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Rotting Christ: civilizações antigas e seus rituais - entrevista com Sakis Tolis

Por Leonardo M. Brauna
Postado em 08 de junho de 2017

Nosso redator Leonardo M. Brauna, conduziu uma entrevista para a Roadie Metal com o vocalista e guitarrista do ROTTING CHRIST, Sakis Tolis, que mergulhou na discografia da banda e falou curiosidades sobre o atual lançamento, Rituals (2016). Veja na íntegra:

Pioneiros do extremismo musical na Grécia, os irmãos Sakis (guitarrista) e Themis Tolis (baterista) estão na estrada há trinta anos com o Rotting Christ e durante todo este período, muitas mudanças aconteceram. Seguidos por uma base de fãs fiéis a banda já fez muitas experimentações, sendo uma das introdutoras de passagens climáticas em riffs agressivos, mostrando que peso e elementos soturnos podiam caminhar juntos. Com o passar do tempo, outros fatores agregaram valores à proposta da banda onde também colaboram George Emmanuel (guitarra, backing vocal) e Van Ace (baixo, backing vocal) – aquelas "cortadas" de teclado dos primeiros álbuns, foram dando lugar a outros arranjos que tiveram maior exposição quando percorreram um caminho mais voltado ao gothic metal. Com a volta às raízes do black metal, o Rotting Christ mergulhou no seu lado mais oculto e lançou vários álbuns que abordam a essência da cultura antiga, tanto de seu país, Grécia, como de várias outras civilizações, como foi feito em Rituals (2016). A ROADIE METAL conversou com Sakis Tolis sobre o que a banda fez nesses trinta anos de existência e sobre o que há por trás desse último lançamento, que dá sequência a uma enigmática série de misticismo musical. Confira.

Rotting Christ - Mais Novidades

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O Rotting Christ não é apenas uma banda importante do Black Metal mundial, é também uma das mais antigas da Grécia nesse gênero. Como o grupo vivenciou o cenário extremo entre 1985 e 1987, quando a banda ainda se chamava Black Church?

Sakis Tolis: Perfeito! Para nós enquanto músicos, viemos de um cenário underground muito antigo na Grécia. Como você mesmo lembrou, a Black Church foi a nossa primeira ideia de banda antes de darmos início ao Rotting Christ. Isso foi algo formado apenas em nossas mentes há mais de trinta anos. No início nem utilizávamos instrumentos verdadeiros e até almofadas serviam para tocar como se fosse bateria, (risos) mas ali já existia em nós o espírito da escuridão. Nós queríamos soar como os ídolos do Black Metal da época e estávamos preparados para tudo!

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Até a demo Decline's Return (1989), vocês tocavam Grindcore. O que os influenciaram a investir em um estilo mais pesado e trabalhado com letras realmente satânicas a partir do EP Passage To Arcturo (1991)?

Sakis: A culpa disso foi do Cronos do Venom, bem como de Tom Warrior do Celtic Frost e, claro, do Quorthon do Bathory... Eles nos fizeram assim.

O caminho que o Rotting Christ trilhou a partir de Passage To Arcturo, fez de vocês pioneiros de um estilo mais virtuoso no Black Metal, que hoje já serve de influência para muitas bandas.

Sakis: Vemos isso como fomentação de uma expressão musical gerada com contribuição do nosso estilo negro. Isso que talvez passou a existir sob nossa influência se uniu totalmente à nossa mentalidade, criando uma grande e bela comunidade. A nossa viagem pelo caminho da mão esquerda, a partir daquele momento, havia apenas começado.

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Thy Mighty Contract (1993) também tem igual importância para os fãs, mas no Brasil, Non Serviam (1994) é um dos álbuns mais cultuados do Rotting Christ. Pode falar um pouco sobre o seu processo de composição?

Sakis: Uma mistura de mitologia de Lovecraft (N.R.: Howard Phillips Lovecraft, escritor norte-americano), inspirações sobre satanismo com um toque de algumas drogas psicodélicas. (risos) Tínhamos acabado de compor Non Serviam em nosso próprio estúdio, em seguida fomos ao Storm Studio, onde nós mesmos o produzimos sem sabermos muita coisa de produção. Quanto à preferência dos brasileiros, somos totalmente honrados em saber que irmãos do metal do outro lado do oceano, consideram esse álbum como um dos melhores. Total honra aos guerreiros brasileiros do metal!

