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Mark Fry: O Folk Rock é menos comentado do que a maioria dos estilos, mas não menos prestigiado

Resenha - Dreaming With Alice - Mark Fry

Por Rafael Lemos
Postado em 02 de dezembro de 2019

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

Menos comentado do que a maioria dos estilos, mas não menos prestigiado, é o Folk Rock. O gênero possui um número impressionante de músicos excelentes com pouco sucesso, esquecidos com o tempo, onde temos o exemplo do Mark Fry.

O músico prodígio nasceu em Epping, no distrito de Essex, na Inglaterra, no ano de 1952, cuja família de artistas descende dos fundadores da empresa Quaker. Próximo a completar os seus 20 anos, gravou "Dreaming With Alice", em 1972. Mas o envolvimento de Fry com as artes vai além da música. Em 1966, ele estudava em uma escola chamada Dartington Hall, onde se envolveu com pinturas e a mais variada experiência musical que a época podia lhe proporcionar, ouvindo os principais grupos do período com os amigos. Foi nessa escola que ele estudou violão clássico, violoncelo e, como era de se esperar, montou uma banda escolar, que rapidamente se dissolveu. Foi provavelmente nesses anos que ele compôs algumas músicas que estariam futuramente no álbum "Dreaming With Alice".

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Em 1970, Fry estava mais interessado em dar continuidade aos estudos de pintura e foi estudar em Florença, na Itália, na Accademia Delle Belle Arti, Mesmo tendo aula com o futurista Primo Conti, essa primeira experiência na Itália não foi produtiva, pois Florença passava por momentos conturbados e até mesmo a universidade raramente tinha aulas. Assim, ele resolveu retornar à Inglaterra no ano seguinte, onde continuou a pintar e voltou a tocar violão em casa.

Certo dia, uma amiga familiar chamada Laura Papi o ouviu tocar e cantar e notou qualidade em suas músicas. Ela tinha contato com um ator chamado Franc Leo, que morava em Roma e que, por sua vez, tinha contato com pessoas importantes da gravadora RCA. Assim, Leo conseguiu uma audição para Fry na RCA local, motivo pelo qual ele se mudou para Roma. Dessa forma, ele assinou um contrato por dez anos com a It Dischi, que era a subsidiária da RCA em Roma. Leo também o apresentou a importantes cineastas, como Pasolini, Fellini e outros que estavam em seus auges criativos, gravando na Itália naqueles tempos. Fry chegou a ser convidado para entrar em uma academia de teatro, mas estava envolvido com a música e recusou a proposta.

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Em 1972, Fry iniciaria as gravações do álbum "Dreaming With Alice", cujas músicas já estavam todas prontas, pois eram as que eles já havia composto há anos. A própria It Dischi disponibilizou alguns músicos de apoio para Mark Fry, cuja única informação que temos sobre eles é que eram todos escoceses, pois Fry não recorda os seus nomes (tanto que não há informações sobre quem tocou os instrumentos no encarte do álbum). O disco demorou algumas semanas para ser concluído em um estúdio bastante precário e com problemas de isolamento acústico.

Antes do lançamento, a RCA o apresentou a Lúcio Dalla, um dos mais famosos cantores de música pop italiana, que estava precisando de músicos de apoio para uma pequena tour ao sul da Itália, onde estava fazendo muito sucesso e era visto como uma lenda. E assim Fry foi tocar com ele nesses shows, onde pode apresentar uma das canções que estaria no álbum, "Lute and Flute", em um momento de descanso de Dalla nas apresentações.

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Porém, Fry estava desapontado com a sua carreira na Itália e resolveu voltar para a Inglaterra, visto que nada parecia acontecer. Nisso, "Dreaming With Alice" foi lançado apenas na Itália, em poucas cópias, sem nenhuma divulgação por parte da gravadora e sem nenhum show realizado. É claro que o disco não vendeu quase nada e não fez sucesso algum, sendo difícil de ser encontrado já naqueles tempos. O próprio Mark Fry recebeu algumas poucas cópias na Inglaterra, pelo correio. A It Dischi havia perdido o interesse em Mark Fry. A capa original era para ser uma imagem inteira de Fry com seu amigo Wilde (que o inspirou a escrever a letra de "Song to Wild"), mas a mesma foi cortada, provavelmente decepcionando ainda mais o jovem músico com o destino do seu trabalho. Além disso, a amiga Laura papi, que o incentivou a ir à Itália, faleceu antes de ver o álbum ser lançado.

