Cinco músicos que saíram das bandas que eles mesmo fundaram

Separações, mudanças de formação e demissões são episódios frequentes no universo do heavy metal — e, muitas vezes, esses processos estão longe de ser amigáveis. Divergências criativas, choques de personalidade ou o simples desgaste da rotina em grupo podem levar músicos a deixarem as bandas responsáveis por consolidar suas carreiras.

Mais incomuns, porém, são os casos de artistas que se afastaram — voluntariamente ou não — das próprias bandas que ajudaram a fundar. A lista a seguir reúne algumas figuras emblemáticas da música pesada que viveram esse tipo particular de ruptura.

Melhores e Maiores - Mais Listas

Agora que os devidos contextos foram estabelecidos, é hora de seguir com o que interessa. Reserve alguns minutos do seu dia e confira cinco músicos que deixaram os grupos que eles mesmos criaram.

Max Cavalera

A seleção começa com o caso mais famoso. Maior nome da história do metal brasileiro e sul-americano, o belo-horizontino Max Cavalera fundou o Sepultura em 1984. Atuou como guitarrista, vocalista e compositor do grupo por cerca de 12 anos.

Enquanto integrou o Sepultura, Max teve papel decisivo na trajetória da influente banda, gravando álbuns que se tornaram clássicos absolutos da música extrema. O músico deixou o quarteto em dezembro de 1996, durante a turnê de divulgação do álbum "Roots", lançado no início daquele ano.

A separação não foi nada tranquila e ocorreu por problemas de relacionamento com os demais integrantes — incluindo seu irmão, o baterista Iggor Cavalera. Em 2023, o frontman concedeu entrevista à Metal Hammer e revelou detalhes sobre o traumático rompimento:

"Foi logo após a morte de meu enteado Dana [Wells, falecido em agosto de 1996], e estávamos todos em um estado altamente emocional. Foi então que o resto da banda me deu um ultimato. Eles queriam demitir a Gloria [esposa de Max] e contratar um empresário maior. O fato é que a situação foi friamente calculada. É como se eles dissessem: 'Sentimos muito pela Dana, mas negócios são negócios'. O que me irritou foi o fato de que todos eles também conheciam Dana. Ele era amigo deles. Mas eles jogaram tudo isso fora. Em retrospecto, eu gostaria que tivéssemos concordado em dar um tempo de um ano um do outro e pensar em tudo corretamente. Mas éramos jovens, estávamos com a cabeça quente e tudo transbordou."

Após a saída, Max fundou o Soulfly, sua banda principal até hoje. Os irmãos Cavalera passaram uma década sem contato, mas se reconectaram em meados de 2006, quando Iggor também deixou o Sepultura. Desde então, os dois lideram o Cavalera Conspiracy.

O Sepultura, por sua vez, seguiu adiante sob a liderança do guitarrista Andreas Kisser, com o estadunidense Derrick Green nos vocais. Atualmente, o grupo está em sua turnê de despedida, intitulada "Celebrating Life Through Death".

Mike Portnoy

Um dos bateristas mais virtuosos e carismáticos da história do heavy metal, Mike Portnoy é cofundador do Dream Theater, referência mundial no metal progressivo. Ao longo de 25 anos, ele exibiu sua impressionante técnica em palcos ao redor do mundo e gravou obras-primas como "Images and Words" (1992), "Metropolis - Pt. 2: Scenes from a Memory" (1999) e "Octavarium" (2005).

A relação de Portnoy com o Dream Theater chegou ao fim em setembro de 2010. A notícia surpreendeu o público, já que o baterista era considerado o coração e a alma da banda.

Sua saída deixou marcas profundas. John Petrucci, guitarrista do Dream Theater e amigo de longa data, comentou o assunto em entrevista ao site Music Radar:

"A saída de Mike do Dream Theater foi a coisa mais difícil que tivemos de enfrentar por um bom tempo. Outros membros saíram, e esses também foram momentos difíceis. Lembro-me de quando [o tecladista] Kevin Moore saiu [em 1994]. Foi devastador. Não sabíamos que chegaríamos ao Jordan [Rudess]. Mas a saída de Kevin também foi difícil. Eu cresci com ele e escrevi músicas com ele. Mas, é claro, a saída de Mike foi um grande golpe."

