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Scorpions: encarando o fogo e se queimando com ele.

Resenha - Face The Heat - Scorpions

Por Pedro Henrique Aragão
Postado em 30 de julho de 2023

O grupo teutônico Scorpions, que irrompera a década de 1990 com o excelente "Crazy World" e seu mega hit mundial "Wind of Change", agora se encontrava quase na metade dos anos 90 tendo um grande desafio pela frente: se manter relevante num cenário onde o grunge tomava de assalto a cena roqueira. Lançado em 21 de setembro de 1993, Face The Heat era sua aposta para tal intuito.

Não bastasse a queda de popularidade das bandas de hard rock, outros desafios acompanhavam os alemães: seria este o primeiro álbum sem o baixista de longa data, Francis Buchholz, substituído aqui por Ralph Rieckermann; além disso, este seria o último disco com o baterista e um dos principais compositores da banda Herman Rarebell; novamente houve mudança na produção, quem assinava junto com a banda era o produtor Bruce Fairban. Vamos à bolacha.

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A primeira música e primeiro single escancara a situação da banda no momento em questão: indefinição! "Alien Nation" passa longe de ser uma música ruim, muitíssimo pelo contrário. Aqui está o dna mais pesado do Scorpions: um riff avassalador combinado com um arranjo de guitarra que dará a linha melódica da canção; e temos ainda arranjos poucos usuais no som da banda, logo depois da primeira estrofe surge um teclado sintetizado que acrescenta densidade a música, destaca-se também o baixo classudo do novato Rieckermann e como sempre os solos desesperados de Jabbs. Entretanto, a escolha desta música como single escancara a indefinição. Escolher um som tão pesado como carro chefe, sendo que seu último single havia sido a esperançosa "Wind of Change", pareceu no mínimo arriscado; ainda mais se levarmos em conta que é uma banda alemã cantando sobre uma "Nação alienígena", confesso que tenho calafrios quando lembro dessa associação, mas acredito que seja minha formação em História que dê essa sensação. Não obstante, parecia que o Scorpions queria quebrar o elo com o lado mais festeiro da banda e abraçar seu status político, e assim se manter relevante frente ao grunge.

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"No Pain No Gain" segue a mesma linha, cadência e peso mostrando um Scorpions bem mais metaleiro aliado a uma letra "marombeira" de superação e força. Someone to touch devolve o suingue no som e a ousadia nas letras, um autêntico hard rock bem ao estilo Scorpions de fazer música. Sempre achei seu refrão um pouco glam demais, muito pop por assim dizer.

A próxima canção, "Under The Same Sun" retoma as pequenas novidades no som do grupo, logo na introdução ouvimos as guitarras dividindo espaço com um som oriental, no pré refrão ao invés de guitarras temos violões para então culminarmos na volta das guitarras que dariam o tom da música. Longe de ser uma canção ruim, "Under The Same Sun" parece querer repetir a fórmula de "Wind of Change" (que possuía um contexto histórico bem mais palpável), mas peca na inocência do discurso que estaria bem mais alinhado ao movimento hippie dos anos 60 ou 70; contudo, parece-nos que seria uma escolha bem mais viável que "Alien Nation" para single do disco, porém a gravadora achou o contrário.

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"Unholly Alliance" é uma gêmea siamesa da primeira canção do disco, peso e solos esvoaçantes aliadas a uma letra bastante política, mas desta vez sem margens de dúvidas que se trata de uma letra anti nazi. O Scorpions é muito famoso por seus refrões grudentos de apelo pop, mas neste disco eles parecem um pouco infantilizados, bobos até. Mas cadê a balada de amor tão cara aos alemães? Para quem esperou uma "Still Loving You" ou até mesmo uma "Always Somewhere" teve um susto, ficou mesmo foi com "Woman". Licks curtos de guitarra se juntam a um arranjo de cordas em cima duma cama de teclado por quase um minuto antes que seja ouvida a voz de Klaus Meine, a canção desnecessariamente longa como sua introdução, até ganha uma grandiosidade no refrão através das guitarras, mas tudo parece muito grandiloquente e pretensioso.

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O disco segue sem muitos alardes, "Hate To Be Nice" caberia facilmente no som que os germânicos fizeram na primeira metade dos anos 2000, principalmente em "Unbreakable". Já "Taxman Woman", "Ship Of Fools" e "Nightmare Avenue" são tão dignas de nota quanto qualquer outra canção desconhecida do grupo. O disco acaba (Graças a Deus!) com "Lonely Nights"; vejam, outra canção que não é ruim, mas estaria bem melhor no disco "Humanity". Para quem fechou discos com "Still Loving You", "When The Smoke Is Going Down" e "Send me Angel"; "Lonely Nights" com sua introdução baseada em violões e seu refrão insistindo em arranjos de cordas para parecer grandiosa, fica atrás até mesmo da pouco lembrada "Believe In Love" (eu adoro essa música).

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Em suma, não é um disco ruim, mas passa longe de empolgar alguém. Temos aqui novidades como o uso de teclados e de arranjos de cordas, que falham em deixar o disco grandioso, mas acertam em cheio em deixá-lo bastante pretencioso e maçante. Não obstante, apesar de ter vendido bem no mundo, não ganhou nem disco de ouro nos EUA, representando o fim da fase mais popular da banda. O alijamento do baterista Rarebell das composições do disco explica em parte a falta de rocks mais vigorosos, uma vez que ele notadamente era o membro mais festeiro para dizer o mínimo; talvez a ascensão do grunge tenha feito os germânicos pensarem que não caberia mais fazer simplesmente rock’n’roll e apostassem no som mais pesado e em letras mais maduras. Fato é que a partir deste disco, o Scorpions entraria numa fase criativa bastante conturbada e de gosto bastante duvidoso; excetuando o bom Unbreakable, os alemães só conseguiram lançar um disco bom e coeso na segunda metade da 2010.

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Sobre Pedro Henrique Aragão

Bancário, estudante de administração e um apaixonado por Rock n'Roll. Amante do Hard Rock de bandas como Scorpions,Led Zeppelin e Guns n'Roses; não dispensa o Rock nacional de bandas como Legião Urbana, RPM, Engenheiros do Hawaii, Matanza e Cachorro Grande.
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