Metal Melódico: os 10 melhores álbuns dos anos 90 - Parte 2
Por Leko Soares
Postado em 03 de fevereiro de 2019
Texto por Leko Soares – o conteúdo expresso reflete a opinião do autor, é de inteira responsabilidade deste.
Caso você não tenha lido a parte 1, acesse a matéria no link abaixo.
Vamos, então, ao Top 5 da lista:
5. Rhapsody - Symphony of Enchanted Lands (1999)
Embora particularmente eu eleja "Dawn of Victory" de 2000 como o melhor álbum do Rhapsody, não posso cometer a injustiça de omitir as contribuições de "Symphony of Enchanted Lands" como um dos pilares que moldou o estilo definitivamente a partir do seu nascimento, para o bem e para o mal. Lançado já na penumbra dos anos 1990, o sucessor de "Legendary Tales" (1997) praticamente inaugurou um novo segmento dentro do Heavy Metal Melódico: o Symphonic Power Metal. Aqueles que têm pouca boa vontade em relação à banda podem alegar que Yngwie Malmsteen e Cia já utilizavam referências clássicas em suas músicas desde a década de 1980 ou que desde a década de 1970, bandas como Deep Purple e Pink Floyd já haviam incorporado a música clássica ao Rock etc. Porém, o mérito que cabe ao Rhapsody foi ampliar essas referências a proporções nunca antes utilizadas dentro do Heavy Metal. Explicando de maneira simples, a música clássica é intrínseca ao Rhapsody e sem ela a banda não existiria, ao contrário de qualquer outra banda de Metal ou Rock anterior a eles. Mas e o álbum? Começando por "Emerald Sword", o maior clássico da banda e carro chefe da obra em questão, identificamos facilmente todos os elementos que compõem a essência da banda: Bumbos duplos, solos em arpeggios, arranjos sinfônicos como pilares de toda a música e refrãos épicos que grudam na mente em uma simples audição. O que vem depois é ainda mais interessante em termos de ideias e inspiração: "Wisdom of the Kings" e "Eternal Glory" mantém o ritmo do álbum sem picos e com soluções orquestrais amplificando as ideias de Luca Turilli e Alex Staropoli. "Wings of Destiny" é uma balada de piano que cativa pelo grande refrão e clima ameno. Outros destaques são "Beyond the Gates of Infinity" que flerta inteligentemente com o Progressivo e o final apoteótico com a faixa-título, provavelmente a melhor de todas as canções épicas já escritas pela banda e que escancara a mistura entre os elementos da música clássica, a música medieval e o Metal Melódico em sua plenitude, sem excessos e com personalidade.
Melhores e Maiores - Mais Listas
Voltando aos dias atuais, é inegável que por mais que persista, o Rhapsody (of fire) atualmente vem dando voltas em círculos e mesmo lançando álbuns entre regulares e bons, nunca mais conseguiu repetir com êxito o sucesso dos quatro primeiros álbuns. Muito disso, porém, se deve ao próprio monstro que criaram e que, se expandindo tanto, acabou por aprisioná-los em um loop de si mesmos. Entretanto, não reconhecer os méritos e o pioneirismo da banda italiana e sua contribuição ao desenvolvimento do estilo em questão são equívocos que não fazem jus ao legado que os italianos construíram e que ainda repercutem na cena até os dias atuais.
