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Sabbath Brazil Sabbath: mais que uma homenagem, um perfeito estudo

Resenha - Sabbath Brazil Sabbath - Brazilian Tribute To Black Sabbath

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 26 de junho de 2018

Nota: 10 starstarstarstarstarstarstarstarstarstar

Não há forma melhor que começar a obra com os Sol e Lá isolados saindo da guitarra de Daniel Boyadjian, da OBSKURE. É uma forma de mostrar a que veio tal qual o BLACK SABBATH fizera ao surgir para o mundo no final dos anos 60. E quando a banda inteira, principalmente a bateria fantástica de Mardônio Malheiros e o vocal seguro de Germano Monteiro, entram em cena, fica estabelecido que, assim como em 1970, quando aquela banda operária de BIRMINGHAN lançou seu primeiro álbum, estamos já diante de uma obra memorável. O impacto é imediato. Não deixa de ser uma faixa do OBSKURE. Pesada. Densa. Mas também não deixa de ser uma canção do BLACK SABBATH, com os elementos que um dia cruzariam o oceano e dariam origem ao próprio OBSKURE e a todas as outras 29 bandas participantes do "Sabbath Brazil Sabbath...The Brazilian Tribute to Black Sabbath", tributo só com bandas brasileiras que a gravadora inglesa Secret Service Records lança esta semana. É também a partir daqui que começamos a despejar injustiça em cima de injustiça. Seria tão possível falar muito de cada uma das bandas, ou até mais, de cada um de seus músicos, entre as que participaram deste incrível projeto, da mesma forma que é impossível contar, no espaço de uma resenha, sobre cada banda que foi importante no desenvolvimento do estilo criado por aquela banda nascida em 1968. Sequer há espaço para citar cada um dos cerca de 40, entre oficiais e convidados, que integraram o BLACK SABBATH. Então, avisados estamos. Seremos injustos. Sigamos em frente.

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Depois de outra excelente versão, agora para "Children of The Grave", pela LEVIAETHAN, vem um dos aspectos que ficam mais aparentes no "Sabbath Brazil Sabbath", o resgate de fases menos conhecidas do BLACK SABBATH. Embora tenha lançado bons discos (e os fãs mais die-hard hão de concordar comigo), Tony Martin jamais chegou perto do sucesso alcançado por Ozzy Osbourne e Ronny James Dio. Embora tenha sido comparado, à época, com Dio, canções dos álbuns que tiveram a participação de Martin normalmente passam longe de coletâneas e outros tributos (nem no Spotify você consegue achar algumas). E a releitura de "Heaven in Black" pela TAILGUNNERS faz funcionar muito bem a palavra "resgate" usada aqui. Com personalidade (algo que talvez tenha faltado a Martin, sempre tentando soar como Dio), sem tentar imitar nem um, nem outro, Daniel Roque chega a ter, arrisco dizer, um desempenho melhor do que o próprio Martin. A versão até valoriza mais os riffs criados originalmente por Iommi. E se entre a lista de intenções estava despertar o interesse pelo "Tyr", a meta foi atingida.

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O GENOCÍDIO, clássico nome do underground nacional, oferece uma versão também com personalidade, mas maneirando na "podreira", para "Tomorrow's Dream". É seguida pela UGANGA, com brilhante interpretarão vocal de Manu Henriques, ex-SARCÓFAGO, com "Voodoo", respeitando o legado de DIO, mas impondo o estilo que segue com sua banda (e direito a snippet do BODY COUNT). A ANCESTTRAL peca um pouco por entregar uma versão que lembra bastante a versão do METALLICA para "Sabbra Cadabra", mas isso não é necessariamente ruim. Até lembra que se não houvesse BLACK SABBATH não haveria METALLICA (como a própria banda norte-americana reconhece no seu "Garage Inc."). E então vem uma das melhores do disco, aquelas de fazer chorar (copio aqui o termo do próprio responsável pelo tributo, "Heaven and Hell". Tudo é perfeito na releitura da ORQUÍDIA NEGRA. Parece que os catarinenses passaram a vida inteira se preparando para este momento, porque o resultado é milimetricamente perfeito.

