava trabalhando no novo álbum do MY BRIGHTEST DIAMOND – em seu computador. Mas a conversão analógica-digital [e vice versa] progrediu muito desde o nascimento do CD, e Gonsales diz que ele pede por arquivos em alta definição, de 24 bits, para fazer o master, caso a fonte seja digital.
Ainda assim, à medida que artistas e gravadoras pulam na moda do vinil, alguns novos lançamentos em vinil podem ser masterizados a partir de áudio em qualidade de CD, não dos formatos de alta resolução que os audiófilos e gente como Neil Young adoram. Um álbum com qualidade de CD vai soar melhor e mais fiel em um vinil do que em um CD? Não. Mas soará mais como um vinil, com chiados e estalos, se essa é sua preferência.
"Não há basicamente nada que você possa fazer para que um álbum com uma hora de duração soe bom em um disco", disse Gonsales. O vinil pode muito, mas somente se os sulcos forem largos o suficiente para que a agulha os leia apropriadamente. Um álbum mais longo implica em sulcos mais finos, um som mais baixo e mais ruído. Do mesmo modo, os sons trepidantes de um gênero com o dubstep não foram feitos para o seu toca-discos. "Se você tivesse levado SKRILEX para a Motown, eles teriam dito, ‘Não tem como cortar um vinil pra isso!", disse Gonsales, graças ao esforço que a música com altos níveis de energia colocaria no trabalho da agulha.
O vinil apanha com altos e baixos: Frequências mais altas [pratos e cimbal de bateria] e sibilância [pense em sons como ‘s’] podem causar uma distorção horrenda, enquanto graves mais profundos transitando entre os canais esquerdo e direito podem deslocar a agulha. "O vinil deveria estar em mono", diz Gonsales. De outro modo, "É um caminho difícil para agulha traçar."
O começo do lado de um álbum soa melhor que o fim: À medida que a circunferência do álbum encolhe mais para o centro, a velocidade da agulha muda e não consegue seguir cada milímetro do sulco. Se a música que fecha o lado A ou B for uma complicada – vamos dizer, com um baita solo de gaita – a tendência é que o som fique ruim. É por isso que álbuns duplos valem o dinheiro a mais.
Ruído de Superfície: "O som quente do vinil, isso é uma forma de ruído que você obtém ao lidar com o material com o qual ele é confeccionado e remanescente do processo de fabricação", diz Gonsales. O formato vinil pode gerar outros problemas: estalos e riscos, discos que pulam e o atrito de uma agulha contra o LP, todos problemas que o CD resolveu ao chegar, décadas atrás. Mas, para muitos, esses sons são apenas parte integrante da experiência, e conferem charme a um formato que exige um pouco mais de esforço – e por vezes o recompensa.
— Por David Greenwald para o site OREGON LIVE
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