Rudson Xaulin Apresenta: Parte 3 - Papas Da Língua
Por Rudson Xaulin
Fonte: Rudson Xaulin
Postado em 05 de julho de 2017
Mais uma banda, que para muitos, não precisa de crachá de boas vindas, o PAPAS DA LÍNGUA. Essa trupe é figura carimbada da cena do "Rock Gaúcho" (com uma boa pitada de reggae), com uma levada que consegue adentrar em meios mais brutos de nossa raiz musical. Uma banda que mescla uma sonoridade diversificada e muito competente. Eu me recordo de sempre saber do nome de PAPAS DA LÍNGUA, desde que frequentava as ruas e entorno de bares e casas de shows, um dos nomes mais fortes e mais abrangentes da "nova safra" que chegou para ficar no lugar de ícones dos anos oitenta, e conseguiu. Eu pude ver grandes apresentações da banda em festivais de rádios, em eventos de grande porte envolvendo prefeituras e aniversários de cidade, bem como assistir a banda ao vivo, em algum "Parcão" de muitas cidades. Uma dessas vezes, foi na cidade de Gravataí/RS. A banda tocou lá no meados da tarde de um outono, e como eu era da cidade vizinha, peguei meu valente "longão" (um surrado longboard), e fui até a outra cidade, embalado pelo asfalto e boa músicas nos fones de ouvido. Foi um show grandioso, lotado, abarrotado de grandes hits do já consagrado grupo. No dia seguinte, eles tocaram em Porto Alegre/RS, e mesmo ainda muito cansado da divertida tarde anterior, lá fui eu, indo muito mais longe, de long, até o show da banda. A trupe do PAPAS DA LÍNGUA sempre teve a grande honra de ser agraciada por muitas multidões, teve um salto astronômico quando uma de suas canções (VEM PRA CÁ) parou no Grupo GLOBO, sendo trilha de novela ("Viver a Vida"). Logo depois a banda conseguiu grande espaço em PORTUGAL, fazendo shows por lá e firmando uma parceria com a TAP (empresa de transportes aéreos), para colocar seu DVD nos voos da companhia, um feito muito bonito, e claro, chique.
Músicas em Destaque:
Diversas, mas EU SEI, é um hino. Voz rasgada, violão e uma canção que é atemporal. Outra de grande destaque é VEM PRA CÁ, que ao vivo fica lindíssima, e uma das mais bonitas letras do grupo, acho eu que, um marco na história da banda, e será difícil ser superada. Outro clássico, LUA CHEIA, seguida de perto por BLUSINHA BRANCA, essa ao vivo tem até aquela já clássica brincadeira do grupo, pois essa "tal blusinha", recebe todas as cores em versos do vocalista da banda, que sempre pergunta quem está com tal cor, um ponto forte do show da banda, sempre. ELA VAI PASSAR, MARY JANE, OBA OBA também merecem estar na lista, mas VIAJAR, essa é "classicão", outra letra que saiu das mãos do grupo, e ganhou as graças da multidão, sempre sendo lembrada como arrendada para contar histórias do nosso estado, e deu certo. Letra ríspida, clipe com ares de LENNY KRAVITZ, uma coisa foi completando outra, e a música se sobressaiu. Com canções muito bem compostas, que sempre recebem um bom flerte seguro no pop e no reggae, e com um vocal inconfundível, PAPAS DA LÍNGUA é uma das bandas mais consolidadas da história do Rio Grande do Sul. Qualidade, acho eu que essa é a palavra que possa definir a banda.
Curiosidades:
Depois que as coisas com os meus livros foram dando certo, algo bem legal aconteceu: Eu fui convidado para uma palestra em uma faculdade de Gramado/RS, e lá, eu estive ao lado de pessoas ligadas ao "Festival de Cinema", nacionalmente reconhecido como um dos melhores do Brasil, além de dividir isso com músicos da TEQUILA BABY e do CHARLIE BROWN JR, e claro, do PAPAS DA LÍNGUA. Da banda, estava LEO HENKIN, o cara por de trás de tantas letras lindas dos "Papas", um verdadeiro poeta, ao meu lado, um simplório escritor. Falamos muito de livros e da escrita, e foi uma grande honra estar ao lado de monstros do cenário do rock n’ roll como um todo. Poder falar e ser ouvido por tantas pessoas, além dos caras que sempre cantaram e tocaram músicas que me embalaram por tantas e tantas vezes na vida, é algo que eu apenas agradeço aos livros, e por toda a sorte que tenho tido em meu caminho.
Entrevista com LEO HENKIN:
RX - O que poderia ser feito, falando em espaço, mídia, shows, para que o rock n’ roll tenha sua relevância de outrora? Ou acha que isso é um problema interno do Brasil e da nossa cultura musical?
