História, discografia e curiosidades sobre o In Flames
Por Mateus Ribeiro
Postado em 28 de setembro de 2023
O Heavy Metal surgiu na década de 1970 deu origem a várias subdivisões. Uma dessas subdivisões, que surgiu na primeira metade dos anos 1990, atende pelo nome de Melodic Death Metal (Death Metal Melódico). Como é possível notar pelo seu nome, o Melodic Death Metal mescla a agressividade do Death Metal com a melodia do Power e do Heavy Metal tradicional. Três das bandas mais famosas do estilo em questão são de Gotemburgo, localizada na Suécia: At The Gates, Dark Tranquillity e In Flames.
A última das bandas acima citada é o tema desta matéria, que apresenta um pouco da história do grupo que saiu da Suécia para conquistar fãs em todos os lugares do mundo. Aperte o play e conheça um pouco mais sobre o In Flames.
Jesper Strömblad, o talentoso criador
Se você é fã do In Flames, deve agradecer diariamente ao cidadão sueco nascido em 28 de novembro de 1972, chamado Clas Håkan Jesper Strömblad. Jesper começou a se aventurar no mundo da música aos 4 anos de idade, quando começou a aprender violino, instrumento que ele trocou pela guitarra oito anos depois.
O In Flames foi formado em 1990 por Jesper Strömblad como um projeto paralelo de sua banda de Death Metal, o Ceremonial Oath. Ele queria escrever músicas que combinassem o estilo de guitarra melódica do Iron Maiden com a brutalidade do Death Metal, algo que Jesper afirmou nunca ter ouvido nenhuma banda fazer. O multi-instrumentista também foi baterista e fundador do Hammerfall, embora nunca tenha gravado nenhum material com o (hoje famoso) grupo de Power Metal.
O primeiro álbum do In Flames
Após definir o In Flames como sua prioridade, Jesper (guitarra/bateria/teclado) se juntou a Mikael Stanne (vocal), Glenn Ljungström (guitarra), Carl Näslund (guitarra) e Johan Larsson (baixo). O quinteto gravou "Lunar Strain", o primeiro disco de estúdio do In Flames, lançado em 1 de abril de 1994.
O debut do In Flames é um bom disco de estreia, que apresenta uma interessante (e original) mistura de peso, agressividade e melodia. "Lunar Strain" também tem elementos de Folk Music, como violinos e guitarras acústicas. No final das contas, um ótimo cartão de visitas.
As trocas que mudaram para sempre a história do In Flames
Mikael Stanne, vocalista e fundador do Dark Tranquillity, gravou "Lunar Strain" como músico convidado, portanto, não era um membro efetivo do In Flames. E para o EP "Subterranean", lançado em 1995, Jesper convidou o vocalista Henke Forss, da banda Dawn. O EP, que é uma espécie de "Lunar Strain - Parte II", também conta com a participação dos bateristas Anders Jivarp (ex-Dark Tranquillity) e Daniel Erlandsson (Arch Enemy). Oscar Dronjak, guitarrista do Hammerfall e do Ceremonial Oath, também faz backing vocals.
O primeiro vocalista oficial do In Flames foi anunciado em 1996. Vindo do Dark Tranquillity, Anders Fridén foi o escolhido para ser o frontman da banda. O baterista Björn Gelotte também passou a integrar a banda.
"The Jester Race" e "Whoracle" grandes clássicos do Melodic Death Metal
Contando com os serviços dos novatos Anders Fridén e Björn Gelotte, o In Flames gravou seu segundo disco, o magnífico "The Jester Race". Lançado dia 20 de fevereiro de 1996 (mesmo dia que o Sepultura lançou "Roots"), "The Jester Race" é um dos maiores clássicos da história do Melodic Death Metal e mostra um som mais lapidado e definido do que o apresentado em "Lunar Strain".
Faixas como "Moonshield", "December Flower", "Graveland", "The Jester Race" e "Artifacts Of The Black Rain" unem com maestria altas doses de peso, melodia e feeling. Sem sombra de dúvidas, "The Jester Race" é o "manual de instruções" do Death Metal Melódico.
A mesma formação que gravou "The Jester Race" (Anders Fridén, Jesper Strömblad, Glenn Ljungström, Johan Larsson e Björn Gelotte) foi a responsável por "Whoracle", outra obra-prima do Melodic Death Metal, álbum lançado em outubro de 1997 que segue o mesmo caminho trilhado em "The Jester Race". Os grandes destaques do disco são "Jotun", "The Hive" e "Episode 666". Outra música que vale ser citada é a interessante versão para "Everything Counts", do Depeche Mode.