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Com muito peso, a CHEMICAL DISASTER entrega uma eficiente versão bem death-metal de "Iron Man". E não poderia ser diferente. Era o que a clássica canção, reavivada na última década pelo sucesso cinematográfico da Marvel, precisava. Cair na mesmice seria um erro aqui. Assim como a TAILGUNNERS, a HELLISH WAR aborda mais uma da fase Tony Martin, com "Get a Grip" (não, não é o álbum do AEROSMTH), seguida da FOR BELLA SPANKA, que impõe o volume de seus teclados em "Digital Bitch". Além de representar o trabalho de Ian Gillan, a versão faz desejar que o próprio FOR BELLA trate logo de ampliar a mirrada discografia.

A KING BIRD oferece uma empolgante versão de "Supernaut", que vira um hardão de responsa em suas mãos, seguida de outra da era Martin, "Black Moon", com a SYREN, e de uma das, talvez, mais aguardadas, "Neon Knights", com o monstro KORZUS. Nome mais reconhecido entre todos os presentes no tributo, a banda capitaneada por Marcelo Pompeu entrega uma versão cujos adjetivos já começam a faltar para a canção que mudou o BLACK SABBATH para sempre, primeira do primeiro álbum com DIO. Tomara que o quinteto a incorpore no repertório e saia a apresentando ao vivo pelos shows Brasil afora. E o retorno de DIO, na sua segunda fase com o SABBATH, é referenciado pelo PANIC, em "I", com instrumental muito bom.

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A versão de um dos maiores sucessos do SABBATH, "War Pigs" ficou sob responsabilidade dos baianos da MALEFACTOR, que também fizeram uma interpretação com muita personalidade, que já tinha sido divulgada antes, mas você pode conferir novamente no player abaixo.

Assistir vídeo no YouTube

Na segunda parte do tributo, a SILVER MAMOTH abre com "Symptom of The Universe", preservando com muita competência toda a "jazzitude" da original, mas competindo fortemente (mas com dificuldade diante do padrão imposto por algumas de suas pares) pelo posto de uma das melhores do disco. Se não ganha, é, pelo menos, uma daquelas que você volta pra ouvir de novo imediatamente. Isso só não acontece porque é preciso conferir dois ícones do metal nacional, um ao lado do outro, reverenciando os pais do metal. "Taurus" e "MX", com "Cornucópia" e "The Mob Rules" respectivamente. Ver as duas bandas juntas em um festival é algo imperdível. Aqui, então, é mais que isso. E é até óbvio que ambas as versões ficaram sensacionais. A VULTURE, que as segue, não fica atrás com sua versão death para "In For The Kill".

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O Death Metal continua, mas agora com um peso imensurável. O HEADHUNTER D.C, um dos nomes que mais salta aos olhos na lista de bandas dos CDs, mostra que não está para brincadeira com "Electric Funeral". Nada mais apropriado. Não se meta com esses baianos. Eles sabem o que fazem. E no mesmo clima vem a DROWNED com SABBATH BLOOD SABBATH. Numa grande virada, o STEEL WARRIOR mostra como o BLACK SABBATH pode soar power metal com "The Shining", do álbum de estreia de Tony Martin. A diferença entre a original e o tributo é que, enquanto lá, havia uma tentativa de ter um segundo Dio, aqui o que acontece é apenas uma bela homenagem.

Os curitibanos JAILOR, que entraram no tributo substituindo a PANZER, não deixam transparecer nenhuma pressa e dão conta do recado. E com mais peso e velocidade, as icônicas ANTHARES e VOODOOPRIEST jogam luz sobre "Hole In The Sky" e "TV Crimes", que, embora singles de seus álbuns, não conheceram o sucesso que outros singles conheceram. Agora em versões absurdamente Thrash metal, as canções podem fazer frente a unanimidades como "N.I.B", aqui numa versão também mais pesada da ATTRACTHA, mas sem perder aquele baixo que tira todo mundo da cadeira. E não dá pra não destacar aqui também a bateria de Humberto Zambrin, que soa como se os pedais estivessem colados no seu pé do ouvido.

