Rock Brasil: Resenha do documentário 50 Anos de Rock Brasileiro
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 03 de junho de 2021
Idealizado por Marcelo Rossi e financiado com recursos do governo paulista mais patrocinadores, 50 Anos de Rock Brasileiro (2014) entrevista mais de 50 músicos e críticos para traçar um painel do que tem rolado por aqui desde os anos 50. A amplitude da proposta e a escassez da verba para dar conta de tamanha empreitada frustram um pouco, mas quem curte rock deveria assistir ao resultado.
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A primeira parte destaca o nascimento do rock brasuca em fins de 1950 e a década de 1960, quando a Jovem Guarda explodiu. O primeiro rock nacional foi Rock Around de Clock, gravada por Nora Ney. Embora artistas como Cauby Peixoto e Lana Bittencourt tivessem gravado canções no emergente estilo, eles eram artistas de samba-canção e boleros que se aventuravam em lados B meio roqueiros, tenteando o possível novo mercado jovem.
O estouro mesmo veio em 58 com os irmãos Tony e Cely Campello, mais com a segunda, que, no país que tanto ansiava em se modernizar 50 anos em 5, estourou com seu Estúpido Cupido e Banho de Lua, agradando desde o netinho à vovó.
Nos 60’s, bandas como Os Incríveis venderam respeitáveis 200 mil cópias e, pasmem, um milhão de compactos em japonês! O legal do programa é conhecer essas histórias da boca de quem as viveu.
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Fica de lado o grande embate entre Jovem Guarda, acusada de alienada e colonizada, e os defensores da Bossa Nova/MPB, que resultou até em passeata contra a guitarra elétrica. No lugar, aparece Ronnie Von corretamente desmentindo ter pertencido à Jovem Guarda. Ronnie e os Mutantes eram de turma mais influenciada por Beatles e psicodelismo inglês, vide a tríade de álbuns psicodélicos do Príncipe (não da Jovem Guarda), infelizmente pouco divulgados (pra não dizer esquecidos).
O segundo grupo de entrevistas abrange os anos 70, os Anos de Chumbo, em referência à repressão da ditadura militar, que também perseguiu roqueiros não apenas por letras, mas pela simples intolerância ao visual cabeludo, como relata um dos membros do Made in Brasil.
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Um monte de artistas é citado, não apenas medalhões como Raul Seixas ou Secos & Molhados. Ponto para o documentário. O cenário de rock progressivo tem destaque e é interessante/instrutivo perceber como a quase totalidade dos roqueiros operava no underground, posto não receberem atenção da grande mídia, exceção dos Secos & Molhados ou de pessoas que popearam a sonoridade, tipo Guilherme Arantes, que abandonou o Moto Perpétuo para emplacar sucesso atrás de sucesso em trilha de novela global (nada contra). A invisibilidade desses artistas roqueiros só piorou com o sucesso da novela Dancin’ Days e o estouro da disco music fabricada (em todos os sentidos) no país.
Assistindo à terceira parte de 50 Anos do Rock Brasileiro, sobre os frutíferos anos 80, ocorreu-me que o diretor poderia usar dos auspícios do fomento cultural paulista para verticalizar sua pesquisa e criar uma série dedicada ao rock produzido em nosso estado. Isso daria mais profundidade e evitaria ausências de bandas como o Fellini, Mercenárias, Maria Angélica Não Mais Mais Aqui e o sorocabano Vzyadoq Moe, para citar apenas algumas.
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Os entrevistados corretamente atestam que nos 80’s o rock virou moda, porque veio encarnado em pop, tipo Blitz, Kid Abelha e tantos outros. Como moda, as gravadoras investiram em muita bobagem, mesmo que hoje nós oitentistas morramos de saudade e alguns se autoenganem dizendo que antigamente se fazia música melhor ou as coisas eram mais inocentes.
Mesmo tentando cobrir cenas como a brasiliense, gaúcha e a baiana – Marcelo Nova participa – fica faltando relevo à importante carioca e mesmo à mineira com grupos como Último Número.
Muito legal desse documentário é não deixar de fora o metal, hard rock e vertentes que não tiveram sucesso comercial nos anos 1980.
Apesar do problema da falação estendida que às vezes cansa, a derradeira parte, que trata dos anos 90 e 2000, foi-me deveras instrutiva. Depois da geração 80, conheci pouca coisa de ouvir, mais mesmo de nome (e olha lá!). Segundo os depoentes, o sucesso do Sepultura no exterior fez as bandas nacionais quererem gravar em inglês para repetirem o êxito. Isso mudou um pouco no meio dos 90’s com o sucesso dos Raimundos, originário de vasta cena cantada em português. Muita gente falando dos defeitos e fragilidades das bandas tipo NX Zero e Fresno, mas ninguém tentando convencer de sua qualidade; será mesmo que não possuem?
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