Entrevista: By Blood Alone, a música vencendo um câncer
Por Vicente Reckziegel
Fonte: Witheverytearadream
Postado em 13 de setembro de 2012
Quando fiz esta entrevista em Agosto, o próprio líder da banda, o guitarrista Graveside, confidenciou que a banda estava se separando, mas que ainda não haviam feito um comunicado oficial. Mesmo assim, achei interessante fazer esta entrevista com eles, pois além do ótimo som da banda, tinham boas (e más) histórias para contar, como o problema de saúde com a vocalista Cruella, o que gerou uma entrevista bem bacana, com a participação da própria Cruella. A formação do By Blood Alone era completada com Jenny (Teclados), Runtt (Bateria) e Jack (Baixo).
Vicente - Depois de 8 anos de estrada, qual é a melhor lembrança com o By Blood Alone?
Graveside: Foram tantas vezes, definitivamente em maior quantidade de boas lembranças do que ruins. Para mim, acho que foi o nosso primeiro show depois do hiato em função do câncer de mama da Cruella. (Ela se submeteu ao tratamento de câncer de mama em 2007) Nós, naturalmente, levamos um bom tempo para isso, e não sabíamos o que iria acontecer, se ela sobreviveria, etc, obviamente que ela o conseguiu, e, enquanto ela estava recebendo tratamento, escrevemos o álbum "Thunderbirds" inteiro. O primeiro show após tudo isso, tocamos o material novo inteiro, e a multidão estava tão feliz em ver-nos de volta com Cruella saudável e em forma para lutar. Eu não acho que havia alguém que não estivesse emocionado na casa. Ir para a estrada também foi divertido no geral. Muitas risadas.
Cruella: Saindo em nossa primeira turnê foi como uma explosão. Eu amei estar na estrada e rindo muito com tudo.
Vicente - E a pior?
Graveside: Para mim, foi o show que tocamos na noite em que Cruella foi oficialmente diagnosticada com câncer. Eu sabia, mas eu acho que ela não tinha contado a ninguém na banda. Eu ficava olhando para ela no palco e perguntando a mim mesmo se estaríamos fazendo isso de novo.
Cruella: No meu diagnóstico, em 3 de agosto de 2007, foi definitivamente um dos mais difíceis shows que eu já fiz. Eu sentia como se não estivesse no meu corpo naquela noite. Mesmo tão ruim, esse dia foi que fizemos um dos nossos melhores shows.
Graveside: Realmente? Lembro-me como se estivesse um pouco amortecido. Talvez isso foi apenas como eu estava me sentindo.
Vicente - No ano passado vocês lançaram "Thunderbirds". Como foi a divulgação? Quando e onde foi gravado?
Graveside: "Thunderbirds" foi gravado no final de 2010 - início de 2011 no meu estúdio em Portland, Maine. (Eu também sou um produtor / engenheiro). Naquele momento era chamado de Purgatory Recording, mas o nome foi mudado mais tarde para Garage Mahal Recording. Fomos capazes de aproveitar o nosso tempo e realmente explorar a música em um ambiente agradável, acolhedor.
Cruella: Sim, "Thunderbirds" foi certamente um bom tempo... E eu estou tão feliz de como o fizemos e gravamos da nossa maneira. Eu acho que o resultado final no geral é espetacular.
Vicente - E a reação dos fãs foi como vocês esperavam?
Graveside: Muito bom. Eles fizeram o que sempre fazem com a gente - eles ouvem com muito cuidado e muito calmamente, e depois no final aumentam o volume até o máximo. Muitos deles nos disseram que "Thunderbirds" é definitivamente o nosso melhor lançamento.
Cruella: Eu acho que muitos dos nossos fãs ficaram surpresos e satisfeitos com a direção que tomamos com "Thunderbirds".
Vicente - Além disso, vocês lançaram "Seas of Blood" e o EP "Eternally". Conte-nos um pouco sobre cada um.
Graveside: "Eternally" foi escrito e gravado em 2004, bem no início da história da banda, e nós ainda não tinhamos atingido o nosso estilo. Ainda estávamos tentando descobrir como escrever em um estilo mais progressivo, que seria único e diferente de outros artistas. "Seas of Blood" saiu em 2007, tivemos um novo baterista (Runtt), que realmente entendia o que estávamos fazendo e realmente acrescentou algo ao som. Além disso, nos tornáramos mais experientes com a composição de músicas mais progressivas, o que explica as canções mais longas. (Há algumas canções curtas que sobraram de "Eternally") Em geral, todos nós tínhamos crescido como músicos e compositores.
Cruella: "Eternally" era uma espécie de começo. Eu era uma letrista frangote e tentando encontrar a minha voz. As músicas foram todas escritas antes de eu entrar na banda (com exceção de Dark Man)... Por isso realmente foi um desafio me expressar nas canções. Eu estava muito empolgada tentando deixar minha marca nas músicas.
"Seas of Blood" foi uma espécie de "balaio de gatos". Algumas canções antigas, outras novas, e nós estávamos apenas tentando pegar o ritmo e encontrar o nosso som. "Thunderbirds" é o único dos nossos álbuns que eu posso ouvir como um fã. Eu amo colocá-lo para ouvir, por puro prazer...Como eu faria com qualquer outro artista musical que eu quisesse escutar. Em "Thunderbirds" eu realmente fui capaz de explorar alguns temas liricamente e exorcizar alguns demônios que sobraram do meu enorme susto com relação ao câncer.
Graveside: Eu concordo. Eu já lancei ou toquei em um monte de CDs ao longo dos anos, mas "Thunderbirds" é a único que posso ouvir como um prazer pessoal.
Vicente - Sua música tem alguns aspectos de Progressive, mas na essência é um grande Gothic Metal com belas melodias. Esta é a proposta desde o início da banda?