Mudanças na formação e no estilo
Do terceiro para o quarto disco, o In Flames passou por mudanças em sua formação. Björn passou para a guitarra e Daniel Svensson assumiu as baquetas. Peter Iwers substituiu Johan Larsson e o In Flames enfim estabeleceu uma formação que permaneceu unida por um longo período.
"Uma coisa é tocar bateria no estúdio, mas quando se trata de turnê é realmente um incômodo tocar bateria se você não quiser. Nunca me senti como um baterista, mesmo quando estava sentado lá tocando a bateria – não era eu. Quando estávamos no estúdio, eu tocava bateria o mais rápido que podia, depois sentava com Jesper na guitarra e tocava solos. Isso é o que eu realmente queria fazer", declarou Björn em 2006, durante entrevista concedida ao site Metal Pigeon.
As mudanças não aconteceram apenas na formação, mas também na sonoridade do In Flames, que ficou mais "clean" e moderna, como pode ser conferido no estupendo "Colony". Lançado em maio de 1999, o quarto play do In Flames mostrou ao mundo as maravilhosas "Embody The Invisible", "Ordinary Story", "Colony", "Scorn" e "Zombie Inc." O In Flames havia mudado um pouco, mas a qualidade e o peso ainda eram elementos fundamentais na fórmula de composição utilizada pela banda.
Em 2000, o ápice, que para alguns, foi o início do fim
O quinto disco do In Flames, "Clayman", segue a linha de seu antecessor e costuma aparecer com frequência em diversas listas como o melhor trabalho do grupo (com razão). As excelentes "Pinball Map", "Only For The Weak", "Bullet Ride" e "Satellites And Astronauts" provam que o grupo fundado por Jesper Strömblad definitivamente estava gravando seu nome na história da música pesada.
Embora seja celebrado por muitos fãs, "Clayman" marca o fim de uma fase, pois nos trabalhos seguintes, o In Flames se distanciou do som que fazia nos primeiros discos, o que deixou muita gente com a pulga atrás da orelha.
Uma mudança de rota que gerou controvérsia>
O sucessor de "Clayman" é "Reroute To Remain", disco que marca uma mudança de rota na trajetória do In Flames. O Melodic Death Metal do início da carreira (que já estava ficando para trás), foi trocado por uma mistura (bem pesada) de Metal Alternativo e New Metal. Se por um lado o quinteto foi alvo de reclamações, por outro, emplacou dois de seus maiores hits: "Trigger" e "Cloud Connected".
[an error occurred while processing this directive]Aliás, por falar em "Trigger", o vídeo da música mostra os membros do In Flames brigando com os músicos do Soilwork, outro grande representante do Metal sueco. A briga se repete no clipe de "Rejection Role", hit do Soilwork lançado em 2003.
Aparentemente, os integrantes do In Flames não deram muita atenção para as críticas que "Reroute To Remain" recebeu, já que "Soundtrack To Your Escape" vai pelos mesmos rumos, embora seja mais pesado que seu antecessor. "F(r)iend", "The Quiet Place", "Touch Of Red" e "My Sweet Shadow" são os principais momentos de um disco que merece ser ouvido com atenção.
Depois de dois álbuns que dividiram opiniões, o In Flames voltou a agradar boa parte de seus fãs com o maravilhoso "Come Clarity". Lançado em 2006, o oitavo álbum de estúdio do grupo é mais melódico que seus antecessores e apresenta em seu tracklist duas das melhores músicas da banda: a faixa-título e "Take This Life", que ao lado de "Leeches", "Vacuum" e "Crawl Through Knives" são as canções mais interessantes de "Come Clarity".
[an error occurred while processing this directive]"É sem dúvida o melhor que já fizemos, é claro. É uma espécie de mistura entre o novo e o antigo. Como os dois álbuns anteriores foram um pouco experimentais para nós, mudamos de produtor e mudamos de estúdio. Então pegamos todas as coisas boas do passado e do presente e fizemos esse álbum. É brilhante e incrível", declarou Jesper Strömblad ao site Metal Temple.
A despedida de Jesper Strömblad
Outro grande trabalho do In Flames, "A Sense Of Purpose" foi lançado em 2008 e é mais lento que "Come Clarity", porém, mais melódico e mais emotivo, como pode ser conferido em temas como "Alias", "Delight And Angers" e "The Mirror's Truth".
