Uma breve história de Roger Waters, ex-vocalista do Pink Floyd
Por João Henrique Alves
Postado em 01 de janeiro de 2015
Uma breve história de Roger Waters, vocalista.
Uma das questões mais controversas no universo dos fãs do Pink Floyd, as habilidades vocais de seus integrantes sempre dividiu opiniões e paixões. Quando se fala de Roger Waters então, é um dos pontos periclitantes das discussões sobre os talentos musicais do baixista, compositor e produtor inglês.
O começo de sua carreira, sendo empurrado da guitarra rítmica para o baixo (e quase para a bateria) já mostrava que, longe de ser um grande talento musical, Roger era apenas um esforçado "não-músico", segundo as palavras do produtor Joe Boyd, e no Floyd mais seminal, compensava a falta de suas as habilidades musicais com idéias e força de trabalho, organização e senso artístico, que pôde ser sentido ainda mais quando, após a saída de Syd Barrett, procurou aprender ao máximo as minúcias do trabalho nos estúdios, dos segredos das mesas de mixagem, do showbizz e da produção musical.
Waters era o que mais se destacava nesse sentido. Dos membros da banda, foi o primeiro a "fazer fora do penico" do Floyd, quando se aventurou a musicar a trilha sonora do obscuro documentário "Music from the Body" em meados de 1969, na companhia do maluco-multimídia-músico e arranjador Ron Geesin, colaborador da banda em "Atom Heart Mother" e parceiro ocasional de golfe.
Suas primeiras tentativas no vocal no debut "Piper at the Gates of Dawn", sua composição "Take Up Thy Stethoscope and Walk" era tão deslocada do restante do material que fico imaginando como foram colocar a música no álbum... os vocais são totalmente inexpressivos que são dignos apenas dos registros de rodapé.
Com a saída de Syd (que apesar de ser um bom vocalista era melhor frontman) e a entrada de David Gilmour, o Floyd encontrou sua ancora vocal que seria conhecida, como ele mesmo gosta de divulgar, "a voz do Pink Floyd": Gilmour não só, a princípio, mimetizou os vocais de Syd com perfeição, como desenvolveu seu estilo próprio, dinâmico, afinado e eficiente, e, unindo sua voz a de Richard Wright, se tornou uma marca registrada em canções como Fat Old Sun, Echoes, Time, Money, Breathe, Confortably Numb, entre tantas outras.
Assim, não havia sobre as costas do Baixista, pois, a responsabilidade de aprimorar seus dotes. Aos poucos, ele procurou desenvolver as habilidades vocais, se arriscando aqui e ali, com vocais de pouco alcance nas notas, como em" If", "Grantchesters Meadows" e, seu primeiro sucesso vocal, "Set the Controls for the Hearth of the Sun".
Na produção da trilha sonora de More, Cymbaline era a música que deveria ser cantada pelo baixista, que fez uma versão que pode ser ouvida em botlegs e em clipes do próprio filme. Porém, uma segunda versão, cantada (melhor) por Gilmour, foi a que entrou no álbum. Waters diz que, à época, sofria Bulling do colegas, que o acusavam de ser totalmente desafinado.
Foi mais nessa época que o grupo decidiu usar os urros e gritos de Waters como peça chave para uma música. Waters já havia usado seu berro antes (especialmente em "Pow R . Toc H.", faixa do "Piper") mas de maneira mais discreta. Então foi em "Careful With that Axe, Eugene" que viria a tornar sucesso a sua marca registrada: o grito estridente, que vem do fundo da garganta. A versão original da música, disposta na trilha sonora do filme de Barbert Shoroder "Zabriskie Point" e nomeada de "Come in number 51, your time is up", ganhou peso e beleza na versão ao vivo do álbum "Ummagumma", e posteriormente, no show Live In Pompeii. Então, Waters havia ganho um pouco mais de crédito vocal.
Durante as gravações de Dark Side of the Moon, os trabalhos vocais estavam estabelecidos, até que Waters escreveu o epílogo do Álbum com as duas canções finais: "Brain Damage" e "Eclipse", que deveriam ser entregues para Gilmour cantar. Porém, o guitarrista incentivou o colega menos dotado a tentar os vocais. O resultado, brilhante diga-se de passagem, parece ter criado em Waters a coragem definitiva para se lançar na carreira de co-vocalista da banda definitivamente, posto a muito ocupado confortavelmente por Gilmour e Writght.
Então, durante a produção de "Wish You Were Here", Waters se esforçou até a exaustão de suas cordas vocais nos takes da canção "Shine On You Crazy Diamond", para mim, até hoje, seu trabalho vocal mais bonito e admirável (apesar de achar "The Trial" seu melhor trabalho). Tanto foi que não conseguiu mais cantar a outra música que lhe havia sido reservada: "Have a Cigar" foi esnobada por Gilmour, e o amigo Roy Harper fez a versão esperada encima dos ensaios de Waters para a canção.
Em sua fase mais dominante, Waters se apropriou do gosto da vocalização, e cantou a maior parte do material de "Animals". Pela primeira vez, seus "lead vocals" estão presentes em todas as canções de um álbum, e especialmente em "Sheep" seus dotes podem ser contemporizados como uma evolução clara de como conseguia chegar a notas altas sem destonar, ainda que a velha fórmula do sussurro ainda se fizesse vingar em "Pigs on the Wings".
Em "The Wall", pela primeira vez, o compositor escreveu músicas especialmente sob medidas para seus talentos vocais. "In The Flesh", "One of My Turns" e "Run Like Hell" mostram a maturidade vocal a qual o baixista perseguiu durante tanto tempo. Mas é em "The Trial" que ele dá um show: interpretando vários personagens, mudando as entonações e alcançando notas muito altas, Waters prova que, mesmo sendo um vocalista limitado, com o material certo, ele poderia se destacar. Aqui, arrisca o Uníssono com o colega mais gabaritado na canção mais popular do grupo "Another Brick in the Wall, part II", recurso que David Gilmour sempre realizou com sucesso ao lado de Richard Wright (Us and Them, Echoes). Outro ponto positivo é a realização teatral de vocalizações, com Waters fazendo as vozes de fundo do "professor", algo que a princípio foi cogitado ser feito por um ator profissional.
Em The Final Cut, Waters decidiu pela primeira vez trabalhar com um engenheiro de som apenas no trabalho da gravação dos vocais: Andy Jackson realizou a tarefa em um estúdio com Waters (em sessões bastante estressantes), enquanto Gilmour fazia seu trabalho nas guitarras apartado do colega, com James Guthrie. Waters já disse não gostar de seus vocais nesse álbum, mas ainda há bons destaques da assinatura vocal que o baixista desenvolveu pelos anos; em "The Heroes Return" e "The Final Cut" trabalhando bem a harmonia entre as notas altas e baixas; com idéias originais em "The Gunner's Dream", com a famosa passagem em que a voz se "transforma" no som de Sax; em "Not Now John", onde divide os créditos com Gilmour para, novamente , fazer um belo trabalho de interpretação, onde faz o personagem intelectual e Gilmour, o Ignorante. "Two Suns in the Sunset " é a cereja do bolo, onde suas habilidades vocais se mostram mais do que completas.
O estilo do Baixista continuou a ser aprimorado, talvez com menos maestria, em seus álbuns solos, onde há vários trabalhos de destaque, reprisando tudo o que aprendera durante os 20 anos anteriores. O fato é que o Floyd foi uma das poucas bandas que pôde contar com tantos talentos durante tanto tempo, e os vocais de Waters se tornaram uma marca importante e indefectível do trabalho memorável da nossa amada banda britânica.
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