Whitesnake: Flesh and Blood tem duas formas de ser avaliado
Resenha - Flesh and Blood - Whitesnake
Por André Toral
Postado em 01 de julho de 2019
Deve ser muito difícil para um artista ter que conviver com o passado, ainda mais quando este passado é glorioso e tem como paradigmas álbuns como "Slade It In", "Trouble", "Love Hunter", "Saint & Sinners", "Ready an’ Willing", "Come an’ Get It" e "1987".
Por isso, "Flesh and Blood" tem duas formas de ser avaliado.
A primeira no contexto do verdadeiro e único Whitesnake que existiu nos anos oitenta, onde sua nota seria um zero enorme e bem redondo.
E a segunda como um material de qualidade, porém de uma outra banda que não o Whitesnake.
E é neste segundo caso que se enquadra esta avaliação do que deveria ser denominado "a banda solo de David Coverdale".
Evidente que "Flesh and Blood" não resgata integralmente o passado glorioso do Whitesnake, muito embora existam alguns fragmentos e tentativas bem interessantes. Mas no geral, o álbum gira em torno de uma proposta voltada para o hard rock de arena com todos aqueles refrões pomposos e destinados a levantar grandes plateias pelo mundo todo.
Diga-se de passagem, algo que pode ser facilmente creditado ao guitarrista Reb Beach que cresceu e se desenvolveu neste ambiente oitentista e que aqui assume o posto de principal parceiro de criação ao lado de David Coverdale, após a saída do também guitarrista Doug Aldrich em maio de 2014.
Aliás, a dupla Reb Beach e Joel Hoekstra (Ex-Night Ranger e Trans-Siberian Orchestra) consegue um resultado muito superior a "Good To Be Bad" e "Forevermore", focando suas guitarras em riffs marcantes, bases pesadas e solos técnicos e cheios de feeling que caracterizam ainda mais a sonoridade oitentista e AOR do álbum.
Enquanto músicas como "Good To See You Again", "Always & Forever" e "Trouble Is Your Middle Name" tentam resgatar parte do passado glorioso do Whitesnake de forma decente, outras como "Gonna Be Alright", "Hey You (You Make Me Rock)", "Flesh & Blood", "Well I Never" e "Heart Of Stone" mantém uma pegada decididamente calcada no hard rock de arena e no próprio AOR.
Mas nem tudo é perfeito, pois "Flesh and Blood" perde força em duas situações.
A primeira na música carro-chefe comercial do álbum, ou seja, "Shut Up & Kiss Me", que representa tudo de ruim e vergonhoso que foi o hard rock nos anos oitenta: alegrinho, sensual, sexy e com aquele refrão ridículo, repetitivo e pior que o hair metal dos anos oitenta.
E a segunda no excesso de músicas, pecado que atualmente acomete muitas bandas. Nos anos 80, por exemplo, a maioria dos mais renomados álbuns de sucesso tinha entre 8 e 10 músicas no máximo, o que contribuía para manter um ritmo e empolgação constante, sem bruscas quedas de andamento e clima de maneira geral.
Por esse ângulo, "Flesh and Blood" poderia ter apenas 9 músicas ao invés das 13 que foram incluídas, pois músicas como "Get Up", "After All", "Sands Of Time" e a horrenda "Shut Up & Kiss Me" em nada acrescentam e agregam ao álbum.
Por fim, é digno de observação que com quase 70 anos de idade, David Coverdale está cantando bem e fez um bom trabalho, assim como o restante da banda cuja formação é a mesma que gravou o "The Purple Album" em 2015 – para quem não sabe, foi aquele álbum de covers horroroso e de mal gosto que massacrou várias clássicos do Deep-Purple.
Enfim, como resultado geral "Flesh and Blood" cumpre bem o seu papel, mas sem grandes pretensões de estar à altura de todos os clássicos que o David Coverdale, Micky Moody, Bernie Mardsen, Neil Murray, Jon Lord e Ian Paice cravaram nos anos oitenta.
Se por um lado ele não tem a mínima chance com o passado, por outro pode não envergonhar o presente.
Depende de como você perceberá "Flesh and Blood": como um álbum do Whitesnake ou como um álbum de David Coverdale.
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