"Nos últimos álbuns, gravamos a bateria em um estúdio, guitarras em outro estúdio, fizemos vocais em um terceiro estúdio e depois mixamos em um quarto estúdio (...). Foi difícil reunir o álbum inteiro. Mas, desta vez, tínhamos nosso próprio estúdio. Gravamos tudo lá e todo mundo estava lá o tempo todo, inclusive o Anders, que não mora em Gotemburgo. Isso é sempre bom porque recebemos a opinião de todos imediatamente depois de gravarmos. Então é bom ter todo mundo. Eu realmente não sei o que isso simboliza. Não sei se é réquiem ou algo assim. É uma espécie de nova era. Eu gosto muito disso", afirmou Björn ao site Metal Underground.
Björn falou sobre uma nova era, mas "A Sense Of Purpose" na verdade marcou o final de uma era, pois foi o último trabalho de estúdio do In Flames gravado por Jesper Strömblad. O multi-instrumentista e membro fundador saiu do grupo em 2010, por conta de divergências com os demais membros do grupo e problemas relacionados ao alcoolismo.
"Eu nunca entraria em detalhes por que saí da banda, mas há sempre uma história oficial e há outra história – o álcool é uma pequena parte disso.
Todo respeito ao In Flames e sua nova abordagem, mas para mim a banda era uma banda de Death Melódico baseada em guitarra/riff – e não é mais. Ainda é uma musicalidade incrível e não acho que esteja errado, mas não é a visão que eu tinha quando começamos", afirmou Jesper em 2014 ao Loudersound, anos após a sua saída.
Existe vida sem Jesper Strömblad
Com a saída de Jesper (substituído por Niclas Engelin), o In Flames não tinha mais nenhum membro original e o grupo passou a ser liderado por Björn Gelotte e Anders Fridén. O primeiro trabalho da banda sem seu fundador é "Sounds Of A Playground Fading", lançado em 2011.
A sonoridade apresentada em "Sounds Of A Playground Fading" é acessível e carregada de sentimentos. A faixa-título, "Deliver Us", "The Puzzle", "Where The Dead Ships Dwell" e "Fear Is The Weakness" mostraram a cara de um novo In Flames.
Mais trocas na formação e um período pouco inspirado
"Sounds Of A Playground Fading" é um ótimo álbum, mas o seu sucessor "Siren Charms" (2014) deixou a desejar. Não, "Siren Charms" não é completamente ruim, mas o disco tem poucas músicas que realmente empolgam, casos de "Everything's Gone" e "Paralyzed". As baladas "Dead Eyes", "With Eyes Wide Open" e "Through Oblivion" até são legais, mas um trabalho de estúdio com três baladas combina mais com uma banda de Hard Rock do que com o In Flames (que naquelas alturas, já estava com os dois pés e as duas mãos no Rock/Metal Alternativo).
"Siren Charms" foi o último disco do In Flames gravado pelo baterista Daniel Svensson, que anunciou a sua saída em 2015.
"Foi realmente uma jornada fantástica e quero agradecer do fundo do meu coração a Anders, Björn, Peter, Jesper e Niclas por todas as ótimas lembranças e experiências que compartilhamos durante os últimos 17 anos (!) juntos.
É difícil deixar o que se tornou minha segunda família, mas agora é hora de cuidar e passar mais tempo com as pessoas mais importantes da minha vida: minha esposa e minhas três filhas", afirmou Daniel na época de sua saída, em comunicado publicado pelo site Blabbermouth.
Daniel foi substituído por Joe Rickard, que gravou "Battles", registro lançado em 2016. O esquema do disco é aquele mesmo dos lançamentos anteriores: um som moderno, bons riffs, um refrão que gruda na cabeça aqui, outro mais forte ali, solos bem construídos, alguns barulhinhos esquisitos, vários efeitos nos vocais, e por aí vai. Isso é ruim? Depende de quem ouvir. Os mais radicais, obviamente, vão criticar. Quem é um pouco mais flexível, vai perceber que a banda conseguiu fazer um trabalho que se não é o melhor da carreira do In Flames, ao menos é criativo e tem boas músicas, como "The End", "Drained" e "The Truth".
O baixista Peter Iwers, que havia ingressado no In Flames em 1997, picou a mula no final de 2016, durante a turnê de "Battles".
"Amigos, decidi deixar o In Flames para seguir outros empreendimentos. Como resultado, esta atual turnê pelos EUA será a minha última com o In Flames, então se você estiver por perto, venha e diga oi.