Graveside: Mais ou menos. O plano era ter sempre os contrastes, o pesado e o melódico. Desde o início, queria ter riffs de Metal com uma vocalista feminina e outro suave instrumento não-rock, que podiam ser teclados, violinos, flautas, ou o que quer que fosse. Queríamos Jenny na banda, e ela toca teclado, de modo que é o que aconteceu. A parte mais progressiva não foi planejada, mas acabou surgindo enquanto trabalhamos os arranjos, tentando fazê-los soar distinto e interessante.
Cruella: Felizmente as melodias surgem naturalmente para mim como uma cantora. Fiquei agradavelmente surpresa quando a banda começou a tomar este rumo de estilo.
Vicente - Como é a cena nos EUA para Rock e Metal?
Graveside: Terrível, embora não seja tão ruim quanto já foi. O real Metal só é popular para uma pequena quantidade de pessoas, e por Metal verdadeiro eu quero dizer qualquer coisa do Iron Maiden, Hammerfall, Nightwish, Iced Earth, Cannibal Corpse e Mayhem. A rádio está cheia de Hard Rock brega que algumas pessoas chamam de Metal, mas não o é.
Cruella: Eu tenho vergonha de dizer que eu não ouço o Metal produzido nos Eua. Então, eu realmente não conheço a cena.
Vicente - O que vocês sabem sobre Rock e Metal no Brasil?
Graveside: Não muito. Eu sei que o Sepultura é do Brasil, (os vi nos EUA em 1989) e que os fãs da música adoram bandas como Iron Maiden e Manowar. Ouvi dizer que o Brasil tem os mais loucos fãs do mundo, totalmente dedicados.
Cruella: Eu não sei nada de Rock e Metal no Brasil. Um dia espero conhecer...
Vicente - Quais são as suas maiores influências?
Graveside: Para mim Nightwish, Mercyful Fate, The Damned, Kamelot. Já toquei outros estilos de música além de Metal, e essas bandas tinham diferentes influências. Runtt ama Frank Zappa, Jethro Tull e Devo. Jenny gosta dos clássicos do rock dos anos 70, como Led Zeppelin e Deep Purple, e Jack é um fã enorme do Iron Maiden - um dos maiores fãs de IM que eu já conheci.
Cruella: Eu, pessoalmente, gosto de Aretha Franklin, Joni Mitchell, Maiden, Cyndi Lauper e muitos mais...
Vicente - Em poucas palavras, o que você pensa sobre essas bandas:
Nightwish:
Graveside: Uma enorme influência em mim e para o By Blood Alone. Eles são a única banda de Gothic Metal com vocal feminino que eu gosto, e eu absolutamente os amei enquanto Tarja estava na banda. Todas as suas canções eram grandes, e Tarja era um anjo com aquela voz incomum dela. Eles perderam muito do que os fazia especiais quando ela foi demitida. Annette é uma boa cantora, mas eu acho que não traz nada de diferente, e o Nightwish se tornou comum demais com ela na banda.
Cruella: Eu gostava quando Tarja estava na banda.
Kamelot:
Graveside: Outra grande inspiração de mim, mas os conheci realmente depois que o By Blood Alone havia começado. Grandes riffs de metal e teclados, e os vocais melódicos de Roy Khan são tão apaixonados. Pena que ele saiu da banda, apesar de tê-los visto com Fabio Leone do Rhapsody nos vocais, e eles foram demais
Epica:
Graveside: Simone Simmons tem uma grande voz, mas acho a música um pouco genérica. Epica, Within Temptation, After Forever, esse tipo de bandas soam todas muito parecidas para mim, possuem grandes idéias, mas de execução maçante.
Jethro Tull:
Graveside: Eu não sou um grande fã, mas eu gosto deles. Runtt é enorme fã do jethro tull e tem praticamente tudo o que eles lançaram, e poderia dizer-lhe muitos fatos fascinantes sobre a banda e sua música.
Cruella: Grande fã deles também. Enquanto eu crescia eles fizeram parte da minha vida, da minha casa. Minha mãe ama.
Anthrax:
Graveside: Eu os vi três ou quatro vezes com ambos; Joey Beladonna e John Bush nos vocais, e o By Blood Alone abriu para Joey em uma turnê solo dele, mas por alguma razão o Anthrax nunca realmente mexeu comigo. Eu não posso explicar por que, já que gosto de um monte de bandas desse estilo. Eu acho que a minha fase preferida deles é com John Bush nos vocais. Havia mais emoção quando ele estava na banda. Os anos com Joey eram como uma grande festa, que não é realmente minha praia. (Apesar de "Bring the Noize" com a colaboração do Public Enemy é fantástica).
Vicente - Por fim, deixe uma mensagem para todos os brasileiros que conhecem ou queiram saber muito mais sobre a música do By Blood Alone.
Graveside: Desculpe nunca chegarmos a tocar para os nossos fãs no Brasil (ou em qualquer lugar fora dos Estados Unidos), mas nós gostaríamos de agradecer a todos pelas palavras de apoio que temos recebido de vocês ao longo dos anos. Mesmo que nós não estejamos mais juntos, nós apreciamos todos os amigos que fizemos em todo o mundo. Para quem ainda não nos conhece, nossa música ainda está disponível online e nós esperamos que você goste muito.
Cruella: Eu me sinto muito grata por ter atingido outras partes do mundo e conquistado fãs em lugares que eu nunca pude visitar. Valorizamos cada pessoa que pode se conectar com a nossa música, e me sinto orgulhosa de ter dado partes de mim para o mundo. Minha esperança é que a música vai continuar e novas pessoas vão descobrir nossas músicas e levá-las adiante.
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