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Mesmo assim, ele montou outra banda na Inglaterra, que tomou outros rumos musicais, o levando a abandoná-la (a banda continuou alguns anos sem ele).

Em 1975, Fry se mudou rapidamente para o Canadá, onde ficou por pouco tempo, indo viver em Los Angeles. Lá, ele escreveu e gravou as suas últimas duas músicas daqueles tempos, "You Make it Easy" e "Doesn’t Matter to Me If it Rains", passando a se dedicar mais a pintura, sem abandonar a composição musical (chegou a tocar com Peter Thomas, baterista do Elvis Costello). Um novo trabalho de Fry só começou a ser escrito em 2006 e gravado em 2008, seguido de outros lançamentos.

Mas foi com "Dreaming With Alice" que ele fez seu legado na música. Desconhecido pela maioria e rejeitado pela gravadora, o álbum rapidamente saiu de catálogo e suas poucas cópias sumiram do mercado. Mas o trabalho passou, ao longo das décadas, a ter interesse por parte de colecionadores de artistas obscuros dos anos 70, sendo o disco original vendido a mais de 2000 dólares no EBay no início do século XX, valor ainda maior nos tempos atuais ( o maior valor foi em 2013, quando atingiu os 4,061 dólares).

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Nessa época, Fry estava envolvido com a pintura quando um fã, Richard Morton Jack, entrou em contato e o informou sobre o valor do seu disco vendido na Internet. Nada havia sobre Fry na rede naqueles tempos e o contato se deu porque Jack soube que um tal de Mark Fry estava expondo alguns quadros na França, onde estava vivendo – que, por sorte, era o músico em questão. Com isso, novos relançamentos do álbum, em CD e em vinil, surgem até hoje esporadicamente, podendo trazer o disco aos ouvintes mais atentos e interessados em pesquisar essas obras obscuras e esquecidas do passado.

O disco é todo onírico, dando a sensação do ouvinte estar no meio de um sonho, em especial nas oito vinhetas que recebem o título do álbum. A produção precária ajudou a dar essa sensação e deu um clima ainda mais intimista ao trabalho.

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O Folk de Mark Fry tem uma alta dose de psicodelia, como notamos em "The Witch", muito influenciada pela cítara de Ravi Shankar (uma das influências que Fry tinha quando começou a escrever algumas músicas, em 1966, época que estudava na escola Dartington Hall).

O estilo calmo continua na música dedicada ao garoto que está com ele na capa do álbum, "Song for Wild", enquanto o sentimento em "Roses for Columbus" explode em uma bela e simples melodia instrumental que dá base a tímida voz.

"Lute and Flute" é uma tentativa de soar um pouco mais comercial, com belas passagens de flautas e um coral feminino que lembra um pouco aqueles corais religiosos.

"Mandolin Man" é a mais "pesada" do disco, com um solo de arrepiar, enquanto "Rethorb I'm No Horam" surgiu da ideia maluca de Fry em fazer uma gravação rodando a fita ao contrário.

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"Dreaming with Alice" é citado como influência de músicos e bandas como Belle and Sebastian, Kieran Hebden, Colleen e Plastic Crimewave, onde realmente podemos notar elementos de Fry em suas músicas.

Como se não bastasse, o álbum entrou no Top 20 da revista Record Collector’s na lista dos álbuns estranhos de Folk.

Na edição em CD de 2006, que saiu pela Sunbean Records, encontram-se como bônus aquelas duas músicas raríssimas gravadas em Los Angeles, em 1975, tão belas e calmas como as demais compostas por ele.

Faixas:
01- Dreaming With Alice (verse 1)
02- The Witch
03- Dreaming With Alice (verse 2)
04- Song for Wild
05- Dreaming With Alice (verse 3)
06- Roses for Columbus
07- A Norman Soldier
08- Dreaming With Alice (verse 4)
09- Dreaming With Alice (verse 5)
10- Lute and Flute
11- Dreaming With Alice (verse 6)
12- Down Narrow Streets
13- Dreaming With Alice (verse 7)
14- Mandolin Man
15- Dreaming With Alice (verse 8-9)
16- Rethorb I'm No Horam

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Bonus:
17- You Make It Easy
18- Doesn’t Matter To Me If It Rains

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Sobre Rafael Lemos

Rafael Lemos começou a gostar de Heavy Metal, Hard Rock e Progressivo em 1991, sem influência de ninguém, realizando pesquisas sobre as bandas.
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