Dead Kennedys: Fresh Fruit é atemporal e indispensável
Resenha - Fresh Fruit For Rotting Vegetables - Dead Kennedys
Por Mário Pescada
Postado em 05 de julho de 2018
Nota: 9 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
Estados Unidos da América, 1980: Ronald Reagan vencia a disputa pela presidência do país. Ao final da sua gestão que durou 8 anos, ficou a luta contra a "ameaça" comunista, financiamento de governos para combater a ascensão de grupos de esquerda, gastos militares bilionários e um forte apelo conservador moralista.
Dead Kennedys - Mais Novidades
Poucos meses antes da vitória de Reagan, uma jovem banda formada em San Francisco, cidade que ainda vivia a ressaca pós-hippie dos anos 60/70, lançava seu debut. East Bay Ray (Raymond John Pepperell) procurava músicos para tocar punk. Jello Biafra (Eric Reed Boucher, que adotou esse nome artístico como junção da marca de gelatina Jell-O com a região africana Biafra que sofreu uma ação militar desastrosa causando a morte de aproximadamente um milhão de pessoas) foi o primeiro a aparecer, seguido por Klaus Fluoride (Geoffrey Lyall) e pelo baterista Ted (Bruce Slesinger). Detalhe que o nome escolhido para a banda não foi uma sacada conjunta, ele foi adquirido de uma banda de Cleveland que desistiu do mesmo porque, de tão provocador, não deixava sequer que conseguissem shows.
O propósito da banda era fazer punk, mas com letras recheadas de verdades inconvenientes, provocação, sarcasmo, humor negro e ironia corrosiva. Seus músicos eram bons instrumentistas e seu vocalista era capaz de atiçar uma plateia inteira com seus gestos teatrais em cima do palco. O resultado disso tudo é um dos melhores - senão o melhor, ouso dizer - disco punk de todos os tempos: "Fresh Fruit For Rotting Vegetables" (FFFRV, 1980) do DEAD KENNEDYS.
É provável que você se sinta confrontado pelas letras da banda em algum momento. E é justamente isso que a banda queria: tirar as pessoas do senso comum, fazer elas pensarem, colocar em cheque valores pessoais. Confesso que comigo foi assim quando tinha meus 12/13 anos, por isso a admiração por esse grupo que definitivamente mudou minha visão de mundo, indo além do discurso raso de "foda-se o governo" para algo com muito mais conteúdo e profundidade.
A abertura já é um chute na canela: "Kill The Poor" descreve as maravilhas socioeconômicas causadas pela exterminação dos pobres com uso da bomba de nêutrons: uma forma legal, rápida e limpa. Pense nos benefícios: sem taxas de bem-estar para pagar, fim de favelas e cortiços, desempregados que sumiriam das estatísticas, redução das taxas de crimes, etc. Kill kill kill kill kill the poor!
"Forward To Death" é o relato sobre um mundo que te joga para baixo o tempo todo ao impor padrões de comportamento, por isso o anseio pela morte. Destaque para a linha de baixo de Klaus Flouride.
A terceira faixa, "When Ya Get Drafted", se baseia do clima de tensão da época por conta de uma eminente guerra, mas que poucos norte-americanos se preocupavam. Um sinistro solo perto do fim ajuda a dar mais clima a essa faixa que continua assombrosamente atual.
Depois de tanta tensão, a divertida (em comparação as anteriores, uma verdadeira festa) "Let's Lynch The Landlord" e seu relato dos problemas entre locador x locatário. Sério, os caras conseguiram a proeza de fazer uma música sobre isso e de uma forma que não soasse idiota.
"Drug Me" entra furiosa para lembrar o ouvinte que se trata de um disco punk, certo? Como uma metralhadora, Jello dispara: Drug me with natural vitamin C / Drug me with pharmaceutical speed / Drug me with your sleeping pills / Drug me with your crossword puzzles / Drug me with your magazines / Drug me with your fuck machines. Há uma versão matadora do SEPULTURA para essa faixa no (excelente) EP "Refuse/Resist" de 1993. Saudosos anos com Max na banda...
No sexto lugar, "Your Emotions" ataca pais, escola e igreja: apenas siga o que eles dizem, não pense por você mesmo, apenas repita tudo. Mantenha o status quo e não cause problemas, ok?
Metade do disco com "Chemical Warfare" e o relato quase fetichista sobre o roubo de gás mostarda que é lançado em um clube de golfe lotado em um sábado, enquanto mulheres posam na beira da piscina bebericando seus dry martinis. Uma das letras mais sarcásticas do DEAD KENNEDYS.
"California Über Alles" é o primeiro hit do disco. A introdução com bateria marcada e baixo pulsando já indica que boa coisa está a caminho. A música segue por uma crescente angustiante ironizando a propaganda eleitoral do então candidato a governador da Califórnia, Jerry Brown, com ganchos da Alemanha nazista (o título é uma alusão a frase Deutschland Über Alles). Termina relatando o extermínio em um campo de concentração aos opositores do já então Presidente Brown. Clássica absoluta.