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Em A Dead Poem (1997) a banda apresentou um estilo mais focado na melodia e na atmosfera obscura. Outras mudanças importantes como a alteração do logotipo e a utilização de seus nomes verdadeiros também foram registrados pela primeira vez. Como você resume essa fase?

Sakis: Foi uma época mais heavy metal para a banda que durou dois álbuns, começando por A Dead Poem e se estendendo a Sleep of The Angels (1999). Nós gostamos de metal, por isso nós sempre admiramos os vários modos como uma banda se expressa através de sua música. Algumas pessoas gostaram dessa fase, outras não, mas o fato é que A Dead Poem ainda é o álbum mais vendido da banda.

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Aproveitando que citou Sleep of The Angels, foi justamente na turnê deste álbum que a banda visitou pela primeira vez os EUA. Sabemos que é difícil tocar por lá quando o artista é de outro país. Na sua visão, o que ocasionou a demora da banda em fazer uma turnê na terra norte-americana?

Sakis: Os EUA é uma terra difícil de se visitar, e não é por causa dos fãs metalheads, pois lá existe muitos. É devido as muitas autoridades e suas regras que conflitam com qualquer banda não só com papeladas, mas também pelo lado financiável. Levou algum tempo, mas nós fomos em frente e recebemos uma ótima recepção com uma turnê prolongada, mesmo o black metal naquela época não sendo tão grande por lá.

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Como foi a experiência de trabalhar na produção com Alexandre "Xy" Locher (Samael) em Dead Poem e Sleep Of The Angels, e com Peter Tägtgren (Hypocrisy, Pain) na produção de Khronos (2000)?

Sakis: Ambos tinham suas próprias características que me fizeram aprender muito sobre produção. Hoje faço as minhas próprias, pois fui ensinado em uma boa ‘escola’.

Em Genesis (2002) o grupo voltou a utilizar linhas mais agressivas como nos velhos tempos. O título do álbum e a recontratação de Andy Classen (Holy Moses) que produziu Triarchy Of The Lost Lovers (1996), tem algo a ver com esse retorno às orígens?

Sakis: Perfeitamente! Voltamos para as linhas mais agressivas... Nós sentimos que precisávamos fazer isso ativamente. De qualquer maneira, essa é a nossa política como banda. Trabalhamos em Genesis na Alemanha, no estúdio de Andy que nos ajudou na produção, e o retorno foi um aumento grandioso de fãs mundo afora.

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A partir de Sanctus Diavolos (2004), você assumiu sozinho a produção dos álbuns do Rotting Christ como já comentou. Assim ficou mais fácil chegar a um objetivo acrescentando mais essa responsabilidade?

Sakis: Sim, como havia dito, eu fui educado em uma boa escola, e com o tempo passei a trabalhar exclusivamente em nossos álbuns. Essa foi uma ideia que sempre tive como pessoa e como músico. Esse desejo do ‘do it yourself’ me seguia desde os primeiros anos de banda. Levou algum tempo, mas acreditamos que este é um dos álbuns mais sombrios do Rotting Christ.

O seu conterrâneo Gus G. (Ozzy Osbourne, Firewind, ex-Dream Evil) fez uma participação solando em Visions of a Blind Order. Como surgiu esse convite?

Sakis: Gus é um grande amigo meu, o pedimos para fazer um solo matador no álbum e que saísse infernal. Depois que ele aceitou tivemos o resultado. Gus G. é um guitarrista excepcional! Sabe impor sua própria identidade.

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O que representa para você os predicados folk que a banda passou a incluir em sua música a partir de Theogonia (2007)? Essa aproximação de suas raízes tem alargado mais a visão da banda em busca de conhecimento?

Sakis: Certamente. Pela primeira vez nós adicionamos, digamos, elementos étnicos e musicais da cultura grega à proposta da banda, que combinasse com as nossas raízes do Black Metal. Foi algo que eu sempre quis fazer para enriquecer os caminhos musicais. Nós unimos isso ao que fazíamos nos álbuns anteriores. Thegonia é considerado por muitos guerreiros como um de nossos melhores álbuns e ainda foi gravado e mixado exclusivamente em Atenas, nossa cidade.

