Das discordâncias ao enterro apressado de enteado, por que Max Cavalera saiu do Sepultura
Por Igor Miranda
Postado em 06 de março de 2021
O vocalista e guitarrista Max Cavalera refletiu sobre sua saída do Sepultura em entrevista à rádio francesa Heavy1/Hard Force. Conforme transcrito pelo Blabbermouth, o músico destacou que a relação interna dentro do grupo estava "podre por dentro".
Max deixou o Sepultura em 1996, após a banda dispensar Gloria Cavalera, esposa dele, das funções de empresária. Em entrevistas anteriores, o músico afirmou que não saiu do grupo por causa da mulher.
O próprio irmão de Max, o baterista Iggor Cavalera, acabou por ficar no Sepultura durante mais uma década, deixando de conversar com o vocalista/guitarrista nesse período.
Em meio a tudo isso, durante a turnê de "Roots" (1996), álbum de maior sucesso do Sepultura, o filho de Gloria e enteado de Max, Dana, morreu em um acidente de carro. A situação catalisou a saída do músico, pois ele afirma que a esposa do guitarrista Andreas Kisser tentou acelerar o enterro para que a banda voltasse logo a fazer shows.
Fama
Inicialmente, Max Cavalera pontuou que não soube lidar com a fama no período em que "Roots" estourou. "Toda a época de 'Roots' foi confusa, pois eu não soube lidar com a fama, especialmente no Brasil, onde o disco foi muito grande, nível Beatles", disse.
O músico, então, se recordou de um incidente em um local público. "Lembro de ir ao shopping com minha esposa e sermos cercados. E eu sabia que 70% daquelas pessoas não tinham um disco sequer do Sepultura, só estavam ali pela curiosidade pela coisa da celebridade. Aquilo me incomodou", afirmou.
Como resultado, o envolvimento de Max com entorpecentes se acentuou. "Sofri com isso na época. Eu estava bebendo muito e usando drogas, então, estava selvagem", declarou.
Morte do enteado
O trágico falecimento do enteado, Dana Wells, trouxe uma sensação ainda pior para o enorme sucesso do Sepultura naqueles tempos. "Foi marcado pela glória e tragédia. Ao mesmo tempo que comemorava um grande disco, houve uma grande tragédia no meio disso, que foi a morte de Dana. Nunca aproveitei o sucesso de 'Roots' por completo por isso. Foi cortado pela metade por isso. Mas é a vida", refletiu Max.
O músico deixou claro que a situação interna do Sepultura estava ruim antes da morte de Dana. Porém, o incidente catalisou os problemas da banda, pois, segundo Max, a esposa do guitarrista Andreas Kisser tentou apressar o enterro do enteado do frontman para que as atividades de turnê fossem retomadas rapidamente.
"Não foi o começo, mas isso adicionou. Muitos não sabem, mas estávamos na Inglaterra, prontos para fazer o Monsters of Rock Donington com Ozzy Osbourne, quando soubemos que Dana morreu. Minha esposa entrou em desespero. Voltamos para a América. Descobri depois que a esposa de Andreas tentou mover o corpo, tentou roubar o corpo de Dana para enterrá-lo de forma realmente rápida para que pudéssemos voltar a fazer turnê. Quem faz uma coisa dessas? Isso me fez pensar seriamente com quem eu estava fazendo música. São amigos reais?", comentou.
A partir daí, Max Cavalera disse que os demais integrantes - Andreas, Iggor e o baixista Paulo Jr - se voltaram contra ele. "Eles se uniram, incluindo meu irmão - não posso tirá-lo dessa, ele fez parte disso -, era como um motim. Os três contra mim e contra Gloria. Não conversavam com ela. A última turnê europeia foi miserável. Isso não se refletiu na música, que era ótima, os shows eram ótimos, mas as outras 23 horas do dia eram miseráveis", declarou.
Ideias diferentes
Max afirma que o contrato de Gloria com o Sepultura chegou ao fim, por isso, não houve demissão - então, não foi essa a causa de sua saída. "Eventualmente, o contrato dela acabou. Eles sempre diziam na imprensa que ela seria demitida, mas não é verdade. O contrato dela acabou, ela decidiu não renovar. Ela me disse: 'siga com eles se quiser, é sua escolha, não me faça impedi-lo'. E eu não pude, por causa de coisas como essa. Rolaram coisas pesadas", disse.
Porém, o músico declara que os demais colegas queriam fazer mudanças na gestão da banda, não só envolvendo Gloria, e ele discordava disso. "Eles tinham ideias diferentes das minhas. Queriam substituir Gloria e muitas outras pessoas de nossa equipe com pessoas grandes e 'profissionais'", afirmou.
Na visão de Max, não havia necessidade de fazer tais mudanças. "Para mim, parecia uma ideia ruim, pois aquelas pessoas nos ajudaram a chegar lá. Agora que você é grande e bem-sucedido, você pode contratar qualquer um, daí seguiria com pessoas de sucesso. Não concordo com isso, pois acho que tudo estava indo bem. Estávamos tocando nos maiores festivais, seríamos headliners do Big Day Out na Austrália, então ela não era uma empresária ruim como eles viam", declarou.
Por fim, o vocalista e guitarrista apontou o que poderia servir como solução para ele não sair do Sepultura naquele período. "Acho que a melhor coisa que poderíamos ter feito na época seria tirar um ano de folga, cada um para um canto, para clarear as ideias, e voltarmos um ano depois para conversar sobre isso. Porém, mesmo com isso, não havia remédio. Estava quebrado. Estava apodrecido por dentro. Precisava de algo, e era a separação", concluiu.
A entrevista completa pode ser conferida, em inglês e sem legendas, no player de vídeo a seguir.
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