Nona faixa: "I Kill Children". Segundo Biafra, essa foi a música que mais lhe rendeu dor de cabeça. Nada surpreendente, afinal, uma faixa que começa com um singelo "Deus me disse para te esfolar vivo" e depois segue por algumas variações de assassinato de crianças dificilmente passaria batida. A ideia por trás da letra é relatar uma pessoa que foi maltratada a vida inteira e se torna um serial killer de crianças para conseguir atenção. Ainda que fantasiosa, difícil justificar tal letra, mas dar satisfações nunca foi mesmo para o DEAD KENNEDYS uma prioridade.
A sequência com "Stealing People's Mail", "Funland At The Beach" e "Ill In The Head" não chega a ser ruim, mas são músicas sem grandes atrativos com relação as letras, apesar manterem o bom nível instrumental do disco.
Outro grande momento do disco fica com a penúltima faixa "Holiday In Cambodia" e sua sinistra introdução, cheia de microfonias e distorções até e entrada do baixo pulsando firme. Uma letra forte, para lembrar que a vida é muito mais dura para uns do que para outros - especialmente se você estiver no Camboja. O final Pol Pot é outra boa sacada, usaram o nome do então ditador cambojano como se fosse uma rajada de metralhadora.
"Viva Las Vegas", cover da música gravada por ELVIS PRESLEY em 1964, vem para fechar o disco em clima de festa - até hoje nãos e sabe exatamente porque a banda foi escolher justamente essa música, mas acho que quando olhamos a sua letra e a postura do DK ela caiu muito bem.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
"FFFRV" foi citado como um dos discos favoritos de gente como Kurt Cobain (NIRVANA), Billie Joe Armstrong (GREEN DAY), Rob Flynn (MACHINE HEAD), David Ellefson (MEGADETH), Jeff Hanneman (SLAYER), Scott Crouse (EARTH CRISIS), Dave Grohl (NIRVANA, FOO FIGHTERS), Duff McKagan (GUNS N´ROSES, VELVET REVOLVER) e referência para 99% das bandas punk/hardcore/crust/grind.
Por conta do alcance limitado da gravadora Alternative Tentacles (que já se chamou Tentáculos Alternativos Missão da Luz Divina, de propriedade de Jello Biafra), ele tinha de ser importado a um preço salgado. Porém, a Hellion Records relançou a bolachinha por aqui a um preço bem razoável.
"FFFRV" é uma obra-prima transformadora, dessas que tem o poder de libertar mentes que estão aprisionadas sem saber. Se você ainda não ouviu as mensagens da banda, eis aí uma boa oportunidade de começar já.
Confira a oitava e clássica faixa "California Über Alles".
Formação
Jello Biafra - vocais
East Bay Ray - guitarra
Klaus Flouride - baixo
Bruce Slesinger (Ted) - bateria
Faixas
01 Kill The Poor
02 Forward To Death
03 When Ya Get Drafted
04 Let's Lynch The Landlord
05 Drug Me
06 Your Emotions
07 Chemical Warfare
08 California Über Alles
09 I Kill Children
10 Stealing People's Mail
11 Funland At The Beach
12 Ill In The Head
13 Holiday In Cambodia
14 Viva Las Vegas
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Os álbuns esquecidos dos anos 90 que soam melhores agora
A banda com quem Ronnie James Dio jamais tocaria de novo; "não fazia mais sentido pra mim"
Download Festival anuncia mais de 90 atrações para edição 2026
A única música do Pink Floyd com os cinco integrantes da formação clássica
A música do Kiss que Paul Stanley sempre vai lamentar; "não tem substância alguma"
O melhor disco do Anthrax, segundo a Metal Hammer; "Um marco cultural"
A música lançada há 25 anos que previu nossa relação doentia com a tecnologia
O disco do Metallica que para James Hetfield ainda não foi compreendido; "vai chegar a hora"
O solo que Jimmy Page chamou de "nota 12", pois era "mais que perfeito"
Show do AC/DC no Brasil não terá Pista Premium; confira possíveis preços
Steve Morse admite ter ficado magoado com o Deep Purple
Tuomas Holopainen explica o real (e sombrio) significado de "Nemo", clássico do Nightwish
O clássico do metal que é presença constante nos shows de três bandas diferentes
Rafael Bittencourt explica por que Angra não se mudou do Brasil no auge da carreira
A inusitada homenagem de Dave Grohl ao Korn que fez banda reagir nas redes
Kiko Loureiro começou a pensar em sair do Megadeth quando marcou viagem para o Brasil
Eloy compartilha história contada por Shawn sobre a influência do Sepultura no Slipknot
Como estão os atores da "Vagabanda" de Malhação hoje em dia?

O clássico punk que fez Iggor Cavalera encarar a música pesada de outra maneira
Charlie Brown Jr.: uma experiência triste e depressiva