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E o que seria de bandas como NIGHTWISH, EPICA e tudo o que veio a se chamar de metal sinfônico se não fosse o BLACK SABBATH. A responsabilidade de representar esse universo, além de todas as bandas que tem um vocal feminino, é da REVENGIN, com "Headless Cross". E eles dão de tudo para que a missão seja muito bem cumprida. Assim como ocorre com algumas outras bandas participantes, o interesse pela discografia autoral dos cariocas é despertado. A versão contrasta com a da SEXTRASH. Sem interesse por um som limpo (o que no caso deles é, sim, uma vantagem), a banda mineira entrega uma versão podre de "Loner", por acaso, a canção mais recente das homenageadas (faz parte do "13", último full length de estúdio e primeiro com OZZY em décadas). É intrigante que justamente eles tenham escolhido uma das faixas novas e a própria escolha da faixa em meio a outras como "End of the Beginning" e "God Is Dead?" também o é, mas o resultado é espetacular.

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Para fechar o segundo disco e o tributo em si, a ANEUROSE relembra "Psychophobia", do "Cross Purposes" e o principal "show closer" do BLACK SABBATH desde o início da carreira, "Paranoid". Em meio a uma disputa judicial, a faixa vem registrada como executada por uma banda chamada DEMONS OF NOX. Isso em nada atrapalhou a homenagem. E se, nos shows "Paranoid" desperta aquela vontade de que comece tudo de novo, aqui a gente também deseja, mesmo depois de 30 músicas, começar novamente. Bora de "The Wizard" com a OBSKURE de novo? Ou vamos continuar com aqueles discos de Tony Martin que não ouvimos bem? Ou, quem sabe, um dos álbuns autorais das participantes? Se sonharmos ainda adiante, podemos querer um festival de três dias com cada uma dessas trinta bandas.

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Algumas você pode pirar no instrumental, outras no vocal. Isto é gosto pessoal. Minhas cinco versões preferidas (só neste parêntesis me permito citar: por OBSKURE, TAILGUNNERS, ORQUÍDIA NEGRA, CHEMICAL DISASTER e SILVER MAMMOTH) podem ser as cinco que você menos vai ouvir. O que importa aqui é que o nível de produção de cada faixa está bem uniforme e elevado (com algumas exceções até esperadas - a gente quer GENOCÍDIO e SEXTRASH soando exatamente como GENOCÍDIO e SEXTRASH). O que é importante frisar ao final deste texto é que, se o BLACK SABBATH foi a fagulha que deu origem ao Heavy Metal, é, de certa forma, o elemento gerador de cada iniciativa que resultou nestas bandas todas. Estivessem eles trocando fitas nos anos 80 ou, nos últimos anos, enchendo seus iPods ou fazendo listas no Spotify, muito provavelmente cada um deles escolheu ser músico de Heavy Metal por influência direta de bandas como o BLACK SABBATH e conterrâneas (DEEP PURPLE e LED ZEPPELIN, por exemplo). Não haveria JUDAS PRIEST, não haveria IRON MAIDEN, não haveria nem OBSKURE, nem haveria DEMONS OF NOX, a primeira e a última aqui, nem nenhuma das outras que estão entre uma homenagem e outra, se Tony Iommi não tivesse tido que aprender a tocar guitarra sem a ponta dos dedos e criado esse estilo obscuro, empolgante e sem inocência. O BLACK SABBATH está no DNA de cada uma das bandas citadas aqui. E em cada faixa, é perceptível o resultado da influência do SABBATH, sem descaracterizar a original, mas sem oferecer mera cópia (o que seria absolutamente sem sentido). É como olhar a cara de um neto e enxergar os traços do avô. Não como olhar uma foto em preto e branco do sujeito quando jovem.