Sugestão: "Symphony of Enchanted Lands"
4. Angra - Angels Cry (1993)
O primeiro álbum dos brasileiros é também o mais emblemático de sua vasta e (quase sempre) brilhante discografia. Unindo Heavy Metal à música clássica e boas doses de música brasileira, o cartão de visitas do Angra já apontava com convicção os caminhos que a banda seguiria nos seus próximos 30 anos de carreira. Liderados pelo singular André Mattos, é inegável deixar de notar que boa parte das intenções presentes em Angels Cry veio de sua primeira e também clássica banda, o Viper. A diferença aqui, é que tudo é ampliado para um som mais coeso e com as propostas acima citadas mais bem lapidadas. O legado que Angels Cry deixou para a cena nacional pode ser explicado por riffs como os de "Carry On" e da faixa-título, pelo baião liderado pelo baixo de Luís Mariutti em "Never Understand", pelos solos e duos de Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt que hoje são peças de estudo em escolas de guitarra Brasil afora e principalmente pela impressionante personalidade demonstrada para um debut. Praticamente todas as músicas aqui são clássicos do estilo e cabem em qualquer set list de shows da banda atualmente. Isso por si só já atesta o poder e respeito que "Angels Cry" trouxe ao Angra que, com certeza, deve muito de sua afirmação como expoente do Metal brasileiro à firmeza com que alicerçaram as primeiras bases de sua sólida carreira.
Sugestão: "Angels Cry"
3. Stratovarius - Visions (1997)
Citando um conhecimento básico sobre o Egito Antigo, o Rio Nilo, principal provedor da vida na região, em seu período de cheia inundava as terras próximas às suas margens e quando voltava a seu estágio natural, deixava-a fértil e pronta para a plantação. Pois foi exatamente esse o impacto que "Visions" teve na cena Melódica mundo afora, semeando as ideias que gerariam inúmeras colheitas de qualidade no Heavy Metal Melódico da década seguinte. O estilo alicerçado principalmente pelas referências neoclássicas de Yngwie Malmsteen e Cia, encontrou no gélido Stratovarius uma mistura ideal que, dentre outros méritos, conseguiu canalizar certa melancolia nórdica a um estilo de som rápido e paradoxalmente positivo. "Visions" é uma evolução natural de seu antecessor "Episode", considerado hoje um dos grandes clássicos da banda e talvez, a pedra fundamental do estilo Stratovarius de tocar Metal Melódico. A vantagem do álbum aqui em questão, no entanto, é que ele apresenta uma sonoridade já mais bem lapidada e direcionada. Tudo no álbum se encaixa, desde a temática apocalíptica de algumas músicas ("Visions" trata das profecias de Nostradamus) até os timbres de todos os instrumentos cuidadosamente escolhidos e polidos para gerar uma produção grandiosa e cristalina, criando um parâmetro para a grande maioria das produções do estilo que viriam a partir de então. Sobre as músicas, embora a grande maioria tenha saído da mente do inspirado Timo Tolkki, é inegável que o maior mérito da fase áurea do Stratovarius foi ter conseguido imprimir a personalidade individual dos músicos em cada uma das composições, coisa que somente bandas clássicas conseguem fazer ao longo de sua carreira. Destacando algumas faixas, a começar pela clássica "Black Diamond" e sua intro de teclado inconfundível, o hino "Forever Free", passando por "Legions" que tem um riff principal avassalador, Paradise e sua pegada Hard Rock e claro, a épica faixa-título que por si só já valeria o trampo todo. Cabe mencionar como ponto chave da sonoridade do Stratovarius o vocal inconfundível de Timo Kotipelto. É daqueles vocalistas que não mostra grande versatilidade, provavelmente sofreria para se enquadrar em alguma banda com sonoridade diferente, mas que por outro lado, se encaixa tão perfeitamente à proposta estética da banda que dificilmente alguém conseguiria substituí-lo à altura, pois tem estilo e timbragem muito específica. Após "Visions" o Stratovarius ainda lançaria outro clássico do estilo, "Destiny"(1999), mas despencaria na década seguinte em meio a crises de ego e problemas mentais de seu líder, o guitarrista Timo Tolkki. Apesar dos percalços, a banda segue hoje com uma line-up renovada e sonoridade repaginada, ora flertando com sons mais modernos, ora mais progressivos e frequentemente apresentando ótimos trabalhos, embora, sem a popularidade que os consagrou na segunda metade da década de 1990.