HENKIN: Tenho a impressão que o Brasil nunca foi um país que produziu muito rock, já que nossas expressões musicais, (estilos, ritmos) mais fortes são outras (samba, forró, baião, música romântica). Mas creio que nos anos 80, houve uma penetração maior do "rock brazuca" nas rádios e TVs, uma ocupação maior na mídia. Isto deu a impressão de que se produzia muito rock no Brasil, e, claro, essa presença na mídia dava mais vigor ao rock. Mas já a partir da metade dos anos 80, outros segmentos mais populares no Brasil tiveram um crescimento tremendo e conquistaram mais espaço, tanto na mídia, como entre formadores de opinião, classe média, etc. O axé, o sertanejo romântico, o pagode, e mais tarde um pouco, o funk carioca, além do brega e da musica eletrônica. Ocuparam um espaço gigante nos meios de comunicação, tirando naturalmente os espaços que o rock e a MPB tinham. Por outro lado, acho que o rock, assim como a MPB, estão, desde a metade dos anos 2000, numa crise de criatividade. Basta ver que a última banda que apareceu no Brasil, que apareceu com muita consistência e inovação artística, e grandeza de público, foi Los Hermanos. Mas eu acho que este desgaste do rock era previsível, pois ele já tem uma certa idade, está caminhando pros seus 70 anos de idade. As velhas bandeiras "sexo, drogas e rock n’ roll", e a própria rebeldia que lhe era inerente, já não fazem muito sentido, pois, sexo e drogas já não são tabus no mundo, e a rebeldia do texto e letras que questionavam a sociedade vigente, o status quo, foram tomadas pelo hip hop (o verdadeiro e original, claro). O modo de vestir "de roqueiros", punks , e metaleiros foram há muito tempo incorporados por, digamos, todas as tribos, ou seja, um artista do sertanejo universitário ou de qualquer outro segmento, usa jaqueta de couro, calça rasgada, abusa das tatuagens e piercings. Então, pra concluir, a pulverização de espaços gerada pela revolução digital nos últimos 10 anos, reforça essa sensação, e que é real, de que o rock perdeu espaço. O que tem que se fazer é produzir bom, rock, boa música e usar bem os espaços e mídias disponíveis!
RX - Uma história engraçada com a sua banda, de sufoco, injustiça, algo que aconteceu, mas que não deveria ter acontecido?
HENKIN: Uma história engraçada se passou com o Papas Da Língua, mas na verdade comigo. Estávamos em São Paulo fazendo shows e divulgação. Após o almoço cancelaram um programa que faríamos à tarde, então dispersamos e cada um foi fazer algo. Eu caminhei pela Avenida Paulista e resolvi entrar numa sala de cinema e assistir a um filme. Após a sessão, liguei meu celular e vi que havia umas 20 chamadas do nosso empresário. Então fiquei sabendo que haviam confirmado nossa participação no programa "Altas Horas", do Serginho Groisman, que seria às 18hs. Na primeira chamada, às 15hs, nosso empresário estava calmo, mas na ultima, às 17hs, ele estava em pânico! Peguei o primeiro taxi, e todos do Papas já estavam na Globo, menos eu. Em 45 minutos cheguei na rua do estúdio da Globo, mas aí o trânsito parou e não andou mais. Na Globo faltavam 15 minutos pro Papas entrar no programa! Desci do taxi e fui correndo! Cheguei completamente encharcado de suor! As figurinistas me esperavam pra trocar a camiseta e quando saí do elevador, o Groisman nos anunciou! No final deu tudo certo mas até hoje damos risadas com isso e a rapaziada pega no meu pé!
RX - E fale aqui sobre qualquer coisa que ache que está errado, direcionando isso para produtores, casas de shows, mídias, público ou até mesmo outras bandas:
HENKIN: Eu acho que essa nossa indústria cultural e de entretenimento vai caminhando, com erros e acertos. Acho que todos tem que procurar os seus espaços e saber onde está o seu público e se comunicar com ele. Acho que os artistas da música, os empresários, os técnicos, enfim, todos que se envolvem com shows e com os negócios dessa indústria, devem buscar um crescimento e um profissionalismo cada vez maior nas relações. Às vezes as obrigações das partes envolvidas não estão bem claras, os direitos, em todos os níveis não estão claros, nem definidos em lei. Então seria bom que todos procurassem cobrar dos governos mais clareza, mas também praticar o que é possível, começando fazer contratos, etc.. Enfim, mais profissionalismo.
EU SEI:
VEM PRA CÁ (ao vivo):
VIAJAR:
Rudson Xaulin Apresenta
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