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E sendo hoje o Heavy Metal dividido em tantos estilos (tradicional, sinfônico, power, thrash, death, black, speed, stoner, doom e até White, NU, grindcore e Hard Rock) também somos convidados a analisar a presença do BLACK SABBATH em cada um deles. Seja através da presença de bandas tão diferentes como HEADHUNTER D.C. e REVENGIN, seja pelo dualismo de suas letras, jogando luz nas sombras e sombras na luz, cada um desses estilos, também deve ao SABBATH a pedra onde construíram suas casas, o alicerce do que foram e representaram. É fato. O DNA do BLACK SABBATH se espalhou e se transformou em todos estes estilos.

E cabe também salientar, que, embora não tenha tentado manter uma ordem cronológica na disposição das faixas, cada fase do BLACK SABBATH recebe uma parcela de tempo aqui. Obviamente, até porque na história da banda também é assim, há mais releituras do que foi feito por OZZY, com DIO vindo logo em seguida, mas Tony Martin, muito bem representado, IAN GILLAN e GLENN HUGHES não foram esquecidos. "Digital Bitch" e "In For The Kill" não me deixam mentir. Não há projeto similar no mundo inteiro.

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Por sua abrangência, pela qualidade das homenagens, pelo peso dos nomes envolvidos, pela reflexão acima, o "Sabbath Brazil Sabbath" é mais que um tributo. É um estudo. É uma busca interna e externa pelo DNA que deu origem ao Heavy Metal e os reflexos na trajetória destas 30 bandas brasileiras. É uma tese. Um doutorado sobre o Heavy Metal no Brasil. Tudo em pouco mais de 2 horas.

Faixas:

1. The Wizard - por OBSKURE
2. Children of the Grave - por LEVIAETHAN
3. Heaven in Black - por TAILGUNNERS
4. Tomorrow's Dream - por GENOCÍDIO
5. Voodoo - por UGANGA
6. Sabbra Cadabra - por ANCESTTRAL
7. Heaven and Hell - por ORQUÍDIA NEGRA
8. Iron Man - por CHEMICAL DISASTER
9. Get a Grip - por HELLISH WAR
10. Digital Bitch - por FOR BELLA SPANKA
11. Supernaut - por KING BIRD
12. Black Moon - por SYREN
13. Neon Knights - por KORZUS
14. I - por PANIC
15. War Pigs - por MALEFACTOR
16. Symptom of the Universe - por SILVER MAMMOTH
17. Cornucopia - por TAURUS
18. The Mob Rules - por MX
19. In For The Kill - por VULTURE
20. Electric Funeral - por HEADHUNTER D.C.
21. Sabbath Bloody Sabbath - por DROWNED
22. The Shining - por STEEL WARRIOR
23. After Forever - por JAILOR
24. Hole in the Sky - por ANTHARES
25. TV Crimes - por VOODOOPRIEST
26. N.I.B. - por ATTRACTHA
27. Headless Cross - por REVENGIN
28. Loner - por SEXTRASH
29. Psychophobia - por ANEUROSE
30. Paranoid - por DEMONS OF NOX

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Álbuns em que as canções apareceram originalmente:

Paranoid (Electric Funeral, Iron Man,Paranoid, War Pigs)

Vol 4 (Cornucopia, Supernaut, Tomorrow's Dream)

Black Sabbath (N.I.B., The Wizard)

Dehumanizer (I, TV Crimes)

Headless Cross (Black Moon, Headless Cross)

Heaven and Hell (Heaven and Hell, Neon Knights)

Master of Reality (After Forever, Children of the Grave)

Mob Rules (The Mob Rules, Voodoo)

Sabbath Bloody Sabbath (Sabbath Bloody Sabbath, Sabbra Cadabra)

Sabotage (Hole in the Sky, Symptom of the Universe)

Tyr (Heaven in Black)

Seventh Star (In for the kill)

13(Loner)

Born Again (Digital Bitch)

Cross Purposes (Psychophobia)

Forbidden(Get a Grip)

The Eternal Idol (The Shining)

O lançamento oficial será dia 27 de junho e terá uma prensagem única. Para adquirir o "Sabbath Brazil Sabbath...The Brazilian Tribute to Black Sabbath" os interessados devem reservar a obra entrando em contato com a gravadora (link abaixo). O valor será de R$ 40.00, já incluída a despesa de envio.

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Para reservar os CDs entre em contato através do link abaixo:

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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