Sugestão: "Visions (Southern Cross)"
2. Gamma Ray - Somewhere Out in Space (1997)
Muitos irão citar "Land of the Free" de 1995 como o grande clássico da banda. Outros, o belíssimo "Powerplant" de 1999 e vários poderão apontar o agressivo "No World Order" de 2001 - talvez a última grande obra dos alemães - como o álbum definitivo da trupe liderada por Kai Hansen. Porém, como o critério adotado aqui é relevância e legado para a cena, acredito que a maioria dos fãs há de concordar que "Somewhere Out in Space" lançado em 1997 é o trabalho que projetou o Gamma Ray mundialmente como um dos líderes da cena Melódica e não somente como a banda do "cara que fundou o Helloween". Argumentos para tanto não faltarão aqui. Basta dar uma bela ouvida na quadra inicial "Beyond the Black Hole", "Men, Martians and Machines", "No Stranger (Another Day in Life)" e claro, a faixa-título, para entender que o "Somewhere Out in Space" é um passo adiante em toda a jornada entre vales de experimentações sonoras que a carreira do Gamma Ray havia passado até ali. É bem verdade que, desde quando Kai Hansen resolveu assumir de vez o papel de frontman, a banda já havia podado as arestas e traçado um rumo claro para sua sonoridade lançando o magistral "Land of the Free". Contrariando, porém, a máxima de que em "time que está ganhando não se mexe", para o álbum de 1997, a banda foi totalmente repaginada, restando somente Kai em seu posto de origem (Dirk Schlächter, agora baixista, tocou guitarra nos álbuns anteriores). Com a adição do "relógio" Dan Zimmermann e do ótimo guitarrista Henjo Ritcher, o passo dado em "Somewhere Out in Space" criou o som que oito em 10 bandas de Metal Melódico iriam beber da fonte nos anos seguintes. A produção do álbum, à cargo de Hansen e Schlächter ressalta ainda mais a evolução do Gamma Ray em relação aos trabalhos anteriores. Tudo no álbum soa coerente e cuidadosamente arranjado e repleto de detalhes bem distribuídos do início ao fim. O clima moderno e espacial prevalece durante toda a audição e mesmo faixas simples e mais diretas como "Valley of the Kings" (primeiro single promocional) e "Watcher in the Sky" ganharam arranjos inteligentes e bem encaixados, reforçando a ideia de que "o diabo mora nos detalhes" e realçando ainda mais as peças dentro do álbum. Outros destaques que não podem ser omitidos ficam por conta da belíssima balada "Pray" e do fechamento com "Rising Star" e "Shine On", trazendo além de uma bela e otimista letra, momentos distintos e de inspiração ímpar, onde a parte lírica e o instrumental andam de mãos dadas. Final fantástico que somente seria superado (talvez) pela épica "Armaggedon" do álbum seguinte. Por fim, uma dica: Quando algum adolescente extremista, desses que só saem do apartamento para ir a shows de gringos quiser argumentar com você o quanto o "Heavy Melódico é um estilo redundante e ultrapassado", aconselhe a audição cuidadosa desse álbum e quem sabe, conseguirá salvar uma alma mais jovem do recorrente erro da análise anacrônica e sem contextualização. Obrigatório!
Sugestão: "Rising Star + Shine On"
1. Blind Guardian - Nightfall in Middle Earth (1998)
Me lembro como se fosse ontem: Era domingo de manhã, acabava de chegar de Santo André (SP) e embora extremamente cansado com o ‘bate e volta’ da viagem e o avassalador show que os alemães tinham realizado no Aramaçã, na noite anterior – com direito à abertura das excelentes e na época, desconhecidas Tuatha de Danann e Symbols - o foco era ouvir com calma e pela primeira vez o novo álbum dos alemães (confesso que fui ao show conhecendo ‘somente’ "Follow the Blind", "Somewhere Far Beyond" e "Imaginations from the Other Side").
