A diferença entre King Crimson e Paul Simon, segundo Humberto Gessinger
Por Gustavo Maiato
Postado em 04 de maio de 2025
Poucos artistas brasileiros falam sobre música com a mesma sensibilidade — e bagagem — de Humberto Gessinger. E quando ele fala, não se limita ao circuito nacional. Em entrevista ao canal Music es um Voyage, o músico refletiu sobre uma sequência marcante de shows que assistiu na Suécia e aproveitou para traçar um paralelo entre dois ícones da música mundial: King Crimson e Paul Simon.
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A experiência, descrita por ele como um "aprendizado profundo", vai além do gosto musical. Gessinger destacou as diferenças de postura, estética e relação com o público que observou em dois shows completamente distintos, mas igualmente impactantes.
A comparação começou com um relato simples: o impacto do primeiro acorde de uma banda. Para o gaúcho, alguns artistas têm esse poder de transformar o ambiente. Ele se lembra de quando viu Egberto Gismonti três anos seguidos na reitoria da UFRGS, ou de quando presenciou uma apresentação de Astor Piazzolla no mesmo teatro.
"É aquele momento em que o PA — o sistema de som — parece flutuar. A música toma conta do ar. E olha que eu nem sou o cara mais técnico, não sei os númerozinhos dos acordes, mas ali é outra coisa. É sentir", comentou.

Foi esse mesmo tipo de sensação que ele teve ao assistir ao King Crimson, em Estocolmo, durante a turnê de 50 anos da banda. O ambiente, à primeira vista, não parecia promissor: pouca iluminação, clima sisudo, público predominantemente masculino. Robert Fripp, fiel à sua fama, entrou em silêncio, com um terno de três peças, ajeitando o palco em silêncio antes de tocar.
"Eu olhei aquilo e pensei: 'Vai ser um horror. A Adriane vai me matar por ter vindo'. Mas quando deram o primeiro acorde, cara... o som rasgou o ambiente. Três baterias tocando, uma sonoridade absurda. Fiquei fascinado. Era como estar num templo."
Para Gessinger, o show do King Crimson deixou claro que ali não havia concessão ao entretenimento. A mensagem era direta: "Você está aqui pela música. Senta e ouve. Se não está a fim, sai".

Poucos dias depois, Gessinger assistiu ao show de Paul Simon no Globen, uma arena em Estocolmo. O contraste foi imediato. Ao contrário da postura austera do Crimson, Simon se apresentava com leveza, bom humor e uma superprodução impecável.
"Parecia um show da Broadway, mas com alma. Cada músico tocava dez instrumentos diferentes. Em uma música viravam uma banda africana, em outra, um quarteto de cordas. Ele intercalava com textos quase de stand-up, muito bons."
Enquanto o King Crimson fazia questão de excluir celulares e distrações visuais, Paul Simon abraçava o público com carisma e dinamismo. Era, como definiu Gessinger, "uma visão americana de fazer tudo funcionar bem, com perfeição técnica e empatia".

Apesar das abordagens opostas, o sentimento que os dois shows despertaram foi semelhante. "Nas duas experiências, eu me senti criança de novo", confessou. "É isso que eu não quero perder: esse coração de iniciante."
Confira a entrevista completa abaixo.

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