Mike Mangini assumiu a bateria do Dream Theater, enquanto Portnoy mergulhou em uma série de bandas (Sons of Apollo, The Winery Dogs, Flying Colors, Metal Allegiance, entre outras). Até que, em outubro de 2023, retomou oficialmente o posto que ocupou entre 1985 e 2010.

A reaproximação começou no primeiro semestre de 2022, quando Portnoy assistiu a um show do Dream Theater em Nova York e reencontrou o vocalista James LaBrie. O baterista relembrou o momento em um vídeo publicado no canal da Drumeo (via Blabbermouth):

"Fui assistir ao show do Dream Theater em Nova York, acho que por volta de 2022, e foi a primeira vez que vi James em mais de uma década. E, literalmente, não estou exagerando, cinco segundos depois de nos vermos, nos abraçamos, nos beijamos e foi como se todo o drama e as besteiras que aconteceram durante todos esses anos de afastamento tivessem desaparecido imediatamente. E com James e eu nos juntando novamente, isso meio que... começou a parecer uma inevitabilidade.

Acho que nunca esteve em nossos planos nos reunirmos novamente. Na verdade, se você tivesse me perguntado isso há cinco anos, eu provavelmente não teria apostado nisso. Mas com os desdobramentos de tudo o que acabei de expor para você, começou a parecer que, bem, talvez isso fosse inevitável. Parece que estamos no lugar certo e na hora certa nesta fase de nossas vidas. Durante todos esses anos de Dream Theater, estávamos na casa dos vinte, trinta e quarenta anos. E agora estamos aqui, a maioria de nós com cinquenta anos e alguns dos membros com sessenta, e parece que a vida é curta demais para não estar com as pessoas que você ama e tocar a música que faz parte da sua vida, do seu coração e da sua alma. Então, sim, aqui estamos."

A turnê que marcou o retorno de Portnoy ao Dream Theater celebra os 40 anos da banda e passou pelo Brasil em dezembro de 2024. Dois meses depois, o grupo lançou "Parasomnia", álbum conceitual que explora os distúrbios do sono.

Alf Svensson

O guitarrista e compositor sueco Alf Svensson é um dos fundadores do At the Gates, banda pioneira do melodic death metal — subgênero que combina peso extremo com linhas melódicas marcantes. Svensson deixou o grupo em 1993, logo após as gravações do segundo álbum de estúdio, "With Fear I Kiss the Burning Darkness".

Segundo o site da Peaceville Records, o músico saiu para se dedicar à arte da tatuagem, ilustração em quadrinhos e ao seu projeto solo Oxiplegatz, que mescla música eletrônica, ópera e black metal. Seu posto foi assumido por Martin Larsson, que participou das gravações dos aclamados discos "Terminal Spirit Disease" (1994) e "Slaughter of the Soul" (1995).

Anders Björler, guitarrista original do At the Gates, concedeu entrevista ao blog Lucem Fero em 2007 e falou sobre a saída de Alf. Na ocasião, ele também comentou como a sonoridade da banda ficou mais direta após a separação:

"Acho que Alf estava cansado de tudo aquilo, embora não tenha especificado o porquê. Ele simplesmente se cansou e queria concentrar seus esforços em seu estúdio de tatuagem. Mais tarde, Alf abandonou a carreira de tatuador para seguir carreira em modelagem 3D para uma empresa de jogos de computador.

O principal motivo para essa abordagem direta foi a saída de Alf da banda. Com certeza, esse desenvolvimento foi um novo passo para o At The Gates. Alf era um dos principais compositores; é claro, sua contribuição não estaria mais presente."