A sensação que "Nightfall in Middle Earth" me passou desde a primeira audição é a de que, claramente, eu estava diante de um álbum singular e anos-luz à frente do que meus ouvidos podiam assimilar naquela época. Ainda assim, algo me dizia que aquele era um trabalho que ecoaria forte durante muitos anos. Confesso que, mesmo após algumas atentas jornadas no universo do álbum, demorou certo tempo para me acostumar com uma sonoridade tão ímpar, mesmo antenado à uma cena fervilhante de ideias que existia naquele já distante 1998.
Os méritos do Blind Guardian em "Nightfall" são muitos, e começam pela feliz e ousada escolha de musicar a mais complexa e genial obra do mestre Tolkien: "O Silmarillion". Pensando bem, talvez exatamente aí resida o grande segredo do álbum. É provável que, com essa tarefa de retratar uma obra tão distinta de tudo o que o universo da Terra Média poderia oferecer aos leitores, o Blind Guardian tenha, de certa forma, se reinventado para buscar a sonoridade que tal compêndio merecia (e exigia).
Musicalmente falando, torna-se extremamente desnecessário o esforço de relatar aqui o passo a passo daquilo que vossos ouvidos fará com muito mais exatidão, mas alguns detalhes e ‘truques’ espalhados pelo álbum merecem ser ressaltados, a começar pela extrema competência que os bardos tiveram em trabalhar as músicas em várias camadas distintas, fazendo uso de melodias ora ‘assobiáveis’, ora priorizando acordes clean do criativo e por vezes subestimado, Andre Olbrich, muitas vezes contrastando com arranjos mais pesados e distorcidos da cozinha formada por Thomen Stauch e Marcus Siepen, acrescidas de sintetizadores discretos, mas extremamente necessários espalhados ao longo de todo álbum, criando uma massa sonora e tornando-o tão grande como ele o é. Acrescente a isso andamentos em 6/8 inspirados em gigas medievais, habilmente incorporados à complexidade e peso que só o Blind Guardian poderia proporcionar e obviamente, as linhas de vocais, a interpretação e grandiosidade dos chorus que o menestrel Hansi Kürsh entrega à obra de maneira única e com extrema competência.
Tão difícil quanto foi assimilar o "Nightfal" é entregar destaques individuais aqui. Ao invés disso, e fugindo do lugar-comum, exaltarei a agressividade técnica e complexa de "The Curse of Feanor" e "When Sorrow Sangs", a beleza melancólica de "Blood Tears" e "Eldar", a beleza lírica e estrutura harmônica belíssima de "Noldor", sem contar "Thorn" e o mais belo refrão do álbum e a arrepiante marcha final de "A Dark Passage", músicas hoje em dia geralmente negligenciadas pela banda no seu set list habitual e por isso esquecidas por muitos fãs mais jovens, mas que, uma a uma, seriam destaques absolutos de qualquer álbum da banda lançado nos últimos 10 ou 15 anos.
A importância de "Nightfall in Middle-Earth" transcende o Heavy Metal Melódico e influencia inclusive na consolidação do Folk Metal, uma nova cena que ainda hoje se mostra forte e com fôlego, embora já acuse os golpes da saturação e produção industrial (leia-se padronização e repetição de fórmulas), sintomas esses que, há uns 15 anos atrás levaram o Metal Melódico para um nimbo no qual o estilo permanece até os dias de hoje, respirando por aparelhos, mas ainda com boas ideias para mostrar aqui e ali!
Sugestão: "Thorn"
Pra finalizar, deixo aqui uma playlist com a seleção das melhores músicas dos álbuns citados nesse Top 10. É só dar play e curtir a nostalgia da era áurea do Heavy Metal Melódico!
E aí galera, qual seria o Top 10 do Metal Melódico dos anos 90, na sua opinião? Deixe sua opinião nos comentários
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