Regis Tadeu dispara contra fãs do System of a Down e critica cultura do "check-in" em shows
Por Gustavo Maiato
Postado em 15 de maio de 2025
Em um vídeo recente publicado em seu canal no YouTube, o crítico musical Regis Tadeu fez duras críticas ao comportamento do público na turnê do System of a Down pela América Latina em 2025. Com seu estilo direto e sem papas na língua, Regis apontou o que chamou de "narcisismo desenfreado" e criticou o que vê como a transformação de experiências musicais em produtos de autopromoção nas redes sociais.
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O vídeo, que tem gerado ampla repercussão entre fãs da banda e da cena metal em geral, traz reflexões sobre o novo perfil do público que lota shows de grandes nomes internacionais, mesmo sem ter relação real com a música apresentada no palco. Segundo Tadeu, o show virou pano de fundo para selfies — e não mais o centro da experiência.
"Hoje, ir a um show — especialmente de uma atração tão badalada quanto o System of a Down — não é mais sobre música. É sobre construir uma narrativa pessoal. Uma fachada. Um ‘sou descolado, sou antenado, faço parte do que tá bombando’", criticou.
Segundo o crítico, o comportamento dos presentes em apresentações recentes da banda foi sintomático de um problema maior, que ultrapassa a música: "As pistas VIP, com seus preços exorbitantes, viraram o palco perfeito pra esse tipo de teatro. Postar uma foto com o palco ao fundo, um vídeo de 15 segundos de Prison Song com filtro estilizado, ou um stories com a legenda ‘Ai, que noite insana’ virou o objetivo principal de uma parcela significativa do público."

Regis Tadeu e System of a Down
Regis não condena o uso das redes sociais em si, mas alerta para o esvaziamento do sentido dos eventos ao vivo quando tudo se resume à performance da presença: "Não me entenda mal. Não há nada de errado em compartilhar momentos felizes. O problema é quando o show vira um acessório. Vira pano de fundo para autopromoção. Tem gente nas pistas VIP passando mais tempo olhando pro celular do que pro palco. Isso, pra mim, é desrespeitoso."

E deu um exemplo concreto: "Aqui em São Paulo, uma influenciadora foi vista gravando um vídeo dançando durante Prison Song — uma música que fala sobre o complexo industrial prisional dos Estados Unidos. E ela ali, dançando como se fosse um hit pop. É o tipo de desconexão que beira o absurdo."
Para ele, trata-se de um público turista, mais interessado no "hype" e no status social envolvido na ida ao show do que na banda em si: "O que mais tinha era gente que conhece duas músicas da banda e paga uma fortuna pra estar ali. Gente que nunca ouviu um álbum inteiro, que não sabe quem é o Serj, o Daron... e que acha que B.Y.O.B. é só uma música ‘pesadona e legal’. E ainda assim, estavam lá, na pista VIP, desembolsando R$ 2 mil pra tirar foto no gargarejo."

Regis Tadeu e o FOMO
O termo FOMO (fear of missing out) — o medo de ficar de fora — foi central na análise de Regis. Para ele, essa pressão por não "perder o momento" gera um comportamento de manada, onde estar presente se torna mais importante do que entender o que se está consumindo.
"O System of a Down quase não faz turnês, especialmente na América Latina. Essa aura de exclusividade, somada à fama de shows explosivos, transformou essa turnê em um evento imperdível até pra quem não entende nada do que a banda representa."
O crítico apontou ainda que essa lógica de consumo cultural baseada em imagem tem efeitos práticos e perigosos no mercado: "A alta demanda, movida tanto por fãs quanto por esses turistas, fez os preços dispararem. O mercado de shows na América Latina virou um campo de guerra com preços inflacionados. Pista VIP custando o equivalente a um salário mínimo. Isso exclui o fã de verdade, aquele que sonha em ver a banda e sabe cada verso de Mind."

Regis mencionou relatos de fãs que estiveram nos shows e relataram a apatia de parte da plateia: "Teve gente na pista VIP conversando alto durante Lonely Day. Teve gente saindo antes do bis pra evitar trânsito. Isso quebra a energia coletiva, essencial num show de metal. Você cria bolsões de desinteresse que comprometem a experiência de quem está ali por amor à música."
Em um dos trechos mais incisivos do vídeo, Regis relembrou a importância do System of a Down como banda politicamente engajada, e criticou o uso superficial das apresentações como "panorama de rede social":
"O SOAD não é uma banda qualquer. As letras falam de genocídio, imperialismo, consumismo, injustiça social. Ver uma multidão tratando isso como pano de fundo pra selfie é, no mínimo, desrespeitoso. É como se toda a potência política da banda — que já arrecadou centenas de milhares de dólares pra causas humanitárias na Armênia — fosse reduzida a mero entretenimento."

Apesar das críticas ao público, Régis deixou claro que a banda entregou uma turnê impecável: "Musicalmente, foi um marco. Shows tecnicamente impecáveis. Emocionalmente avassaladores. O SOAD continua poderoso em cima do palco, mesmo que a relação entre os integrantes esteja longe da perfeição."
Nos minutos finais do vídeo, Régis fez um apelo direto ao público: "O narcisismo das redes sociais já se infiltrou nos shows ao vivo, e isso é um sintoma preocupante. Quando uma banda como o System vira só pano de fundo pra stories, alguma coisa está errada. E não é culpa da banda. É culpa de uma cultura que valoriza mais a aparência do que a essência."
"Estar lá virou mais importante do que sentir lá. Da próxima vez que você for a um show, guarda o celular. Fecha os olhos — ou melhor, abre bem os olhos e mergulha na música. Porque no fim das contas, cara, é isso que importa. Música. O resto é só barulho vazio."

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