Deixando o Batushka no passado, Patriarkh lança obra conceitual baseada na vida de profeta
Resenha - Prorok Ilja - Patriarkh
Por Mário Pescada
Postado em 04 de abril de 2025
Nota: 8 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
A briga em torno do nome Batushka se tornou uma das maiores tretas do black metal, do quilate de Cronos vs. seus ex-companheiros de Venom. Iniciada em 2019 e com sentença dada em 2024, Bartłomiej "Bart" Krysiuk (Варфоломией) perdeu todos os direitos sobre o nome Batushka para Krzysztof "Derph" Drabikowski (Христофор). Poucos meses após a decisão judicial que ainda cabe recurso, ele lança pelo Patriarkh o álbum "Prorok Ilja" (2025), uma obra conceitual sobre a vida de Eliasz Klimowicz, o profeta Ilja (ou Elias).

Klimowicz foi uma figura cercada de religiosidade, fanatismo e mistério. Tudo começou com um sonho, onde recebeu a missão de construir uma igreja. Com o tempo, começaram a circular boatos a respeito de suas curas e profecias, atraindo seguidores que passaram a tratá-lo como "a reencarnação do profeta Ilja". Essa fama crescente criou problemas com seu antigo aliado, o clero Ortodoxo, que passou a atacá-lo de "herege, blasfemador e falso intérprete da bíblia", razão pala qual ele começa então a se afastar da igreja Ortodoxa e se aproximar mais da Católica.
Seus seguidores continuavam indiferentes as críticas e polêmicas, suficiente para que as autoridades locais considerassem haver ali uma "psicose religiosa". O número de fiéis se torna tão grande que Klimowicz funda então um vilarejo só para seu povo, uma espécie de "nova Jerusalém", chamada de Wierszalin (mesmo nome de todas as músicas do disco).
O que teria acontecido com Klimowicz é um mistério, mas é provável que seu fim não tenha sido grandioso igual ao do profeta Elias, que, de acordo com a Bíblia, foi conduzido ao céu em um redemoinho de fogo. Não há evidências, mas acredita-se que ele tenha desaparecido no começo da Segunda Guerra Mundial após a invasão soviética na Polônia, em setembro de 1939. Ele pode ter sido executado como tantos outros poloneses, preso e condenado a trabalhos forçados na Sibéria ou mesmo fugido para o interior do país. Toda essa aura misteriosa em torno do seu nome faz com que ainda hoje alguns povoados mais afastados do interior da Polônia se lembrem e reverenciem a imagem e obra de Klimowicz.
Chegamos então enfim a "Prorok Ilja" (2025), uma obra igualmente complexa. Dá para perceber uma mudança no som do Patriarkh em relação a "Hospodi" (2024), que nessa época nem era um grupo, mas uma dupla. Agora em "Prorok Ilja" (2025) temos uma banda completa, incluindo três guitarristas, corais e o excepcional baterista Лех (ex-Hate, ex-Vader e passagem por inúmeras bandas polonesas), além de instrumentos folclóricos típicos poloneses, como talharpa, bandolim, bandoloncelo, hurdy gurdy (espécie de sanfona) e dulcimer de cordas.
Há quem diga que o som do Patriarkh se tornou tão peculiar por causa de tantos corais e instrumentos diferentes que o grupo não seria black metal, mas neo dark folk e outras derivações afins. Cuidado com os falsos profetas! O extremismo do black metal continua presente sim, seja na voz áspera de Варфоломией, seja na bateria brutal de Лех, vide "Wierszalin V" e "Wierszalin VII".