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Vamos falar agora do novo álbum Rituals. Nele o Rotting Christ mergulhou profundamente nas culturas místicas numa atmosfera que começou em Thegonia, passando por Aealo (2010) e continuando em ΚΑΤΆ ΤΟΝ ΔΑΊΜΟΝΑ ΕΑΥΤΟΎ (2013). Neste novo lançamento esse tema cultural é atribuído a diversas regiões do planeta, inclusive com passagens tribais. Como surgiu essa abordagem?

Sakis: Viajamos há muito tempo pelo mundo e onde quer que eu vá, mergulho fundo nas culturas locais, assim estou sempre me influenciando e me inspirando nas mais diversas civilizações, especialmente quando se tem a ver com o antigo. Eu acredito que exista muito conhecimento oculto pelo mundo que possa ajudar nas civilizações tão modernas de hoje – minha decisão foi ir em frente com uma composição sobre cultos obscuros e multiculturais.

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A faixa Les Litanies de Satan (Les Fleurs du Mal) que, como o título sugere, é uma fala do poeta francês Charles Baudelaire, foi recitada por Michael "Vorph" Locher (Samael). Esse convite foi casual ou houve a intenção de incluir a voz do suíço nela?

Sakis: Vorph é meu amigo há muito tempo. Ele é um grande artista e quando pensei em gravar uma canção escrita em francês, foi o nome dele que me veio à cabeça. Isso me fez imediatamente perguntar-lhe se podia participar em um trecho do álbum, mas como o meu francês não é muito bom, acreditei que Vorph pudesse fazer uma música toda. Ele fez e como resultado temos Les Litanies de Satan.

Enquanto a Nick Holmes (Paradise Lost, Bloodbath)? Pode nos contar como foi sua participação em For a Voice Like Thunder?

Sakis: Essa foi inspirada na literatura inglesa de William Blake. Quem poderia fazer uma interpretação melhor disso senão um inglês? Tudo saiu como o combinado e o nosso amigo Nick foi lá e fez uma grande recitação para For a Voice Like Thunder.

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Rituals conta com uma atmosfera muito pesada, porém é um álbum com climas mais sólidos que seu antecessor. Como a reação das pessoas está chegando até você?

Sakis: As pessoas podem apreciar qualquer álbum como quiserem, mas a grande maioria do retorno sobre essa nossa última criação está sendo positiva. Um álbum com menos riffs, mas com uma atmosfera profunda foi uma opção para a banda que já acumula treze lançamentos. Rituals é o final de uma tetralogia começada em Thegonia. O próximo passo será uma surpresa!

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Pode falar um pouco sobre a inclusão das releituras de Του θάνατου (Tou Thanatou) de Nikos Xylouris e The Four Horsemen de Aphrodite's Child, que são artistas populares da Grécia?

Sakis: Eu também sempre me inspiro na nossa arte helênica e observo que existe grandes criações que ficariam ótimas se adaptadas para o Metal... Isso é uma das coisas que faço como músico, então muito antes de escrever algo novo, eu sempre procuro uma outra música que possa preencher a alma.

Rituals é cercado de curiosidades, não só pela parte lírica como também pela música. Qual delas você indicaria ao ouvinte numa primeira audição, e o que ela representa para você em particular?

Sakis: Eu indicaria זה נגמר (Ze Nigmar). É uma canção verdadeiramente doom e tem a ver com as últimas palavras de Jesus Cristo na cruz, proferidas no aramaico, sua língua oficial.

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Para encerrar, o que você tem a dizer aos seguidores da banda no Brasil?

Sakis: Aos nossos irmãos brasileiros, que verdadeiramente nos respeitam e são dedicados a real cena metal desde os primórdios, fiquem atentos e fiéis em seu próprio espírito. Mantenham esse espírito vivo à sua maneira. ‘Non Serviaaam’!

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Sobre Leonardo M. Brauna

Leonardo M. Brauna é cearense de Maracanaú e desde adolescente vive a cultura do Rock/Metal. Além do Whiplash, o redator escreve para a revista Roadie Crew e é assessor de imprensa da Roadie Metal. A sua dedicação se define na busca constante por boas novidades e tesouros ainda obscuros.
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