Jesper Strömblad

O multi-instrumentista e compositor sueco Jesper Strömblad é o fundador do In Flames, um dos pilares do death metal melódico. Nos estágios iniciais da banda, atuou como baterista e guitarrista, mas a partir de 1993 passou a se dedicar exclusivamente às guitarras.

Jesper gravou os principais álbuns do In Flames e teve papel fundamental na consolidação da banda como referência global na música pesada. No entanto, em fevereiro de 2010, o guitarrista anunciou sua saída definitiva para tratar problemas relacionados ao alcoolismo.

"Decidi que é melhor para mim deixar o In Flames e sair da banda permanentemente. Os últimos 17 anos foram incríveis, e tenho orgulho de ter feito parte dessa grande jornada, com as pessoas mais talentosas e incríveis com quem alguém pode ter o privilégio de trabalhar. Também sou o cara mais sortudo do mundo, por ter os melhores fãs do mundo, que têm me apoiado durante meus momentos difíceis. Isso significa muito para mim, e estou determinado a lutar e derrotar meus demônios de uma vez por todas.... e com a ajuda de vocês, estou no caminho certo. Estou longe de terminar com a música, o metal ou qualquer que seja a direção que eu esteja tomando, portanto, não deixe de ouvir falar de mim no futuro", declarou Jesper, em nota divulgada pelo site Lamb Goat.

Atualmente, Jesper integra o The Halo Effect, supergrupo formado por cinco ex-integrantes do In Flames, incluindo Niclas Engelin — guitarrista que o substituiu na formação original. A banda conta com dois álbuns de estúdio, sendo o mais recente "March of the Unheard" (2025).

Anders Nyström

Anders Nyström é cofundador do Katatonia e, ao longo das décadas, atuou como guitarrista, baixista, tecladista e vocalista (via Metal Archives). Sua trajetória com a banda chegou ao fim em março de 2025 — e, ao que tudo indica, a separação não foi das mais amistosas.

Através do Instagram, Anders comentou os motivos de sua saída. Segundo ele, o desinteresse em revisitar o material antigo da banda foi um dos principais pontos de atrito:

"Cada um tem suas próprias preferências e diferentes níveis de apreço pelas eras iniciais, intermediárias ou posteriores do Katatonia, mas parece que qualquer vontade de abraçar todas elas, a fim de honrar nossa história por meio de atividades ao vivo, infelizmente não se sustentou. Não preciso dizer que ainda amo TODOS os nossos álbuns, mas com o material antigo sendo negligenciado por tantos anos, a sensação de ter ‘negócios inacabados’ com um estilo que remonta às nossas raízes ficou cada vez mais forte. Não posso deixar de me sentir inflexível quanto ao fato de que as músicas de nossa discografia inicial e intermediária merecem ser igualmente reconhecidas e, da mesma forma, direcionadas para nosso repertório de shows ao vivo, o meio essencial onde o passado deve estar sempre vivo! Infelizmente, essa porta foi mantida fechada e deixou tudo o que fizemos antes do milênio em um vazio."

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Como era de se imaginar, Anders não ficou feliz por ter saído do Katatonia. Claramente insatisfeito, ele sugeriu que a banda mudasse de nome:

"Com um de nós fora, o Katatonia poderia e deveria ter sido mutuamente enterrado enquanto explorava a liberdade de continuar em qualquer direção desejável sob um novo nome. Mas com Jonas [Renkse, vocalista] agora se reagrupando com novos membros e navegando mais em sua própria direção, não preciso mais esperar para ver para que lado o vento está soprando para entrar naquele vazio e agarrar o que foi abandonado. Afinal, o legado do Katatonia está descansando em ambas as pontas da linha do tempo.

Aconteça o que acontecer, gostaria de agradecer a Jonas e ao resto dos meus ex-colegas pela incrível jornada que compartilhamos por quatro décadas emocionantes."

Curtiu a lista e quer conferir legado desses músicos? Preparei uma playlist com cinco faixas marcantes que cada um deles gravou nas bandas que fundaram. É apertar o play e correr pro abraço!