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Bruto: ter humildade e saber que o público sempre tem razão

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 07 de abril de 2012

Natural de Brasília, o Bruto passou pela mesma situação que a grande maioria das bandas independentes, ou seja, batalhou durante anos para marcar sua estréia em disco. "Mundo Destruído" é um amálgama de Death, Thrash e Hardcore cantado em português e cheio de atitude. O Whiplash.Net conversou com o vocalista Kbça para conhecer melhor o grupo e o que vem por aí!

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Whiplash.Net: Olá pessoal. Considerando que o Bruto esteja estreando com "Mundo Destruído", que tal começarmos com uma breve biografia para o público conhecê-los melhor?

Kbça: A banda foi formada em 2004 em Brasília, na cidade satélite do Gama. Ficamos mais ou menos dois anos somente ensaiando pra fazer o primeiro show em um Pub Asa Sul em Brasília e nosso segundo show foi o Porão do Rock em 2006. Daí em diante começamos a tocar direto, em todos os lugares possíveis e buscando aprimorar e estudar mais ainda o som que sempre fizemos. Nossas letras abordam questões sociais, políticas e anti-religião, e mesmo sabendo que letras em português são mais difíceis de atingir o mercado, optamos. O BRUTO é desacato total (risos). O Bruto é formado por Kbça (vocal), Rodrigo Silva e Leo (guitarras), Sávio (batera) e Henrique (baixo). Lançamos nosso disco em 2011, sete anos depois de muita zica (risos).

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Whiplash.Net: Pois é, houve consideráveis atrasos para o lançamento de "Mundo Destruído". O que estava acontecendo, afinal?

Kbça: Vamos lá! Esse disco rolou muita zica, o Bruto tem um rigoroso ritmo de ensaios semanais e shows, e acaba não agradando quem não quer realmente viver no meio do underground. Por isso já passamos por várias mudanças de formação que atrapalharam muito o processo do disco. Então, cansados de esperar a formação perfeita, falamos com nosso amigo Fabio Cota, mais conhecido como ‘Marreco’ para gravar nossas guitarras. Ele aceitou o convite de primeira, e finalmente lançamos o CD.

Whiplash.Net: Parece estar havendo uma tendência em as bandas do Brasil adotar a língua portuguesa... A que vocês atribuem este fato?

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Kbça: Bem, o Bruto já compõe em português desde o início da banda. Achamos que esse lance de compor em inglês e a procura do mercado exterior pode dar certo, como pode não dar em nada. Das milhares de bandas do Brasil que adotam o inglês em suas músicas, temos pouquíssimas que atuam no exterior com êxito, conseguindo viver somente da música. Acreditamos que da mesma forma que procuramos estudar o inglês, os gringos também tem que estudar o português e saber mais sobre nossa língua, porque fazemos rock de qualidade no Brasil. Tomara que essa tendência aumente cada dia mais. Será que finalmente começaram a dar ouvidos às bandas que cantam em português? Tomara! Um bom exemplo de que se pode fazer um bom trabalho em português é o disco do Claustrofobia, "Peste", que dispensa comentários, além das inúmeras bandas que fazem muito bem o mesmo papel em português.

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Whiplash.Net: Pelas suas letras, o Bruto é extremamente pessimista para com o futuro da sociedade e do próprio planeta. Afinal, quais poderiam ser as alternativas para uma melhor convivência neste período em que vivemos?

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Kbça: Nós somos os destruidores de nós mesmos. O planeta vem dando vários sinais da degradação causada por todos. Quando falamos de política, nada mudou por que continua tudo do mesmo jeito, com as mesmas caras safadas nas cadeiras e as igrejas ainda continuam sendo a maior manipuladora de pessoas. Quem é o culpado? Todos sabem das respostas. Nossas letras abordam uma série de coisas que sabemos que está errado, mas não fazemos nada a respeito. Achamos que alternativa seria pensar melhor sobre as atitudes, porque sabemos de tudo que pode nos comprometer no futuro. Tomara que os recém nascidos tenham um mundo legal daqui uns 20 anos.

Whiplash.Net: Diego Moscardini caprichou na arte que ilustra a capa de "Mundo Destruído". Até onde vocês influenciaram em sua elaboração? Aliás, o personagem no trator poderia vir a se transformar em uma espécie de mascote do Bruto?

Kbça: Bem, o Diego é um gênio. Dei a idéia e ele capturou, fez ‘o trator destruindo tudo’. Ele conseguiu colocar no papel definitivamente igual ao que pensei. Com relação ao personagem, ele é o ‘Bruto’, vai estar em nossas capas em situações adversas. Já começamos a conversar com Diego sobre a capa do novo CD com título "Desacato". Esperamos que também fique legal.

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Whiplash.Net: E como rolou o conceito e filmagens do vídeo de "Mundo Destruído"? Gostei do detalhe dos jornais espalhados pelo chão...

Kbça: O conceito era mostrar no clip a destruição do planeta mesclando a banda com imagens desse aspecto de destruição. O lugar não poderia ser melhor, o Centro Cultural Itapuã no Gama, totalmente abandonado. Cara, a gente tinha uma vontade enorme de fazer um vídeo legal, mas sempre parava no fator grana. Daí o Sávio, nosso batera, tinha o contato de um amigo, Tiago Maroca, que já tinha feito alguns curtas e trabalha com filmagem e edição. Mas até então não tinha feito um clip. Conversamos com ele e falamos que não rolaria grana, mesmo assim ele topou. Então buscamos o local, o Centro Cultural Itapuã, um cinema desativado aqui no Gama que se transformou em um espaço para várias atividades hoje.

