The Killers: O amadurecimento sem a perda de sua essência
Resenha - Pressure Machine - Killers
Por Beatriz Valentim
Postado em 04 de setembro de 2021
Nota: 10
Ainda sem poder sair de turnê com seu último álbum "Imploding The Mirage", a banda norte-americana The Killers entra em contraposto ao lançar um trabalho menos pop e dançante nomeado "Pressure Machine". E ainda contou com o retorno do guitarrista Dave Keuning aos estúdios após a sua saída por questões pessoais.
Diferente desse, o álbum já aborda uma realidade do cotidiano de uma cidade pequena onde Brandon Flowers nasceu e viveu chamada Néfi no estado de Utah. Se você curte músicas que contam histórias vai adorar, pois é recheado de contos pessoais, pesares, tragédias locais. Parece fruto do resultado da inquietude por conta da pandemia que possibilitou Flowers a ter mais pensamentos sobre seu passado e questões existenciais.
De cara nota-se que é um disco melancólico pela arte da capa que é a fotografia com cores bastante frias de uma rodovia da cidade, e de fato, isso é provado pelos vocais descoloridos do vocalista, os títulos e composições musicais que trazem uma certa reflexão juntamente com relatos feitos e gravados por moradores impregnados nas canções. Um grande passo para a maturidade da banda e de seu próprio frontman, mas sem perder a sua essência ao se assemelhar a alguns trabalhos passados, como "Sam's Town (2006)"
"West Hills" nos introduz com um violão expressivo, que até quem não curte muito violões, se sente tocado por suas cordas sombrias, campestres e um piano taciturno e calmo. A sonoridade é persuasiva, soturna e pesada ao estilo Bruce Springsteen, acompanhada de um vocal tristonho onde canta sobre esperanças perdidas, faltas de novas vivências e experiências com a incremento de sons do violino.
"Quiet Town'' dá a entender que existe uma ironia do seu título e refrão em comparação a narrativa contada. Ela aborda sobre a perda da inocência de Flowers pelas tragédias que ocorrem na cidade e como seus habitantes continuavam levando a sua vida como se nada tivesse ocorrido, como o acontecimento de duas crianças terem sidos atropeladas por um trem e o frequente uso de opioides por menores de idade. Na gravação é impossível não sentir um sentimento de horror pela maneira que um homem descreve o trem no começo da canção.
O último verso que é sobre a opinião do narrador pode ser entendida que o trem pode ser a saída para a vida na qual elas levam, uma perspectiva de que as mortes podem ser mais suicidas do que acidentais. Esse trem pode ser ouvido ao final da música "The Getting By".
A sonoridade com influências do country, especialmente pela gaita, dá um toque ainda mais importante por conta do seu sentimentalismo ali empregado.
"Terrible Thing" retrata a visão centralizada de um adolescente gay que anda pensando em suicídio. O horror é retratado de forma literal em seus versos, onde também é possível notar a deslocação do jovem à sua religião que condena a homossexualidade.
É destrutivo, pois por mais que não haja poder de escolha relacionado à orientação sexual, ainda possui muito julgamento por parte da população que faz até mesmo um indivíduo questionar sua própria vida. The Killers nunca mesmo chegou a um aprofundamento intenso desse tipo antes. Em uma entrevista à Rolling Stones (2021), Flowers afirmou:
Eu cresci com crianças que eu não sabia até anos depois que eram gays. Deve ter sido tão difícil. Acho que o mundo está se movendo em uma direção mais positiva e mais inclusiva, mas isso ainda era nos anos 90 e as pessoas mantinham isso por perto.
Flowers também comentou como a cultura da cidade afeta muito a criação das pessoas:
Anos depois do colegial, você ouve sobre um garoto com quem foi à escola que era gay e ninguém sabia. É apenas um cowboy, futebol, cidade caçadora do interior. Tentei trabalhar a experiência dessa pessoa na cidade e como deve ser difícil estar em uma cultura como essa. Nem mesmo me sentir seguro para contar a ninguém quem você é. Porque quando você era criança ou estava no ensino médio, você não tinha essa coragem, e eu não os culpo.
Em "Cody" novamente leva a banda com mais questionamentos em relação à religião e nos presenteia com solos de guitarra excêntrico e totalmente inesperado deixando um clímax convincente.
Outra música que chama a atenção é "Desperate Things" que narra a história de um policial que se apaixona por uma mulher vítima de violência doméstica e no fim acaba assassinando o marido dela. Talvez essa seja a maior aproximação de grandes contadores de histórias como Springsteen e Johnny Cash da banda.
A sonoridade no geral, como já havia comentado, difere de seu antigo disco e se aproxima de seu trabalho mais antigo "Sam 's Town" com sua instrumentação despojada que remete ao rock alternativo da década de 90 com um aspecto mais experimental.
"Into The Car Outside" é a que mais se aproxima de obras passadas, com seus arranjos alegres e linhas de baixo distintas e um delicioso solo de guitarra rematando a canção, onde canta sobre como a promessa de morte obriga o eu lírico a perseguir o amor verdadeiro antes que seja tarde demais.
É sombrio, lúgubre, contemplativo, denso e esperançoso. Suas composições são as maiores estrelas acompanhadas de seus arranjos alternativos-folk-country sutis. É imprescindível deixar de citar 'Runaway Horses' onde o vocal de Phoebe Bridgers se encaixa perfeitamente de forma doce e suave. O simbolismo fresco presente é mais intenso que qualquer coisa que a banda havia feito antes, é excêntrico no bom sentido. Não é algo para ser tocado e ouvido em estádios e sim em seus fones de ouvidos, aproveitando ainda mais a experiência única que o disco proporciona com sua profundidade lírica de grande magnitude.
Formação:
Brandon Flowers (Vocal)
Dave Keuning (Guitarra)
Mark Stoermer (Baixo)
Ronnie Vannucci Jr. (Bateria)
Tracklist:
01 - West Hills
02 - Quiet Town
03 - Terrible Thing
04 - Cody
05 - Sleepwalker
06 - Runaway Horses (ft. Phoebe Bridgers)
07 - In The Car Outside
08 - In Another Life
09 - Desperate Things
10 - Pressure Machine
11 - The Getting By
Gravadora: Island Records
Duração: 51 minutos e 22 segundos
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