The Prodigy: injeção de punk na dance music
Resenha - Day Is My Enemy - Prodigy
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 07 de março de 2018
E não é que já se passou uma geração desde o single de estreia do The Prodigy, em 1991? Charly começou a escalada do trio inglês do underground das raves para o estrelato mundial do elogiado álbum Fat of the Land (‘98).
Detonando o bom-mocismo da dance music oitentista, o Prodigy misturou electronica, techno, hip hop, funk, rock, punk, hardcore e junto com compatriotas como o The Chemical Brothers promoveu música dançável mais agressiva e instigante. Arautos alternativos, Liam Howlett, MC Maxim e Keith Flint tiveram impacto tremendo na zona fronteiriça entre underground e música "de massa" e influenciaram diversos subgêneros dançáveis como o Big Beat.
Após hiato de 7 anos, os caras de Essex lançaram The Day Is My Enemy no final de março, de 2015. Era questão de saber se o The Prodigy ainda possuia alguma relevância, afinal, o cenário da música eletrônica era bem distinto do mundo pré-Skrillex de 2008. O dubstep reinou no pedaço e perguntava-se se ainda haveria espaço para "sujeira" e raiva descendentes diretas da música punk, na assepsia bem comportada da geração EDM. Havia, porque The Day is My Enemy entrou em primeiro na parada britânica e no Top 5 da parada dance/eletrônica da Billboard.
O álbum começa com The Day is My Enemy. O Prodigy pegou dois versos de canção de Cole Porter, cantados numa voz anos 40,50 e bombardeou-a com batucada digital malévola, teclados ameaçadores e toda sorte de efeitos bolados. The Prodigy definitivamente deve ser evitado por quem associa dance music e fofuras saltitantes para pleiboizinho e guelzinha curtirem na balada de Camaro amarelo.
Nastyen abre com aquela guitarra meio suspensa – marca registrada do Prodigy – para estourar em percussão jungle e vocal descendido de Johnny Rotten. Para comprovar suas raízes punk, o álbum tem faixa chamada Destroy, lema dos Pistols em Anarchy in the UK. Mas a pegada aqui é mais Techno mesmo.
Rebel Radio é pura rave music insana infestada de vocais robotizados como os ouvidos nos shows do Kraftwerk. Ibiza é bombardeio de sons de vídeo game nos DJs do requisitado paraíso espanhol, faceless, bonitinho e cheirosinho demais para o Prodigy. What’s ‘e fuckin’ doin’?. A porrada de Rok-Weiler, antes de ser influenciada pelo dubstep, mostra de onde veio o movimento. Confira a virada da percussão no início. Urgente, nervosa, é The Prodigy no seu mais revoltado e raivoso; ótima.
O defeito de The Day Is My Enemy é sua duração. Difícil manter a inspiração em quatorze faixas, então, de Wild Frontier em diante, temos que viver no intercalo de canções boas com outras nem tanto. O resultado é que ao final do "Dia" a sensação é de certo enjoo.
Ainda relevante, o The Prodigy veio com tanta sede ao pote que exagerou no jato d’água disparado. Mas, basta deletar algumas chaticezinhas que dá um excelente disco para botar os exus para fora!
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