As letras são baseadas em liturgias locais, contando com sons ambientes e interpretações de M. Maleńczuk (poeta, vocalista e guitarrista das bandas Homo Twist e Psychodancing recitando falas que seriam de Klimowicz), o que funcionou muito bem. Mais melódico do que seu antecessor, "Prorok Ilja" (2025) ainda é um disco bruto, mas extremamente agradável de se ouvir - desde que você não se incomode com tantos corais. "Wierszalin III" tem um clima grandioso, graças as vozes mais graves; o ponto alto do disco, "Wierszalin IV" é mérito da participação de Eliza Sacharczuk (cantora e professora de canto) e "Wierszalin VIII" traz uma boa amostra de tudo que foi feito no disco.
Sei que parte dos fãs do Batushka nem vão se dar ao trabalho de ouvir "Prorok Ilja" (2025) e ainda assim dizer que lhes falta criatividade, que Bart é um ladrão de ideias e afins. Coisas de fãs. Não foi a primeira e nem vai se a última banda a viver uma disputa assim, mas, ao conforme declaração de Bart, o Patriarkh não está nada preocupado com esse tipo de receptividade negativa e segue lançando vídeos muito bem-feitos e fazendo apresentações ao vivo que são de encher os olhos por conta dos trajes religiosos, velas, incensos, painéis, etc.
Disponível no Brasil pela parceria Shinigami Records com a Napalm Records, "Prorok Ilja" (2025) ganhou uma edição caprichada: CD slipcase com três painéis, um encarte muito bem-feito que contém letras das músicas e bonitas fotos em preto e branco de Klimowicz e de moradores locais (a ficha técnica é que ficou inviabilizada de ler, já que saiu no idioma local).
Formação:
Лех: bateria
Монах Тарлахан: guitarra
Монах Борута: guitarra
Архангел Михаил: guitarra
Хиацынтос Яца: coros
Язычник: coros
Варфоломией: vocais
Faixas:
01 Wierszalin I (intro) feat. M. Maleńczuk
02 Wierszalin II
03 Wierszalin III feat. Adam Strug e M. Maleńczuk
04 Wierszalin IV feat. Eliza Sacharczuk
05 Wierszalin V
06 Wierszalin VI
07 Wierszalin VII
08 Wierszalin VIII
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Fabio Lione anuncia turnê pelo Brasil com 25 shows
A faixa do Iron Maiden que ficou com 5 minutos a mais do que eles imaginaram
Ritchie Blackmore aponta os piores músicos para trabalhar; "sempre alto demais"
O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
A performance vocal de Freddie Mercury que Brian May diz que pouca gente valoriza
O álbum clássico do Iron Maiden inspirado em morte de médium britânica
A música que surgiu da frustração e se tornou um dos maiores clássicos do power metal
Turnê atual do Dream Theater será encerrada no Brasil, de acordo com Jordan Rudess
O baterista que Phil Collins disse que "não soava como nenhum outro", e poucos citam hoje
A música do Machine Head inspirada em fala racista de Phil Anselmo
Os "pais do rock" segundo Chuck Berry - e onde ele entra na história
A banda mais insana ao vivo para Jack Black, pois os caras alopravam no palco
Mark Morton, do Lamb of God, celebra sobriedade e explica por que ainda aborda o assunto
O rockstar que Brian May sempre quis conhecer, mas não deu tempo: "alma parecida com a minha"
Shows não pagam as contas? "Vendemos camisetas para sobreviver", conta Gary Holt

Edguy - O Retorno de "Rocket Ride" e a "The Singles" questionam - fim da linha ou fim da pausa?
Com muito peso e groove, Malevolence estreia no Brasil com seu novo disco
"Opus Mortis", do Outlaw, é um dos melhores discos de black metal lançados este ano
Antrvm: reivindicando sua posição de destaque no cenário nacional
"Fuck The System", último disco de inéditas do Exploited relançado no Brasil
Giant - A reafirmação grandiosa de um nome histórico do melodic rock
"Live And Electric", do veterano Diamond Head, é um discaço ao vivo
Slaves of Time - Um estoque de ideias insaturáveis.
Com seu segundo disco, The Damnnation vira nome referência do metal feminino nacional


