A primeira turnê do The Doors na Inglaterra, segundo as bandas que fizeram parte
Por André Garcia
Postado em 28 de fevereiro de 2023
Em setembro de 1968, o The Doors realizou sua primeira turnê na Inglaterra, juntamente com outras bandas como o Jefferson Airplane, The Crazy World Of Arthur Brown, Terry Reid, Blossom Toes e Blonde On Blonde. Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore estavam afiados, entrosados com o provocativo e carismático Jim Morrison, com suas xamânicas performances poéticas e teatrais. Os quatro estavam em seu auge. Prova disso foi a recepção calorosa recebida por eles já em seu primeiro show, no The Roundhouse, em Londres.
A Classic Rock garimpou declarações de membros das bandas que fizeram parte da turnê, formando com suas declarações um verdadeiro mosaico.
Jorma Kaukonen (guitarrista do Jefferson Airplane): Até a configuração física do The Roundhouse (um prédio circular) era incomum, diferente e muito legal. Para nós, que viemos da Costa Oeste [dos Estados Unidos], Londres era como uma meca. Foi muito emocionante estar lá — não apenas pelos Beatles e os Stones, mas por toda a cena.
Arthur Brown: Tocamos com o The Doors e Jefferson Airplane nos Estados Unidos, o que significava que já tínhamos uma conexão. [O co-empresário do Crazy World] Kit Lambert arranjou um encontro entre mim e Jim Morrison, no clube La Chaisse, em Soho, alguns dias antes dos shows. Foi um encontro estranho. Lambert comprou bebidas para nós dois, depois ficamos em silêncio por cerca de vinte minutos, até que Jim percebeu algo tocando no rádio. Ele me perguntou "O que é isso no rádio?", e eu respondi "Não sei". Essa foi a nossa comunicação.
Grace Slick (vocalista do Jefferson Airplane): Lembro de ter conversado com Jim nos bastidores: ele estava tão louco que eu não fazia ideia do que ele estava falando. Eu fazia uma pergunta simples, e ele respondia algo como: "A montanha verde tem um grande amanhecer chegando". Eu não sei o quanto ele estava consciente do que estava fazendo, mas ele se usou como cobaia. Ele estava em uma missão para ver até onde você pode levar a mente humana; até onde ela era capaz de chegar impulsionada por substâncias químicas.
Robby Krieger (guitarrista do The Doors): Nós sempre tivemos uma certa competição com o Jefferson Airplane, por sermos da Califórnia. Havia uma certa rivalidade.
Jim Cregan (guitarrista do Blossom Toes): Dividimos o camarim com o The Doors, e lembro que teve confusão sobre quem seria o headliner.
Ray Manzarek (tecladista do The Doors): [Foi tipo:] "Nós vamos tocar primeiro...", "Não, vocês vão tocar depois...", "Mas nós somos maiores...", "Não, nós é que somos maiores..." E por aí vai.
Ray Manzarek: Na nossa cabeça, estávamos indo para um núcleo de êxtase primitivo, e ficamos bastante surpresos. "Peraí, esse é o público inglês selvagem que ouvimos falar na Califórnia?" Todo mundo era muito reservado, muito correto e muito educado. Mas foi um grande show.
Arthur Brown: Eu lembro de Morrison, de pé sozinho na luz, vestido inteiramente de couro preto, apresentando "The Celebration of the Lizard". Foi um jeito revolucionário para um artista de rock se apresentar. Foi mais como um poeta declamando lendo sua poesia, mas com um ritmo de rock por trás. Ele não dançou, apenas se contorceu como uma cobra. Foi impressionante.
Ray Manzarek: Muitas pessoas pensaram que ele foi eletrocutado. Eu soltei a frente do amplificador para fazer um barulho mais alto, e as pessoas juraram que ele tinha sido eletrocutado.
Brian Godding (guitarrista do Blossom Toes): A música do The Doors era muito minimalista. Seu tecladista, Ray Manzarek, se destacou, porque eles não tinham um baixista. Ele tocava as linhas de baixo no órgão ao mesmo tempo em que tocava suas partes principais.
Jim Morrison: A razão pela qual os segundos sets foram muito mais emocionantes em ambas as noites foi a presença das equipes de TV no palco e no salão [durante o primeiro set]. É aquela coisa de voyeurismo. Isso introduz um elemento objetivo que afasta as pessoas de uma verdadeira comunhão.
Jim Morrison: A plateia foi uma das melhores que já tivemos. Nos Estados Unidos, eles estão lá para se divertir tanto quanto para ouvir você, mas no Roundhouse, eles estavam lá para ouvir. Foi como voltar às raízes. Isso nos estimulou. Eles me pegaram de surpresa, porque eu esperava que fossem um pouco resistentes, um pouco reservados, mas foram fantásticos. Foi provavelmente a plateia mais informada e receptiva que já vi em minha vida. Acho que curti mais o Roundhouse do que qualquer outro show em anos.
A partir de 1969, Jim Morrison e o The Doors começaram a entrar em baixa, em muito graças a seu crescente abuso de álcool e drogas. A turnê americana da banda naquele ano foi marcada por tumultos e incidentes infames, incluindo o famoso incidente em Miami, no qual Morrison foi preso por exposição indecente e conduta profana durante um show. O longo e desgastante julgamento do vocalista contribuiu em muito para que ele afundasse na depressão e alcoolismo e perdesse o interesse pela música.
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