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Kbça: O jornal no chão: velho, não tinha o que fazer, está destruído, detonado, ficamos mais ou menos uma hora pensando o que fazer, até Carol ter a brilhante idéia do jornal no chão, que inclusive melhorou a luz. Saímos à procura de jornal em todos os lugares possíveis, tinha ser bastante por causa do palco. O resultado ta aí para a galera ver.

Assistir vídeo no YouTube

Whiplash.Net: Foi divulgado que "Mundo Destruído" foi um apanhado das canções que o Bruto produziu ao longo de sua trajetória. O resultado convence, mas e quanto ao futuro e esse novo CD, o "Desacato"?

Kbça: Olha, "Mundo Destruído" só poderia ser um apanhado de músicas, são sete anos da fundação ao lançamento desse trabalho (risos). Sabemos das falhas desse disco, mas muita coisa rolou pra esse trabalho ser lançado. Na verdade ninguém aguentava mais falar de um disco que não saía. Todas as resenhas feitas do nosso CD estão corretas, mas pra te ser bem franco, não dá pra avaliar o Bruto por esse disco, pois a banda mudou muito. Está muito melhor hoje, e o novo disco já está gravado há três anos, só faltando as guitarras.

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Kbça: O mais engraçado é que conseguimos aprovar a gravação do nosso DVD pelo FAC, Fundo de Apoio à Cultura. Isso em 2010, e está indo pelo mesmo caminho da demora, pois foi bem na época do Mensalão (*) em Brasília. Aí fodeu (risos). Mas acho que esse ano desenrola, e no mais já estamos trabalhando no novo CD, intitulado "Desacato". Inclusive vamos lançar um vídeo clip com uma música desse disco, "Vai Tomar no Cú! Pau No Cú!". Estamos muito empenhados nesse novo disco.

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(*) nota do autor: após investigações da PF, o governador do Distrito Federal foi acusado do uso de doações de caixa dois para comprar deputados distritais visando apoio a seus projetos. Será que alguém permaneceu preso?

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Whiplash.Net: É inegável que a cena underground do Brasil esteja em excelente fase e, inclusive, parece estar havendo certa movimentação para a realização de diversos festivais por aí. Como o Bruto está sempre tocando, que ajustes ainda podem ocorrer para que a situação vá melhorando ainda mais?

Kbça: É verdade, Brasília entrou na rota dos grandes festivais, temos o Porão do Rock, Rolla Pedra, Marrecos Fest, Ferrock, Aniversário de Brasília, onde a diversidade é enorme, temos o movimento Brasília Capital do Rock, onde estamos lutando por esse título, e sem falar nos outros que acontecem em toda cidade. A galera tem se unido em coletivos e tem feito muita coisa acontecer. E o Bruto sempre tem recebido os convites pra tocar. Estamos no momento de focar no trabalho novo, aos poucos estamos mudando algumas músicas do repertório dos shows, com músicas do novo trabalho. Todos sabem que houve uma mudança na cena do Brasil e que o público mudou, a galera ta renovando e nós, bandas, temos que convencer o público que realmente vale a pena curtir o show e comprar um CD. Se o cara não gostar não tem jeito, siga a sua caminhada, pois o underground é assim mesmo. Os ajustes são sempre ter humildade na hora das críticas e saber que o público sempre tem razão.

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Whiplash.Net: Neste sentido, temos bandas excelentes, mas o Brasil dificilmente revela nomes para o cenário internacional. O público parece estar estagnado no Sepultura, Angra e Krisiun, simplesmente não há sinais de renovação... A que se deve isso?

Kbça: Puta merda! São bandas que fizeram história e não tem como tirar isso delas, mas quem manda é o público! Temos Korzus, Violator, Torture Squad, bandas que são bem conhecias fora do país, e fora as outras que não citamos. Agora, como falar para o público escutar o som de outra banda? O tempo mudou bastante. Na época dessas bandas aí, a melhor banda era à que mais vendia discos, se ganhava dinheiro com disco. E hoje? Downloads, CD de graça na compra de ingresso de show ou então preços irrisórios, às vezes somente pra cobrir o gasto do próprio CD para a banda. Os produtores têm que abrir espaço para colocar as bandas das suas cidades para abrir para as grandes bandas, e quem sabe o público comece a gostar de mais bandas diferentes e voltar a comparecer nos eventos. Isso somente com empenho de ambas as partes. As bandas têm que fazer sempre o seu melhor e conquistar seu espaço, o que não é fácil (risos).

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Whiplash.Net: Pessoal, o Whiplash.Net agradece pela entrevista desejando boa sorte ao Bruto. Se houver algo que queiram de acrescentar, a hora é agora, ok?

Kbça: Muito obrigado pelo espaço que vocês do Whiplash sempre dão às bandas independentes. E, avisar para os produtores que o BRUTO está bem a fim de tocar em outros estados, e mostrar que fazemos um som Bruto (risos). Conheça nosso myspace (www.myspace.com/brutodf) e facebook (https://www.facebook.com/BRUTODF). Valeu, muito obrigado. E esperem que a nova música com o vídeo-clip vem aí! "Vai tomar no Cú, Pau No Cú".

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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