Foram quase 20 anos de diversão e sou eternamente grato a todos vocês por todo o apoio que deram a mim e ao resto da galera ao longo de todos esses anos. Vocês tornaram tudo isso possível.
Agora é a hora de seguir em frente com outras aventuras musicais e não musicais.
Desejo o melhor para Niclas, Anders, Björn e Joe", escreveu Peter, em nota publicada nas redes sociais do In Flames.
Outro recomeço e mais trocas inesperadas
Para o lugar de Peter, o In Flames recrutou Bryce Paul e iniciou outra formação, que não durou muito tempo, uma vez que Joe Rickard saiu da banda após gravar praticamente todas as faixas de "I, The Mask", disco lançado em março de 2019. A única exceção é "(This Is Our) House", gravada por Tanner Wayne.
"I, The Mask" é um trabalho melhor e mais pesado que seus dois antecessores e em alguns momentos, chega até a lembrar (de longe) o que o In Flames fez em "Come Clarity" e "A Sense Of Purpose".
Pois bem, você já deve ter percebido que mudanças na formação viraram rotina a partir da saída de Jesper Strömblad. E com "I, The Mask", as coisas não foram diferentes. Niclas Engelin saiu da banda repentinamente, antes de uma série de shows nos Estados Unidos.
"Niclas nos enviou uma mensagem dizendo que simplesmente não poderia fazer isso, basicamente de sua cama de hospital. Ele se queimou ou bateu em uma parede em algum lugar. Por que ele estava no hospital? Você teria que perguntar a ele", relatou Björn à Metal Hammer.
Nova formação, "volta ao passado"
O experiente Chris Broderick, guitarrista com passagens por Jag Panzer, Megadeth e Nevermore, se juntou ao In Flames em 2019 e mostrou seu talento em "Foregone", décimo quarto disco de estúdio do grupo, lançado em fevereiro de 2023.
"Foregone" é uma grata surpresa e traz elementos de todas as fases do In Flames, inclusive da era mais agressiva da banda.
"É uma mistura entre o passado, o presente e para onde iremos. Essa porra de pandemia trouxe muita frustração e raiva. Eu e Björn conversamos sobre como estávamos sentindo falta daquele ataque de guitarras. A força motriz do In Flames é a mistura entre melodia e agressividade, e temos sentido falta disso por um tempo", afirmou o vocalista Anders Fridén à Metal Hammer.
Não olhamos simplesmente para trás e fizemos ‘The Jester Race Parte 2’, porque isso seria estúpido. Não seria fiel a esse álbum e não somos as mesmas pessoas que éramos naquela época. Então, estamos mantendo todas essas raízes conosco, mas ainda olhando para o futuro (...).
Acho que daqui a 10 anos, Foregone será um clássico do In Flames", disse o frontman, em outra entrevista concedida à Metal Hammer.
Bem, apenas para variar, depois que "Foregone" foi lançado, o In Flames passou por outra mudança. Bryce Paul saiu do grupo e Liam Wilson (ex-Dillinger Escape Plan) é o atual baixista do quinteto.
Agora que você já sabe um pouco mais sobre o In Flames, é hora de apertar o play e curtir o som de uma das bandas mais importantes da Suécia. Boa diversão!
Discografia
"Lunar Strain" (1994)
"Subterranean" - EP (1995)
"The Jester Race" (1996)
"Whoracle" (1997)
"Colony" (1999)
"Clayman" (2000)
"Reroute To Remain" (2002)
"Soundtrack To Your Escape" (2004)
"Come Clarity" (2006)
"A Sense Of Purpose" (2008)
"Sounds Of A Playground Fading" (2011)
"Siren Charms" (2014)
"Battles" (2016)
"I, The Mask" (2019)
"Foregone" (2023)
Formação atual:
Anders Fridén: vocal
Björn Gelotte: guitarra
Chris Broderick: guitarra
Liam Wilson: baixo
Tanner Wayne: bateria
Niels Nielsen: teclado (apenas nas apresentações ao vivo)
Ex-integrantes:
Jesper Strömblad: guitarra/bateria/teclado (1990-2010)
Johan Larsson: baixo (1990-1997)
Anders Iwers: guitarra (1990-1992)
Carl Näslund: guitarra (1993)
Glenn Ljungström: guitarra (1993-1997)
Peter Iwers: baixo (1997-2016)
Niclas Engelin: guitarra (1997-1998 e 2011-2019)
Daniel Svensson: bateria (1998-2015)
Joe Rickard: bateria (2016-2018)
Bryce Paul: vocal (2017-2023)
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