Como opinião de Lobão sobre Chico Buarque mudou ao longo dos últimos anos
Por Gustavo Maiato
Postado em 25 de julho de 2023
Relação de Lobão com Chico Buarque se alterou ao longo das décadas. Se hoje em dia o roqueiro até regravou o hit "Pedaço de Mim", antes o que se via eram críticas...
A opinião e a própria relação de Lobão com Chico Buarque se alterou ao longo das décadas. Se hoje em dia o roqueiro até regravou o hit "Pedaço de Mim", na década de 2000 o que se via eram críticas ao mestre da MPB, que seria, na verdade, queridinho do ditador Emílio Médici.
Em entrevista ao Corredor 5, Lobão disse que Chico Buarque é um "querido" e que ele facilitou o processo para ele regravar sua música.
"Eu regravei ‘Pedaço de Mim’, do Chico Buarque. Eu fiz a parte do vocalize da Zizi Possi. Não cheguei a falar com o Chico, mas ele foi muito cordial e gente fina. Facilitou em tudo. Sou muito orgulhoso de gravar uma música dele. Ele foi muito querido.
O arranjo é do Rogério Duprat. Eu não mexi, só botei uma guitarra. Ficou bonito, viu? Gravei também ‘O Trem Azul’, do Lô Borges. Tenho falado com ele esporadicamente. Mostro para ele alguns arranjos que pensei para esse meu disco. Ele ia opinando. Fiz também ‘Cais’, do Milton Nascimento, que foi um desafio. Misturei e botei o arranjo de cordas de outra música", comentou.
Já em entrevista mais antiga do início dos anos 2000, publicada pelo canal do Rodrigo Veiga, Lobão explicou que apesar do rótulo de ser de esquerda, Chico na verdade era adorado pelo ditador Emílio Médici.
"Sobre o Chico Buarque, minha mãe era fã. Ela gostava do Médici e fazia analogias entre os olhos azuis dele e do Chico. Era fã! Não conseguia distinguir um do outro. Agora, outra coisa interessante, é que o Chico é de esquerda e subversivo. Na época nos anos 1960 ele não fazia mal a uma mosca sequer. Não tinha subversão no que ele fazia. Ele era o namoradinho do Brasil. Fizeram uma reforma no ensino e inventaram a disciplina ‘Moral e Cívica’, para dar uma tenência cívica ao cidadão. Sabe o que as professoras ensinavam? Músicas do Chico Buarque".
Lobão, esquerda e direita
Em outro trecho da mesma entrevista ao Corredor 5, Lobão explicou que direita e esquerda estão unidos contra o rock, em sua visão. A transcrição foi de Bruce William.
"Dentro do inconsciente coletivo, da mentalidade brasileira, o rock não é pra ser aceito no Brasil. E isso sempre foi assim no Brasil, desde a passeata contra a guitarra elétrica em 1967 até os dias de hoje", diz Lobão. "Eu era virgem, nunca tinha fumado maconha mas era cabeludo, tinha 13, 14 anos, passava na rua e recebia revista da polícia porque era maconheiro, marginal, porque estava carregando instrumento.
E você tinha a direita que estava no poder na época, os militares, todos contra o Rock, e tinha a esquerda também. Só não acho certo essa ditadura, tanto da direita quanto da esquerda. Um antropólogo, sociólogo ou alguém vai estudar porque este fetiche pela negação ao Rock. A esquerda diz que é cultura imperialista (norte) americana, a direita diz que é coisa de maconheiro, gente que não toma banho e que é fedorento. O fato é que ambos os lados se unem para ter uma ojeriza, uma urticária estético-moral".
Acabou tendo que, de uma forma ou de outra, dar uma abrasileiradinha. Ficou mais tribalista, ficou mais Marisa Monte, senão você não toca no SESC, você não consegue tocar, há uma patrulha mesmo, uma coisa sistemática. E eu me recuso, desde a época do Wilson Simonal, eu me recuso a fazer parte disso, eu não vou me submeter a isso. Eu acho que sou a única pessoa que está viva ainda que não se submeteu e continua inteira, vamos dizer assim", concluiu.
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