Lancelot Lynx: entrevista com a banda no Rock's File
Por Jhon Olliver
Fonte: Rock's File
Postado em 09 de outubro de 2011
Para abrir com chave de ouro o nosso projeto de divulgação de bandas independentes, entrevistaremos a banda Lancelot Lynx. Alguns fatos curiosos são que a banda é Irlandesa, mas é composta por um brasileiro, um eslovaco e um polonês. A banda foi formada em 2005, na Irlanda, porém se chamava Mata Hari, o nome só veio ser mudado para Lancelot Lynx em 2009, na mesma época que a banda deixou de apenas fazer covers para fazer suas próprias composições. De certa forma essa é uma banda que tem feito uma diferença sonora na Europa, pois faz um som bem mais tradicionalista do que o habitual na região (as músicas para ouvir e download estão no fim do post). Para que vocês conheçam mais sobre essa excelente banda, hoje o Rock’s File entrevistará o frontman do grupo, o brasileiro Beto Kupper (Vocal, Baixo e Composição).
Rock's File: Beto, primeiro gostaríamos que nos contasse um pouco sobre a formação da banda desde seus primórdios até os dias atuais. Os membros que passaram pela banda, os que continuam e os seus respectivos períodos, datas, etc...
Beto Kupper: No começo a banda se chamava Mata Hari e na realidade a primeiríssima encarnaço da banda se deu em Sao Paulo em 1992 com o guitarrista Alexandre (Blackmore) Gonçalvez e o baterista William (Yan Kao) Carmo, e que acabou no mesmo ano. Entre 1993 até 1999 eu estava trabalhando com outros projetos e só retomei a ideia de usar o nome "Mata Hari" em 2000 quando começamos como uma banda de cover de Classic Rock. Durante esses cinco anos de atividade eu tive a imensa sorte de tocar com os melhores músicos de São Paulo. Grandes guitarristas como Mello Jr., Marcio Alvez, Ciro Visconti, só pra citar alguns. Alem de super bateristas como Guga Camargo, Macerlo Camarero e Rapahel Rosa tambem passaram pelo grupo. Quando eu remontei a "Mata Hari" aqui na Irlanda em 2006, musicos muito bons passaram pela banda, como os guitarristas Patrick O'Sullivan, James Barron e Colm Cahill que foi quem gravou as guitarras no EP antes de deixar sua vaga para o atual membro o guitarrista polonês Michael Kulbaka. Meu primeiro baterista irlandês foi um músico medíocre chamado Paul Shortt que foi rapidamente substituido pelo atual batera eslovaco J-Roz.
RF: Desde o começo o nome "Lancelot Lynx" me despertou certa curiosidade. O que ele realmente significa e de quem foi a ideia desse nome?
BK: Tanto o nome "Lancelot Lynx" quanto o antigo nome "Mata Hari", vieram de um programa de TV semanal que passava no Brasil nos anos 70 para crianças chamado Lancelot Links (The Secret Chimp) em que chipanzés ensinados eram os personagens numa trama que misturava 007 com música psicodélica hippie. Existem alguns episódios online no youtube. Quem tem mais de trinta anos deve se lembrar.
RF: Conte-nos porque se mudou para a Irlanda. O cenário do rock brasileiro não estava atendendo às suas expectativas? Você tinha alguma banda ou projeto no Brasil?
BK: Como já citado anteriormente eu toquei com grandes músicos no Brasil desde o final dos anos 80 até 2005 quando vim para cá. E apesar de ter tocado nas melhores casas noturnas, rádios de Rock e alguns festivais, eu nunca tive o apoio dos meus companheiros de banda para compor um trabalho próprio. E toda vez que eu tomava uma iniciativa, os demais integrantes não demonstravam interesse, ou pareciam não acreditar num projeto de música própria e a coisa nunca saia do papel. Além da falta de lugares para apresentar música própria, especialmente Hard Rock e Heavy Metal em inglês. Ou seja, músicos profissionais, mas que nao acreditam em composição. Isso é triste, para não dizer lamentável.
