Como o Black Sabbath levou um prejuízo monstro no maior show de sua carreira
Por Bruce William
Postado em 02 de julho de 2025
A apresentação do Black Sabbath no California Jam deveria ter sido um marco glorioso na trajetória da banda. Com 250 mil ingressos vendidos e transmissão ao vivo pela ABC para todos os Estados Unidos, o festival realizado em abril de 1974 reuniu alguns dos maiores nomes do rock da época, como Deep Purple e Emerson, Lake & Palmer. Para o Sabbath, aquela acabaria sendo a maior plateia da carreira. Mas o que parecia ser uma vitória acabou deixando um gosto bem amargo, relembra a Classic Rock.
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Tudo começou dois dias antes do evento. Em casa, na Inglaterra, os integrantes acreditavam que haviam sido retirados do line-up por conta de uma confusão entre os headliners. Só que não: o empresário Patrick Meehan os acordou no meio da noite com a notícia de que, se não embarcassem imediatamente para os EUA, seriam processados por quebra de contrato. Meehan alegou que a multa era de 250 mil dólares, e os convenceu a topar a viagem. Na época, os músicos não sabiam que esse era justamente o valor negociado como cachê pela apresentação.

Como não tinham ensaiado há semanas, recorreram à única opção disponível: revisar a setlist em um quarto de hotel, com os instrumentos desligados, apenas para memorizar os arranjos. Mesmo nessa situação precária, subiram ao palco e entregaram uma performance intensa, abrindo com "Tomorrow's Dream" e levando o público ao delírio em faixas como "Children of the Grave". Ozzy parecia genuinamente surpreso com a recepção. "Foi como um mar de gente, eu fiquei sem palavras", disse à TV logo após o show.
O baterista Bill Ward chegou a errar a contagem inicial, tamanha a tensão, mas o restante da apresentação correu sem falhas visíveis. Tony Iommi lembraria anos depois que se sentiu apavorado ao perceber que tudo estava sendo transmitido ao vivo pela televisão e pelo rádio nos Estados Unidos. "O que a gente fizesse ali ficaria documentado pro resto da vida", afirmou. Para um grupo que até então era visto com certo desdém por parte da crítica, aquele palco gigante e aquela audiência de centenas de milhares de pessoas serviram como afirmação definitiva: o Sabbath era uma força a ser respeitada.

Apesar do sucesso, o que veio depois foi um balde de água fria. Mesmo tendo sido um dos destaques do festival e garantido um cachê de 250 mil dólares, os músicos receberam apenas mil dólares cada um. O detalhe revoltante é que só ficaram sabendo do valor real muitos anos mais tarde. Segundo Ozzy, o empresário embolsou o restante e ainda os colocou de volta num voo, mais uma vez em classe econômica. Não houve sequer uma bonificação ou agradecimento. Apenas a sensação de ter sido usado, mais uma vez, por quem deveria proteger os interesses da banda.
O estrago não foi só financeiro. Para os músicos, foi mais um episódio de desilusão num histórico conturbado com a própria equipe. "Não queríamos fazer o show, mas nosso empresário nos forçou", confessou Ozzy tempos depois. Geezer Butler, mesmo comemorando a reação do público, resumiu o sentimento com amargura: "Estávamos todos fora de nós, mas no fim você pensa: ok, não foi ruim. A gente era a banda que ninguém levava a sério e que mandaram tocar 'música de verdade', então dias como aquele provavam que vencemos todas as apostas."

Décadas mais tarde, o show continuaria sendo lembrado como um dos mais marcantes da história do Sabbath, tanto pelo tamanho do público quanto pela tensão nos bastidores. Mas por trás das imagens históricas e da energia no palco, há uma história clássica de exploração. Um contrato obscuro, um voo desconfortável, um ensaio improvisado e um prejuízo disfarçado de conquista. Foi grande, foi marcante, mas custou caro.

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