O disco do Titãs que só deslanchou depois de bate boca no estúdio
Por Bruce William
Postado em 05 de janeiro de 2025
Quarto álbum de estúdio do Titãs, "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" traz faixas marcantes como "Nome Aos Bois", "Lugar Nenhum" e "Comida", que fazem parte do repertório da banda até hoje. Mas o início das gravações foi tumultuado, por causa de uma teimosia do baterista Charles Gavin, conforme relato do livro "A vida até parece uma festa: A história completa dos Titãs" (Amazon).
"Aproveitando todo o retorno de dinheiro e status que 'Cabeça Dinossauro' deu, os Titãs finalmente puderam gravar um disco nas condições que sempre sonharam, levando a ideia da qualidade artística às últimas consequências. Sem medo da resposta do mercado, a banda iniciou o novo projeto com uma viagem a Nova York para comprar instrumentos que dariam o som desejado ao álbum (...) Charles providenciou uma bateria eletrônica Simmons, pratos, caixas e muitos discos."
E uma das músicas do disco, a já citada "Lugar Nenhum", acabou se transformando num problema para Charles, que ainda não estava se entendendo tão bem com os instrumentos que trouxe de Nova York e, para complicar mais as coisas, estava em uma fase que achava que deveria superar seus limites e mostrar para todos quem era o verdadeiro Charles Gavin.
"Vínhamos do 'Cabeça Dinossauro', que foi gravado quase ao vivo no estúdio, com todos tocando juntos na medida do possível", conta Charles em um vídeo do canal Jota Abreu, e em seguida ele explica que a virada que não saiu era algo que ele queria muito gravar, e ele tirou de inspiração de um disco do [Ronnie James] Dio com Vinnie Appice na bateria. Mas Charles não conseguiu executar a tal virada, o que acabou deixando ele muito frustrado.
"O ego do músico ao querer afirmar assim 'olha como eu sou um bom instrumentista, olha o que eu sei fazer', isso é uma das grandes armadilhas da profissão", diz Charles, explicando que ali naquela situação eles estavam tocando uma música fácil mas que por causa de sua insistência com algo que não estava dando certo estava emperrando as gravações.
Liminha ficou irritado: "Cara, você está atrasando minha vida! O estúdio está parado, os Titãs estão parados e a gravadora está parada por sua causa. E você aí preocupado com exibicionismo de baterista. Você tem que tocar pra banda, cara!" disse o produtor, que deu uma bronca em Charles. "Aquela explosão foi muito pior do que está no filme, tem uma hora que corta a gravação", conta o baterista, se referindo ao trecho abaixo exibido no documentário "Titãs - A Vida até Parece uma Festa", onde ele leva uma bronca de Liminha.
A bronca funcionou. Charles simplificou tudo e a banda gravou a música em um único take, sem a tal virada. Liminha chega a abraçar o baterista depois da performance, como pode ser visto no vídeo. "De qualquer forma, o produtor e os outros titãs acharam melhor tomar uma providência para que Charles não fosse tentado novamente a fazer suas firulas: tiraram todas as peças que estavam sobrando na bateria. Deixaram só bumbo, caixa e três pratos".
Com isto, as gravações deslancharam e o sucessor do prestigiado "Cabeça Dinossauro" foi lançado em 23 de outubro de 1987, se consolidando como um dos trabalhos mais respeitados da banda.
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