RF: O que te fez abandonar esses projetos para procurar uma carreira musical em outro continente? E valeu à pena?
BK: Evidentemente o descrédito dos músicos, unidos com a falta de perspectiva em compor e tocar shows ao vivo para uma platéia interessada fez com que ir para outro país fosse uma idéia bastante interessante. Além do que o Brasil culturalmente falando está, desde os anos 90, numa decadência franca e eu não vejo como a situação possa piorar. Bandas boas de metal brasileiras tocam Power Metal ou Death Metal, e esses não são a minha praia. Queria tocar Metal Clássico e não vi perspectivas pra tanto no Brasil. Se valeu à pena? Ouçam o nosso EP e me digam. Se vocês gostarem, pra mim já valeu a pena!
RF: Ao chegar à Irlanda, como foi o processo para formar a banda? Você teve dificuldades? Referindo-me à parte de adaptação. Pois, cada um dos membros é de uma nacionalidade diferente.
BK: A minha dificuldade de se adaptar foi a mesma a dos demais integrantes que não são nascidos aqui. Nos primeiros meses é dificil, a gente passa por um período forçado de voto de silêncio pois não podemos nos expressar com a mesma desenvoltura de que em nosso país de origem, mas com o passar dos anos a gente vai se adaptando, um dia de cada vez, controlando a saudade, trabalhando, rezando e cultivando novos relacionamentos. Ficamos mais humildes e vemos o quanto coisas que consideramos irrelevantes sao na verdade essenciais.
RF: Como é o cenário do rock na Irlanda? Suas expectativas foram atendidas quanto ao que você esperava?
BK: Eu tinha uma imagem de que a Irlanda fosse um celeiro de grandes bandas e grandes músicos, mas se isso existiu mesmo, deve ter ficado no passado. Em setembro de 2005, quando comecei a frequentar as casas de shows, eu fiquei muitíssimo decepcionado com a qualidade das bandas e dos músicos. Eu ainda estava com minha passagem de volta marcada e por muito pouco que eu não voltei. Ainda mais porque no Brasil, com a minha banda Mata Hari, eu tocava com os melhores músicos de São Paulo. Resolvi ficar e ver o que o destino me proporcionava. A falta de músicos capacitados ainda é um problema. Se não fosse o forte apoio do baterista eu provavelmente já teria desistido. No momento estamos procurando por um segundo guitarrista, pois o line-up ideal para nosso som é com dois guitarristas. Mas achar músico bom por aqui não é tarefa fácil.
RF: Uma vez você citou que Michal Kulbaka seria o primeiro guitarrista não-irlandês do Lancelot Lynx. Há algum motivo para esta dificuldade em encontrar bons músicos na Irlanda?
BK: Esse é o outro lado da moeda. Os irlandeses hoje em dia, levam uma vida fácil se comparado com as antigas geraçoes que foram bem sofridas. Essa nova geração atual não tem a garra de lutar por nada. Qualquer dificuldade eles largam o barco, pois não têm a noção do que é lutar por um objetivo. Isso se dá desde a falta de esforço em aprender o instrumento até a indisposição em sair para "ralar" com a banda. Os cidadãos oriundos do leste europeu, pelo contrario, são pessoas sofridas que sairam de seus paises destruidos pelo comunismo e carregam enorme cicatrizes. Sofrimento se bem direcionado pode gerar bons frutos artistícos, mas da indolência e preguiça nao se tira nada.
RF: Defina o estilo musical do Lancelot Lynx. No que o som de vocês se diferencia não só das bandas locais como também da Europa em geral?
BK: Nós tocamos Hard Rock e Heavy Metal tradicional. Uma rádio de Londres nos definiu como Classic Metal e eu achei conveniente. Enquanto as bandas de rock tendem a seguir um caminho radical elas acabam por se tornar das duas uma, ou extremamente pesada/gutural ou extremamente complicada com muitas passagens complicadas e virtuosismo exagerado. Difícil achar na Europa uma banda que faça o som que nós fazemos. Atualmente as bandas são de som extremo gutural ou tem influencia de New Metal, Post-Punk ou Emo. Nós somos mais tradicionalistas e não queremos perder a melodia e o groove do Heavy Metal original e suas influências. Nós temos por filosofia nos concentrar na música e fazer o melhor para que a música tenha um reflexo no ouvinte. Não deixamos que a vontade de tocar rápido ou complicado sobreponha o cuidado em compor cada parte da música. Resumindo, a gente toca o suficiente para o que o recado seja dado. Nem mais, nem menos.
