Os 10 melhores álbuns nacionais underground de 2022, segundo André Garcia
Por André Garcia
Postado em 26 de dezembro de 2022
Eu, André Garcia, autor desta matéria, confesso que, até o começo de 2022, me ligava muito pouco — quase nada — em bandas nacionais atuais. No meu mundo, elas não existiam, e estava tudo ótimo. Isso mudou quando apareceu para mim no YouTube o vídeo de um show virtual do Elefante Cinza. Do desejo de compartilhar aquilo aqui para que mais pessoas conhecessem, escrevi uma matéria chamada Vale a Pena Conhecer. Reverendo Frankenstein e Time Bomb Girls também entraram.
A partir dali, fui conhecendo mais e mais bandas. Usei o algoritmo do Instagram para me oferecer inesgotáveis amostras do underground do mais atual rock nacional. Me pareceu lógico escrever mais matérias como aquelas para compartilhar mais bandas, e acabou virando uma coluna (mais ou menos) semanal.
Quando surgiu a possibilidade de fazer uma lista de melhores de 2022, eu pensei imediatamente em fazer com essas bandas todas que ouvi esse ano. Mas as bandas com as quais tive contato, de minha minúscula bolha virtual, é apenas uma pequena parte de todas que estão na ativa e lançaram material recentemente. Como eu poderia ousar listar as melhores?
Decidi então fazer minha lista tomando como universo as 33 bandas que pintaram na coluna desde seu surgimento em julho até o final de novembro. Delas, 20 lançaram álbum/EP/single de material autoral inédito esse ano; dessas 20 listei as 10 que mais acredito que Vale a Pena Conhecer.
Dê uma chance às bandas abaixo, e garanto que você descobrirá algumas novas músicas favoritas.
Elefante Cinza
Em 23 de julho escrevi:
"Formado no Rio de Janeiro durante a pandemia, é o projeto solo de Rodrigo de Andrade, que mergulhou em sua própria individualidade para fazer música sozinho. Inspirado em nomes como Tame Impala, Jack White e Radiohead, o multi-instrumentista faz um indie de qualidade e com personalidade."
Desde minha publicação, ele lançou mais dois singles, que só aumentaram os motivos para figurar nesta lista. "Além do que Existe" é uma música conduzida pelo piano, me lembrando as do Radiohead e Neil Young; "Olha Para Mim" é mais guitarreira, e começa com uma surpreendentemente direta referência a The Doors. "Olha Para Mim" é minha nova música favorita dele!
Onde encontrar:
https://linktr.ee/elefantecinza
Pedro Jack
Em 4 de agosto escrevi:
"O cantor e compositor carioca Pedro Jack este ano lançou o EP "Hear Me", onde ele faz um folk intimista, introspectivo e bem produzido, inspirado em nomes como Nick Drake e Jeff Buckley. Com letras em inglês, usa de metáforas e simbolismos para tratar das mudanças da vida."
Após minha publicação, ele lançou o EP "Lonely, Lonely", onde se aprofundou no folk rock ao mesmo tempo que flertou com um lado mais blues. Eu curti bastante as faixas mais blues rock, "Foolish Boy" e "Im Gonna Leave This Way". Cada uma das cinco faixas explora uma direção diferente, o que deixa claro que a jornada de Pedro Jack está longe do fim.
Onde encontrar:
https://linktr.ee/PedroJack
Helfonic
Em 26 de agosto escrevi:
"Saído diretamente da encruzilhada à meia-noite surgiu Nicolai Helfonic, multi-instrumentista que faz seu debut com "Opereta do Diabo". Composto de 13 faixas, o álbum soa como se em algum lugar do multiverso Jack White psicografasse um Creedence Clearwater Revival possuído pelo Black Sabbath. Recomendado a quem curte a vibe de Alice Cooper e Misfits (e quem não curte?)"
Na minha opinião, horrorpunk foi um dos gêneros que mais brilharam no underground nacional em 2022. Rolou muita coisa bacana inspirada em nomes como Misfits e Alice Cooper, mas Helfonic foi uma das abordagens com mais personalidade que vi. É como um blues mal-assombrado com toques de horrorbilly, tocado por Jack White morto e enterrado no Pet Sematary. Há algo que me lembra também Tim Burton.
Onde encontrar:
https://linktr.ee/helfonic
She is Dead
Em 4 de setembro escrevi:
"Formado em 2019 em Curitiba, é atualmente composto por Mau Carlakoski (guitarra e vocal), Ricky Volpato (guitarra e vocal), Kim Tonieto (baixo e vocal) e Murilo Vitorette (bateria). Com letras em inglês, mistura a aspereza dos Dead Kennedys com o toque alternativo do Pixies e a melodia do Bad Religion."
Eles fazem um post grunge que não é uma tentativa de voltar aos anos 90. Muito pelo contrário, incorporam elementos pós-anos 2000, como indie e screamo. "First Day of My Life" é minha música preferida. Eu gosto também de como eles pegam o lado mais melódico (e até mesmo pop) das bandas de Seattle.
Onde encontrar:
https://linktr.ee/sheisdead
Complexo de Vira-Lata
Em 9 de setembro escrevi:
"Complexo de Vira-Lata é uma banda de São Paulo composta por Júlio Vieira (guitarra e vocal), Yuri Pietragalla (bateria) e Eder Brito (baixo, violão e vocal). Seu som é um pop rock trintão que mescla o lirismo cabeça de Renato Russo e a irreverência e brasilidade de Chico Science — com um toque do concretismo de Arnaldo Antunes."
