Lobão: entre a arte e o panfleto
Por Claudinei José de Oliveira
Fonte: rollandorocha.blogspot
Postado em 26 de junho de 2015
Hoje, Lobão se diz "do rock", mas já teve época em que ele se dizia MPB, a mesma que, agora, desdenha. O argumento era plausível: se dizia músico, e não era de formação erudita, portanto, popular e, por último, brasileiro, então, era um Músico Popular Brasileiro. Existe, no You Tube, um vídeo do programa Ensaio, da TV Cultura, confirmando tudo. Não há problema algum em ser rock ou MPB. O problema é a necessidade de rótulo. Quem é não precisa dizer.
Como músico popular brasileiro fortemente influenciado pelo rock, Lobão é autor de uma obra muito relevante para a história da música nacional, tanto por sua originalidade quanto por sua contundência.
Talvez por influência de seus ídolos roqueiros, em especial Lennon, Lobão nunca teve travas na língua. Isto somado ao fato de ele não ter tido medo, em plena época de transição da "ditadura" para a "democracia", em assumir um estilo roqueiro de vida, ou uma "Vida Bandida", como diz o título de uma de suas músicas, fez dele uma espécie de inimigo público do poder instituído. Enquanto Lobão conciliou este lado "persona non grata" com seu lado músico, um até complementava e contribuía para o enriquecimento do outro.
Porém, em meio ao processo era possível percebermos pistas do rumo que as coisas acabariam tomando. No governo Sarney, Lobão lançou a música "O Eleito" e, em seguida, nos curtos "Anos Collor", "Presidente Mauricinho". O que ambas as músicas têm em comum? São panfletárias e de qualidade sofrível. Mediocremente datadas. A título de comparação, "Suposicollor", dos Ratos de Porão, que aborda o mesmo tema de "Presidente Mauricinho", esbanja categoria se comparada com esta.
Até o final do século passado, quando lançou o álbum "A Vida É Doce", Lobão teve as rédeas de seu destino nas mãos, e o guiou com maestria. Se existe uma "linha evolutiva da Música Popular Brasileira", o álbum é um perfeito exemplo. Não pedia benção aos coronéis Gil e Caetano como, até hoje, é dogma entre os "emepebistas". Uma espécie de diálogo chapado entre Lou Reed e Tom Jobim durante uma rave, resultando num clima bastante roqueiro, por sua densidade. Mas parou por aí.
O último álbum de inéditas do Velho Lobo, "Canções Dentro Da Noite Escura", apesar de bom, não é contundente como o "A Vida É Doce" (e já tem uma década de idade!). A partir daí, ele tem se dedicado a requentar velhos sucessos em gravações ao vivo e, com mais intensidade, à arte da polêmica. Lobão sempre foi do contra.
O problema em sempre ser do contra é que, se você afirmar simpatias políticas publicamente, fatalmente terá de desdizê-las. Outro problema de Lobão é que, talvez por sua necessidade de rótulos, sempre precisou afirmar em qual alcateia uivava. Tal problema é ainda maior se levado em consideração que, na tradição política brasileira existe apenas oposição e esta, quase sempre, é confundida com posicionamento ideológico, o qual não existe. Direita e esquerda sempre foram aquilo que a sabedoria popular, sabiamente, define como "farinha do mesmo saco", ou seja, uma corja de sanguessugas, cujo objetivo derradeiro é se esbaldar, impunemente, nos cofres públicos. Assim, o Velho Lobo sempre estará mal acompanhado. Melhor uivar sozinho.
E é o que, após disponibilizar na Internet o "single" "Eu Não Vou Deixar", ele vem tentando fazer. No afã de afrontar a covardia dos atuais "donos do poder" em se esconderem atrás de vagos "conceitos socialistas" de coletividade, Lobão resolveu afirmar sua individualidade gravando sozinho todos os instrumentos. Resultado: como as já citadas "O Eleito" e "Presidente Mauricinho", um "panfleto musical" pobre de doer. Contradizente que só, Lobão ainda foi procurar apoio na coletividade (o tal do "crowdfunding") para a viabilização do projeto. Porém, não se paga por panfletos. Você o recebe gratuitamente, geralmente de maneira indesejada, nas ruas.
Para os apreciadores da boa música, bom seria se Lobão atentasse mais aos abismos da alma, e não aos abismos da política, como matéria-prima para suas canções. Ele já provou saber fazer isto muito bem, mas será que esqueceu?
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A música que surgiu da frustração e se tornou um dos maiores clássicos do power metal
O álbum clássico do Iron Maiden inspirado em morte de médium britânica
A canção emocionante do Alice in Chains que Jerry Cantrell ainda tem dificuldade de ouvir
O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
A banda fenômeno do rock americano que fez história e depois todos passaram a se odiar
O melhor álbum do Led Zeppelin segundo Dave Grohl (e talvez só ele pense assim)
O rockstar que Brian May sempre quis conhecer, mas não deu tempo: "alma parecida com a minha"
O álbum do Led que realizou um sonho de Jimmy Page; "som pesado, mas ao mesmo tempo contido"
Andi Deris garante que a formação atual é a definitiva do Helloween
9 bandas de rock e heavy metal que tiraram suas músicas do Spotify em 2025
A banda de rock favorita do Regis Tadeu; "não tem nenhuma música ruim"
A cantora que fez Jimmy Page e Robert Plant falarem a mesma língua
Morre o técnico de som "Macarrão", que trabalhou com Raimundos, Sepultura, Mamonas e outros
O baterista que Neil Peart dizia ter influenciado o rock inteiro; "Ele subiu o nível"
A canção que Sandy & Junior recusaram e acabou virando hino do rock nacional nos anos 2000
U2: as 10 melhores músicas de todos os tempos da banda
Confira 5 clássicas bandas que Lou Reed já declarou que detestava
O grave problema do refrão de "Eagle Fly Free", segundo Fabio Lione

Regis Tadeu toma partido na briga entre Iron Maiden e Lobão: "Cafona para muitos"
Lobão comenta sobre o "abuso de poder" na MPB
A inacreditável forma que Lobão soube da morte do presidente Tancredo Neves
Lobão: pedindo humilde perdão de Gil, Caetano e Chico Buarque



