Os desafios de cuidar de Raul Seixas no fim da vida, segundo médico que tratou do caso
Por Gustavo Maiato
Postado em 24 de junho de 2025
O médico Luciano Stancka acompanhou Raul Seixas nos últimos anos de vida. Em entrevista ao livro "O Raul que me contaram", lançado pelo jornalista Tiago Bittencourt, Stancka revela detalhes do estado clínico e psicológico do artista, que morreu em 1989, aos 44 anos. O relato expõe o cotidiano de um paciente que, mesmo fragilizado por doenças graves, se recusava a seguir orientações médicas.
"Ele já tinha sido internado, saiu. Quem tinha até autorização de retirada dele e tudo era o amigo José Roberto Abraão, que acompanhou e ajudou muito", diz Stancka, mencionando o empresário e amigo próximo de Raul. "Na minha época, quando a gente começou, ele já estava muito mal. Cercado por álcool, drogas. Perguntam se eu esperava que ele morresse daquele jeito. Não, porque ele não estava tão ruim."


Segundo o médico, Raul vivia cercado de pessoas, mas nem todas estavam ali com boas intenções. "Na época em que o Marcelo Nova estava com ele, chegaram a ser ameaçados por traficantes. Os caras queriam vender droga pro Marcelo. Ninguém conseguia se aproximar", afirma.
Além da dependência química, Raul enfrentava complicações de saúde graves. Tinha diabetes insulino-dependente e desenvolveu um edema extenso que afetava sua mobilidade. "Ele tinha uma perna grossa, muito inchada. O edema tomava até espaço abdominal. Já usava cinta", relata Stancka. "A diabetes exigia controle rigoroso. A hipoglicemia era um risco real de morte."

A resistência ao tratamento era constante. "Ele ia morrer, mas ia fumar. Fumava mesmo assim. Qualquer gerente artístico conservador diria ‘não!’, mas o Raul era diferente. Ele não queria largar", lamenta o médico. "Você admite o cara por um tempo, mas é muito complicado. A pessoa se destruindo no direito…"
Apesar da postura difícil, Raul ainda inspirava quem o cercava. "Ele tinha um lado bom que dominava. Hoje, o tratamento tende a anestesiar o sofrimento. Na época, não. E ele aceitava quando via que era pro bem dele."
Luciano Stancka conheceu Raul Seixas por intermédio de José Roberto Abraão, no fim de 1988. "Me disseram que ele precisava de ajuda. Raul era ídolo da nossa juventude. Quando me chamaram, ele dormia em cadeira de rodas, sem medicação. Foi assim que começou nosso relacionamento."

A relação entre médico e paciente, embora marcada por desafios, também foi construída sobre respeito e convivência próxima. "Ele estava já muito depressivo. Mas tinha momentos bons. Conversávamos, ele tinha lucidez. Era um cara único."
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