[an error occurred while processing this directive]Após minha publicação, eles lançaram o single "Mundo Desigual". Sua sonoridade me lembrou Legião Urbana na versão de "A Dança" do "Músicas p/ Acampamentos". A letra também me lembra tanto certas coisas do Renato Russo quanto as letras mais ácidas do Cazuza naquela época. Lembra da época em que valia a pena prestar atenção no que dizia as músicas que tocavam nas rádios?
Onde encontrar:
https://linktr.ee/complexo.de.vira.lata
Excêntrica
Em 22 de setembro escrevi:
Formada por Henrique Filho (guitarra e vocal) e Douglas Gomez (bateria), que já se conheciam de outros projetos no underground de Juiz de Fora/MG. Em 2019, eles decidiram somar forças com o baixista Maycon Alves para formar a Excêntrica, banda dedicada a construir um novo repertório com influência de hard rock, mas com letras em português.
Seu single de estreia foi "A Orelha de Eurídice" — um cover de um lado b do Cazuza, com a participação de Ricardo Palmeira, guitarrista dele. Mesclando MPB e o hardão setentista, bebe na fonte de clássicos como "The Immigrant Song" e "Kashmir". Estou ansioso por um álbum de músicas autorais da banda. E admiro a forma como ela dedicou seu 2022 a começar de baixo e pavimentar seu caminho sem recorrer a atalhos — sem trocar a integridade por likes.
[an error occurred while processing this directive]Onde encontrar:
https://www.linktr.ee/excentricabanda
Doctor Velvet
Em 17 de outubro escrevi:
"Banda revelação de Amsterdã, Doctor Velvet foi formado pelos amigos de escola David (teclado e vocal) e Jerome (guitarra) – Sam (saxofone), Cesar (baixo) e Joe (bateria) completam a formação. O quinteto faz um rock de garagem bem retrô influenciado por Link Wray e The Sonics, trilha sonora ideal para quem quiser beber, dançar e curtir como fizeram os baby boomers no começo dos anos 60."
Após minha publicação, eles lançaram, agora no finalzinho do ano, o single "She's Mine", minha nova música favorita da banda. Ela mantém o clima de inferninho, mas acrescenta elementos de The Animals e do The Doors (na época em que Jim Morrison e companhia arrasavam em clubes e barzinhos).
Onde encontrar:
https://www.linktr.ee/doctorvelvet
Cine Sinistro
Em 9 de novembro escrevi:
"Formado na zona oeste do Rio de Janeiro em 2016, é composto por Joaquim Roma (guitarra e vocal), Pablo Pecky (guitarra), Dr. Godinho (baixo) e Rafael Cabral (bateria). Após um hiato, à meia-noite de uma sexta-feira 13, voltou dos mortos durante a pandemia para fazer horror punk. É uma mistura das melodias vocais e letras de Glenn Danzig no Misfits com um toque bubblegum de Blue Hearts com Teen Idols."
Eu conheci a banda em sua fase atual, com "Halloween", fazendo um punk rock mais bubblegum. Recentemente que fui ouvir as coisas mais antigas, mais punk rock raiz. Curto mais a fase atual, mas essas músicas são bacanas para ver de onde a banda veio. É como ver a foto da identidade de um amigo que você conheceu recentemente.
Onde encontrar:
https://linktr.ee/cinesinistro
Electric Mob
Em 15 de novembro escrevi:
Formado em 2016 em Curitiba/PR, o Electric Mob é composto por Renan Zonta (vocal), Ben Hur Auwarter (guitarra), Yuri Elero (baixo) e André Leister (bateria).
"Seu som é um hard rock sem frescura, regado a blues e o country rock típico do sul dos Estados Unidos, inspirado em bandas como Whitesnake, Skid Row e Black Crowes. Reverenciando os mestres do gênero, a banda busca sua personalidade própria, sem se curvar a clichês e nem descambar para o saudosismo revisionista de nomes como Greta Van Fleet."
Após minha publicação, eles lançaram o single "Love Cage". Mais uma vez, a banda soa como Whitesnake na época em que a pipa de David Coverdale ainda subia. O vocal e o instrumental são tão eficientes que ouvidos desatentos podem cometer a injustiça de não reconhecer seus méritos. Esse single é o som de uma banda embalada e esbanjando confiança.
Onde encontrar:
https://linktr.ee/ElectricMob
Asteroides Trio
Em 26 de novembro escrevi:
Formado em 2006 em Arujá/SP, é composto por Leandro Franco (bateria e vocal), Cláudio Formiga (guitarra e vocal) e Weasel Rocker (baixo acústico e vocal).
"O som deles é um punkabilly que mistura Stray Cats com The Clash e o lado nerd das bandas horror punk. Suas letras, em português, me lembraram Titãs das antigas, da época de faixas como "Insensível" e "Televisão". Se em 2022 você não ouviu falar da banda… deveria! Afinal de contas, este ano ela não só lançou um tributo punkabilly ao Ratos de Porão como formou com seu vocalista o João Gordo & Asteroides Trio."
Entre todos os subgêneros do rock que brilharam no underground em 2022, pelo menos na minha bolha virtual, parece que o rockabilly (e afins) se destacou. Em São Paulo, principalmente, eu fiquei surpreso com a quantidade de bandas do gênero que estão na ativa ao mesmo tempo e fazendo coisas bastante diferente umas das outras — Reverendo Frankenstein, Spitfire Demons, The Ed Woods… O que, aliás, acaba com aquele papo de que rockabilly é sempre tudo igual.
Onde encontrar:
https://linktr.ee/asteroides_trio
A essas bandas (e a todas as outras do underground nacional) fica meu reconhecimento. Em tempos de lixo e banalidade, produzir música de qualidade — ainda mais sem qualquer apoio — é revolucionário! E em 2023, como diz Neil Young… "Keep on rocking in the free world!"
Mantenha o rock vivo — valorize as bandas do underground!
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