RF: A discografia do Lancelot Lynx até agora conta com apenas um EP autointitulado. Poderia nos contar como foi o processo de composição, gravação, mixagem e lançamento desse EP?
BK: Em 2008 nós alugávamos um container de navio para usar como estúdio, e ensaiávamos num frio abaixo de zero. Às vezes estava mais frio dentro do que fora do container por ele ser todo de metal. Forramos o container com caixa de ovos e levamos sofás velhos que estavam pro lado de fora das casas, cortinas velhas e mais um monte de lixaria. Instalamos pontos de eletricidade e até que ficou bem simpático, apesar de não ter banheiro. O processo de composição foi simples. A gente começava a trabalhar em cima de riffs que estavam a tempos na minha cabeça. Trabalhávamos em três, quatro músicas ao mesmo tempo, tocando o mesmo riff centenas de vezes até surgir outra ideia e ir desenvolvendo. Às vezes a gente ficava três meses num riff só pra ver que de fato não funcionava. Mas é assim que se compõe. Muito trabalho, muita experimentação e uma boa dose de boas influências e talento natural. Eu e o baterista temos uma simbiose muito boa mesmo que a gente parta pra porrada quase que todo ensaio (risos)! Em 2009 nós saímos do container para um depósito (ainda sem banheiro), mas já estávamos com um computador Apple (Pro Tools), microfones melhores e começamos a gravar. J-Roz foi o responsável por toda a gravação e produção. Levamos meses para terminar todos os tracks e por fim levamos para mixar profissionalmente em Dublin em outubro de 2010.
RF: Também foi citado uma vez que a formação do Lancelot Lynx ainda não está completa, pois mais um guitarrista é necessário para fazer o line-up perfeito para o som da banda. De que forma você acredita que isso mudaria o som da banda?
BK: Não irá mudar o som da banda, mas pelo contrário, adicionar outro guitarrista vai fazer a banda soar mais fiel às gravações de estúdio, onde varios tracks de guitarra foram gravados e reproduzir isso ao vivo ficará mais natural com outro guitarrista, afinal para os shows ao vivo adaptamos para uma guitarra o que foi originalmente composto para duas.
RF: Cite algumas das influências do Lancelot Lynx ao compor suas músicas. Alguma vez vocês tentaram se assemelhar ou "soar como a banda tal"?
BK: Eu não tento soar como banda X ou Y intencionalmente, mesmo que isso seja inevitável, afinal música inspira música. Mas eu diria que Thin Lizzy é, não somente minha maior influência como tambem de onze entre dez bandas no mundo inteiro, entre estas, Iron Maiden, Guns N' Roses, Metallica, Megadeth só para citar as mais famosas. Não dá pra medir o quão influente o Thin Lizzy é no Hard Rock e Heavy Metal, desde o começo dos anos 80 até hoje, no mundo inteiro. Quando eu componho, eu tento seguir meus instintos e focar no que a música pede no momento. Além disso, as influências mais modernas são do baterista J-Roz que culminaram no EP que está ai disponível pra vocês ouvirem e avaliarem. Minhas bandas prediletas alem de Lizzy, são Kiss, Megadeth, Iron Maiden antigo, Deep Purple, Dio, etc.
A entrevista na íntegra pode ser lida no Rock's File no seguinte link:
http://rocks-file.com/2011/09/entrevista-especial-lancelot-lynx.html
Nesta mesma entrevista também estão incluídas as músicas da banda para ouvir e para download (autorizado pela banda), as letras das músicas e as informações sobre o sorteio do EP da banda no blog Rock's File.
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